Capítulo 89

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Você quer saber qual o sentido de saber que essa é a última vez que você terá a chance de ver e abraçar as pessoas que você ama?

Bom, é aterrorizante, muito aterrorizante. Você se sente com medo, um flashback dos últimos 17 anos, e sabe de uma coisa? É engraçado, porque nesses seus últimos suspiros você olha as coisas de uma forma diferente.

Eu sempre fui uma boa filha, eu sempre fiquei na bolha de felicidade que meu pai era um homem perfeito e ele é incrível, mas talvez não tenha sido o marido e companheiro que minha mãe estivesse procurando. Eu não estou justificando o erro da minha mãe ter o esquecido tão rápido e principalmente ter ficado com um homem como Henry, mas eu não sou ninguém para atirar pedras nela. Eu a culpo por não ter me protegido melhor, por não ter ficado mais do meu lado, mas eu não a julgo.

Quanto ao Henry... eu acho que gostaria de tê-lo conhecido em outras circunstâncias, quem sabe talvez fôssemos amigos?

No fim das contas, percebi que ele é apenas alguém que se tornou amargo pelas circunstâncias que a vida colocou no seu caminho.

A igreja, Beth, minha mãe, Nico, até Jack e Donovan, eu sei que não vou poder me despedir, e isso dói. Dói saber que eles vão ter uma vida da qual eu não farei parte

Treves Campbell.

O que eu posso dizer dele? Eu acho que eu já disse tudo que eu tinha que dizer, mas no final acho que nenhuma palavra é suficiente pra descrever o que eu realmente sinto por ele. Uma loucura, uma coisa intenso como fogo...e eu faria qualquer coisa pra ser a senhora Campbell.

Eu o quero e ainda o quero como nunca quis ninguém. É egoísmo, mas não quero ir embora e deixá-lo. Não vou aguentar vê-lo feliz... sem mim.

O destino é um pouco cruel. Eu poderia oferecer uma família a ele, poderia dar a ele o que ele nunca teve. Mas eu o tirei sem ter a oportunidade de segurar o seu filho em seus braços, sem dizer o primeiro "eu te amo" para essa criança.

Há dias em que imagino como seria abortar esse bebê. Eu sei que está errado, não é o certo, mas quem estou enganando? Desde o momento em que meu coração desejou aquele cara, não faço escolhas certas.

Mas, Deus, eu realmente não quero me livrar desse bebê. Não quero que ele morra... Eu não quero isso, eu...

Nunca quis algo assim, desejar que esse bebê viva.

Mesmo lutando para não fechar os olhos, é como se alguém do outro lado estivesse me puxando. Não vejo nada e, lentamente, meus olhos se fecham. Estou lutando, mas no fundo, sempre soube o final dessa história.

Dizem que a última pessoa que aparece em nossas memórias é a pessoa que mais amamos. Não duvido disso, e estou feliz por ser o Treves Campbell.

Eu daria tudo que tenho nesta estante para ver o Treves, abraçá-lo e dizer que eu o amo e que eu sempre fui dele... mas eu não tenho essa chance e tudo que me resta é me conformar em passar o resto da eternidade com o vazio de que o meu amor estará feliz, terá as coisas que eu sonhei com ele, e parte de mim está feliz, mas a outra quer fugir da morte e reencontrar-lo de novo e de novo.

"Qual o seu nome?"

Um garotinho tão jovem, mas parecia tão perdido que mesmo que eu estivesse morrendo de vergonha, tudo que eu queria era consolá-lo e dizer a ele que tudo vai dar certo... eu não sei quais eram os seus fantasmas, eu nem sequer o conhecia, mas eu realmente queria que ele encontrasse o seu caminho e que ele esquecesse das coisas que tanto o atormentavam.

"Treves" ele respondeu simples e me sentei ao seu lado, nossos ombros se tocando levemente. Estendi minhas mãos para me apresentar tambémm

"Daysha" pensei por um segundo "mas você pode me chamar de Dy como todos me chamam."

Ele finalmente se virou para mim, seus cílios tremulando enquanto seus olhos negros investigavam os meus. Era como se ele pudesse ver além da superfície; por fim, apertou minhas mãos com uma força delicada, como se tivesse medo de me quebrar.

"Pastorinha" ele murmurou, e eu não entendi o porquê de querer me chamar assim. Mas, o fato de ele finalmente estar sorrindo me fez concordar com a cabeça, sorrindo também.

E naquele momento, mesmo sem entender completamente o que é amor, mesmo sem saber quem era aquele garotinho à minha frente, eu soube que Treves Campbell seria a fonte da minha felicidade ou a razão da minha perdição.

E no fim ele foi os dois...

Tínhamos tudo para não dar certo, e no fim, não deu certo, mas sei que, mesmo que pudesse escolher, escolheria que as coisas fossem assim.

É para ser ele, não importa o quanto eu negue, não importa o quanto eu lute. Sempre foi o Treves.

Em 17 anos eu conheci muitas pessoas, gostei de muitas coisas, vivi muitas experiências, tive muitos sonhos, mas a única verdade é que nunca vou gostar de alguém ou algo como amo Treves Campbell. Podemos não ter a chance de ficarmos juntos, mas ainda assim o meu corpo e coração lhe pertencem... nesta ou na minha próxima vida, sempre será ele.

Estou pronto para ir, mas é realmente difícil ir embora quando tudo grita para você ficar.

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