Capítulo 41

794 66 4
                                    

Me agachei no chão frio, envolvendo a cabeça com as mãos enquanto uma tontura avassaladora tomava conta de mim. O quartinho parecia um depósito abandonado, repleto de coisas jogadas e esquecidas, assim como eu me sentia naquele momento. O ar parecia rarefeito, e cada respiração se tornava mais difícil. Desde aquele último acontecimento terrível, onde Henry me prendeu no porão, eu desenvolvi uma aversão a lugares fechados.

Por que ele sempre acha que tem esse direito sobre mim?

Suspirei fundo, lutando contra a sensação de claustrofobia que me invadia. Era como se as paredes do quartinho estivessem se fechando sobre mim. Desesperada, revirei minha bolsa em busca do meu celular. Assim que o encontrei, comecei a discar o número de Beth repetidamente, mas ela não atendia. Meu desespero crescia enquanto olhava os contatos. Não conhecia ninguém ali, além de Treves e Nicolas. Treves tinha apagado o número de Nico.

— Vou ficar bem — murmurei para mim mesma, fechando os olhos com força, tentando bloquear a voz de Henry que começava a ecoar em minha mente. As lembranças dele me jogando no porão invadiram minha memória, e eu segurei minha cabeça, tentando manter o controle.

— Dy, você tá aí? — Uma voz baixa surgiu do outro lado da porta, e eu me levantei rapidamente, batendo na porta para que soubessem que eu estava ali.

— Se afaste — ordenou a voz, e eu obedeci, dando alguns passos para trás. Segundos depois, a porta foi chutada com força e Nico apareceu, olhando para mim com preocupação e raiva.

— Mas que porra — ele xingou, se aproximando. — Você está bem?

— Estou bem... apenas vamos sair daqui — respondi baixo, sentindo minha voz rouca.

Saímos do quartinho e olhei ao redor. Tudo parecia normal, ainda mais agitado. As meninas gritavam animadamente enquanto vários carros competiam, as músicas altas e a fumaça enchiam o ar. Geme baixinho e passei a mão no rosto, me virando para Nico com um sorriso torto.

— Obrigada... agora eu tenho que ir.

— Está fugindo de Treves? — ele perguntou sem rodeios, e eu pensei por alguns segundos antes de acenar com a cabeça. Não sabia por que estava fugindo de Treves, só sabia que queria manter distância dele.

— Eu te levo pra casa — ele ofereceu, desviando o assunto de Treves.

Olhei para ele e concordei com a cabeça. Antes que pudesse me virar, Nico segurou meus braços e tirou sua própria jaqueta, entregando-a para mim.

Olhei para ele por alguns segundos e me senti triste. Nico era tão diferente, gentil e legal. Diferente de Treves, que fazia tudo para me arruinar.

Mas por que eu não conseguia parar de pensar nele? Era como uma maldita maldição que ele lançou sobre mim, uma droga viciante que cada vez que eu provava, sentia que perdia a cabeça. Eu deveria odiá-lo, e Deus sabe que o odeio, mas ele não sai da minha cabeça.

— É pro frio — Nico disse, sorrindo com a jaqueta ainda estendida para mim. — Sua roupa não está muito longa e está ficando tarde.

Peguei a jaqueta, mas antes que pudesse vesti-la, ele deu alguns passos na minha direção. Seu corpo grande se inclinou para frente enquanto ele arrumava a jaqueta ao redor de mim.

— Obrigada — agradeci baixinho, e ele abaixou o olhar, fixando-o em meu rosto antes de dar um sorriso simples e se afastar.

— Você fica me devendo — disse ele, e começamos a andar. Automaticamente, meus olhos se voltaram para onde estava acontecendo a corrida, e suspirei.

Eu precisava urgentemente me controlar.

— Como soube que eu estava aqui? — perguntei.

— Digamos que eu conheço bem o Treves — ele respondeu simples, dando de ombros.

— Ele é louco. — Abaixei a cabeça e murmurei para mim mesma.

Nico escutou e riu.

— Treves apenas tem problemas de se expressar, então quando ele não entende alguma coisa, ele age com impulsividade e até agressão — sua voz era baixa, e eu virei a cabeça olhando para ele.

— Você parece conhecer ele muito bem.

— Somos amigos, claro que vou conhecê-lo bem — ele respondeu, como se não fosse nada demais.

— Não sei porque você anda com ele. Vocês são tão diferentes — murmurei, tirando uma mecha de cabelo do meu rosto.

— Não tão diferente quanto você pensa — ele respondeu, e sua voz parecia um pouco triste, mas ele disfarçou com um sorriso. — O Treves é um cara legal, mesmo tentando disfarçar.

Revirei os olhos lentamente.

— Imagino se ele não fosse legal.

— Todos têm o seu lado perverso, Dy... E Treves também tem o seu lado legal, mas é difícil mudar quando você já está acostumado com algo. Para Treves, tudo tem que estar sob o controle dele, e quando algo não sai como ele quer, ele surta. Acho que ele não ficou feliz de me ver tão próximo de você — Nico disse, e eu pensei por alguns segundos, mas antes que pudesse responder, Jack apareceu e sorriu olhando para mim ao lado de Nicolas.

— Agora entendo porque o Campbell estava tão distraído. Aliás, ele ganhou a corrida, aquele cara é louco — Jack disse e desviou os olhos de mim para olhar para Nico. — Vocês não perdem tempo, né meu amigo? — deu uma tapinha nas costas dele, e eu olhei para Nico, vendo-o revirar os olhos e em seguida dar um sorrisinho quebrado.

— Estamos indo — ele disse, e Jack quase engasgou com a bebida que estava bebendo.

— Mas já? — ele perguntou, surpreso.

Nico ergueu as sobrancelhas.

— Estou levando-a pra casa — ele esclareceu, e Jack sorriu, levantando o corpo pro alto.

— Vocês que sabem, mas a festa está apenas começando — ele disse, com um entusiasmo que contrastava com a tensão que eu sentia.

Eu apenas assenti, sentindo um misto de alívio e ansiedade por deixar aquele lugar. Enquanto Nico me guiava para longe da multidão e do barulho, eu não pude deixar de olhar para trás, procurando por Treves na multidão. Não o vi, e algo dentro de mim se apertou. Por que eu ainda me importava com o que ele pensava ou sentia?

— Dy, você está bem? — Nico perguntou, notando meu olhar distante.

— Estou... só estou cansada — menti, forçando um sorriso.

Intenções Perversas Onde histórias criam vida. Descubra agora