Capítulo 36

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Eu estava cansada das conversas das meninas. Shana estava se equivocando com o Treves; não era possível que ele tivesse sentimentos por ela... Isso não fazia sentido. Por que ele insistia tanto comigo? Por que ele dormiu comigo? Eu sei que estou sendo boba, não significa nada, mas ainda assim, mexeu comigo.

Respiro fundo e me sento no chão frio do telhado, cruzando as pernas e começo a tirar os livros da bolsa. O silêncio é interrompido apenas pelo som abafado dos passos no corredor e o ocasional virar de página.

- Eu não sei se você é burra ou é só o seu jeitinho de me seduzir - a voz dele ecoa, carregada de um sarcasmo familiar.

Não preciso me virar para saber que é Treves. O garoto que eu mais odeio... e que mais mexe comigo. Estou confusa, mais do que deveria estar em relação a ele.

- Não sou burra, e não estou tentando te seduzir. Longe disso, quero que você fique longe de mim - digo, mantendo meu olhar fixo nos livros. Mas só Deus sabe como meu coração estava acelerado.

Dizia que queria que ele ficasse longe, mas ali estava eu, na toca do lobo. Precisava dele mais do que podia admitir.

Sentia-me envergonhada de todas as formas possíveis, mas era algo que não conseguia evitar.

Ele se aproxima, e eu sinto seu perfume antes mesmo de vê-lo sentar-se ao meu lado. Seu corpo inclinado sobre o meu, sua presença é quase opressiva. Ele é atraente, dolorosamente atraente.

Algo havia mudado desde ontem. Eu estava parecendo uma das garotas ingênuas que o seguiam, que topavam tudo com ele.

Eu não sou assim.

- Engraçado você dizer isso quando está em um dos lugares onde mais fico nesta merda. Fala a verdade, pastorinha, diz que você me quer por perto - ele sussurrou, sarcástico, e avancei os olhos.

- Não posso admitir algo que não é verdade - retruquei.

-Ah, tudo bem. Eu não vou te obrigar a admitir nada, entendo que está gostando desse joguinho. Te dá o gostinho do proibido - ele diz, e eu reviro os olhos, irritada.

- Você se acha tanto assim? O mundo não gira ao seu redor, Treves - respondo, tentando me concentrar nos livros.

Ele se afasta, deitando-se no chão com os braços atrás da cabeça, um sorriso presunçoso nos lábios. Ele sabe exatamente o que está fazendo comigo.

- Não precisamos brigar cada vez que nos encontramos, sabia disso né, pastorinha? - ele questiona, me olhando com uma atenção que me sufoca.

Eu não quero estar aqui com Treves, mas também não consigo sair. É como se uma força invisível me puxasse para ele.

- Diz o garoto que não consegue ficar perto de mim sem me insultar e me fazer sentir idiota - digo com firmeza, querendo que ele entenda que eu não quero nada dele.

- Eu te faço se sentir idiota? - ele pergunta, ignorando tudo o mais que eu disse.

- De todas as formas possíveis - respondo.

- É justo que você se sinta assim - ele dá de ombros.

- Por quê?

- Porque você me faz sentir coisas piores, pastorinha.

Eu queria perguntar quais coisas, mas me calo.

- Estudando o que? - ele pergunta de repente.

- Para a prova - respondo, ainda irritada. - E você, nunca estuda? Raramente te vejo em aulas.

- Então andou me vigiando? - ele provoca, e eu luto para não revirar os olhos novamente.

- Você tem que brincar com tudo?

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