Capítulo 78

3.6K 245 106
                                    

Alguns dias depois.

— E aí, princesa — escuto a voz de Henry de forma sarcástica e levanto a cabeça, olhando para ele. — Seu namoradinho está aí na porta.

Por que ele está aqui?

Não terminou de brincar comigo o bastante?

O que mais ele quer de mim?

— Diz a ele que não estou aqui, por favor — peço baixo, sentindo como se a minha cabeça fosse explodir. Ele me olha em silêncio por alguns segundos.

Eu queria questioná-lo, mas o mais velho não me dá tempo e se vira.

— Não sou seu empregado e é melhor fazê-lo parar de bater naquela porta porque estou com uma dor de cabeça dos infernos — ele apenas disse e saiu andando, não antes de bater a porta com força.

Me levanto, suspiro fundo e vou até o closet pegar um moletom. Termino de vestir a blusa e saio do quarto indo para fora.

Assim que saio, encontro Treves com a cabeça encostada na parede e suas mãos puxando seus cabelos para trás. Assim que ele percebe a minha presença, ele rapidamente vem em minha direção.

— Dy — ele chama meu nome, suspirando aliviado, e me puxa com força para um abraço. Eu permaneço parada, talvez eu não tivesse mais forças para fugir. — Desculpa, eu juro por Deus, não é o que você está pensando... — ele começou, sua voz em pânico, e sorri.

— O que estou pensando? — ele pegou em meus ombros de leve e me olhou seriamente.

Ele não respondeu e voltou a me puxar desesperado para seus braços, mas dessa vez eu o empurro com força.

— Tudo bem, Treves — garanto, tentando forçar a minha voz a sair. — Eu não estou com raiva... apenas tenho que me acostumar — digo e tento entrar, mas ele me puxa de volta.

Seus dedos foram ao encontro dos fios escuros dos seus cabelos e ele balança a cabeça. Ele realmente triste.

O que é engraçado.

— Eu transei com Shana, não vou negar — ele tirou uma mecha de cabelo na frente do meu rosto — mas em minha defesa ela me drogou e se aproveitou de mim.

Mesmo que fosse verdade, isso não mudava alguma coisa, não muda e nunca vai mudar o fato de que para ela ter conseguido chegar tão longe ele deu algum tipo de intimidade.

— Eu não estou pedindo explicações, Treves — murmurei cansada — eu apenas quero ir embora e esquecer de tudo.

Eu esperava que ele dissesse algo como o bom mentiroso que ele é, mas ao invés disso me puxa para perto e me beija com força.

Eu grito e tento me libertar, mas ele continua a me beijar com ferocidade, me dominando completamente.

Envolvo os braços ao redor do seu pescoço, me entregando completamente ao momento, sentindo a intensidade do beijo e o calor de suas mãos em meu corpo. Cada toque dele desperta uma sensação de raiva, culpa e tristeza, e quero me afastar, mas não consigo.

Estou completamente viciada no seu corpo contra o meu, no seu cheiro, o cheiro que odeio tanto, mas que estou perfeitamente ciente de que quero senti-lo ainda mais perto de mim, quero que ele me toque.

Aperto-o contra o meu corpo, procurando mais contato. E em resposta, ele abraça minha cintura com força e se delicia ainda mais em meus lábios, como se não quisesse mais nada e eu fosse a única que ele quer, como se ele fosse um viciado e eu sua droga favorita.

Eu não posso evitar a sensação de ter milhares de faíscas ardendo em minha barriga, deixando minha pele arrepiada. Nossos corpos se pressionam um contra o outro, e é como se o tempo tivesse parado, e só existíssemos nós dois ali, juntos, sem Shana, sem Samantha ou qualquer outra pessoa. Apenas eu e ele.

Quero me perder nesse instante e esquecer de tudo ao meu redor. Sinto um frio na barriga, uma emoção avassaladora que me faz tremer ao pensar que estou prestes a perdê-lo para sempre.

Não posso perder algo que nunca foi meu.

Minha mente lembra, fazendo meu coração acelerar de uma forma dolorosa.

Eu o empurrei com todas as minhas forças e ele me soltou, cambaleando para trás.

— Você quer que eu me ajoelhe? — ele perguntou com a voz rouca, os olhos fixos nos meus. — Tudo bem.

Eu pensei que ele estivesse blefando, mas ele realmente se ajoelhou na minha frente. Ele parecia exausto, seus cabelos  úmidos caindo colados na testa, sua camiseta amassada como se tivesse acabado de sair de uma briga.

Por um segundo, apenas um segundo, eu quis abraçá-lo e esquecer tudo o que ele fez.

— Eu não fiz aquilo por vontade própria, Dy. E sei, porra, eu sei que isso não justifica a merda que eu fiz, mas eu preciso que fique comigo — ele implorou, me fitando com olhos desesperados e a voz quebrado.

Olhei para ele uma última vez, sentindo uma mistura de raiva e tristeza, antes de virar as costas e entrar na casa, trancando a porta atrás de mim.

Agora, tenho que me acostumar a voltar a viver minha vida, sem Treves Campbell e toda essa bagunça que ele me envolveu.

— Amor é uma droga, não é? — Henry suspira, olhando para mim com olhos cansados.

Assim que entrei em casa, meu primeiro impulso foi correr para o quarto, me trancar e chorar até não conseguir mais respirar. Mas a voz de Henry me fez parar. Ele estava sentado no sofá, uma cerveja entre os dedos, e me observava com uma expressão que eu não conseguia decifrar.

Tentei ignorá-lo e continuar meu caminho, mas ele fez um gesto para que eu me aproximasse. Eu poderia ter recusado, mas algo em seu olhar me fez caminhar até ele e me sentar ao seu lado, como se, por um breve momento, fôssemos bons amigos. Ele me ofereceu a cerveja, que recusei com um aceno de cabeça.

Uau.

Eu devia estar realmente muito quebrada para Henry ser tão gentil comigo. Desde que minha mãe e eu nos mudamos para cá, essa era a primeira vez que conseguia ficar perto dele sem sentir medo ou raiva.

— Aquele idiota não valia a pena. Vai por mim — murmurou, levando a bebida aos lábios.

— E o que você sabe sobre essas coisas? — perguntei, olhando para minhas mãos. — Pensei que só soubesse bater e gritar com os outros.

Em outras circunstâncias, jamais ousaria falar assim com Henry, mas meu coração estava tão machucado que uma briga não faria diferença. Esperei que ele gritasse ou fizesse algo típico dele, mas, em vez disso, ele riu.

— Talvez seja por isso que eu sei que ele é um idiota, porque eu também sou um.

— Por que está fazendo isso?

— Fazendo o quê?

— Sendo legal.

Henry olhou para mim por três ou quatro segundos, depois balançou a cabeça como se algo dentro de si tivesse lembrado de algo.

— Às vezes, a vida faz pessoas boas ficarem ruins, mas eu não sou tão mal assim.

— Diz isso para a garota cuja vida você transformou em um inferno — suspirei fundo e passei as mãos no rosto. — Quer saber, não sei realmente por que estou aqui conversando com você...

— Talvez, no fundo, você goste da minha companhia.

— Ah, não, eu não gosto não.

Terminei de dizer e me levantei com a intenção de ir para o quarto.

— Eu sinto muito por isso — ouvi Henry murmurar baixo e parei com os meus passos. — Se eu pudesse voltar ao passado, acredite, eu realmente tentaria mudar as coisas.

— Eu não aceito as suas desculpas e provavelmente nunca vou aceitá-las — olhei para ele por cima do ombro. — Mas agradeço por hoje, mesmo não entendendo o que rolou, agradeço.

~~~

Gente, apenas sigam o roteiro que prometo que as coisas não são o que parecem.

Intenções Perversas Onde histórias criam vida. Descubra agora