— Você veio — diz ela, assim que eu cheguei perto.
Shana estava sentada numa mesa afastada, com um copo que continha um líquido rosa. Parecia ser algum tipo de bebida alcoólica, mas não perguntei.
— Você me chamou para vir — respondi, puxando a cadeira e me sentando de frente para ela.
A lanchonete estava quase vazia naquele horário. Apenas um homem distraído no seu computador e uma garota lendo um livro, ignorando o mundo ao redor.
— Mas achei que você não se importaria o bastante para vir por mim.
— Ah, Shana, não vem com isso de novo — soltei, passando as mãos pelo cabelo para afastar algumas mechas que atrapalhavam minha visão. — Já disse que superei isso, então vamos esquecer, tá legal?
Ela me olhou em silêncio, seus olhos pareciam procurar algum erro, algum defeito.
— Você é tão perfeita, não é? — sua pergunta me pegou de surpresa, e ergui as sobrancelhas. — Quero dizer, por mais que eu tente achar algo errado em você, sempre acabo encontrando algo de bom, e isso... me deixa mal comigo mesma.
— Ninguém é perfeito, Shana — esclareci, olhando diretamente para ela.
— Sim, claro — murmurou baixo, olhando para a bebida à sua frente. — Seria errado eu dizer que não me arrependo de ter dormido com Treves?
O tom de voz dela estava baixo, quase como se finalmente estivesse admitindo isso para si mesma.
Mesmo sabendo que ela não estava me olhando, meus olhos estavam fixos nela. Sua aparência, seu jeito.
Tudo nela é tão maravilhoso. Por que estragar tudo isso por um cara?
— Acho que eu sei disso — minha voz saiu tão baixa que pensei ter apenas pensado, e não dito em voz alta.
— E ainda assim... — fez uma pausa e me olhou. — Você me perdoou.
— Pensei que isso faria você sentir o quanto eu me importo com você.
— Você nem me conhece há tanto tempo assim — respondeu, debochada.
— Você nem conhece Treves há tanto tempo assim — devolvi.
Ela levantou a cabeça mais uma vez, os olhos escuros me avaliando.
— E preciso de tempo pra amar uma pessoa? — perguntou, e eu neguei com a cabeça. — Por que você tinha que estragar tudo?
— Você sabe que mesmo se eu estivesse fora da jogada, ele nunca te amaria — falei, e ela suspirou, cansada. Por que as coisas sempre têm que ser assim?
Parece que estamos em uma grande roda-gigante que não para de dar voltas e voltas.
— Na minha vida, parecia que sempre faltava algo, sabe? — ela perguntou, mordendo os lábios com força. — Ninguém nunca se importava o bastante pra me perguntar como eu estava. Eu digo que estou bem, que já superei, e todos acreditam. — Ela passou as mãos no rosto por alguns segundos e suspirou, forçando um sorriso. — Hora de te levar pra casa.
— Não precisa mentir pra mim, não preciso que diga que está bem... pode falar comigo, Shana, eu vou te ouvir.
— Quer que eu comece a falar sobre o quão quebrada o seu namorado me deixou? Quer que eu diga o quanto ele me usou como se eu fosse uma boneca idiota? — Sua voz se alterou, e sem esperar uma resposta, pegou sua jaqueta e saiu.
Deixei uma nota de 30 na mesa e saí atrás dela, encontrando-a parada de costas para mim, de frente para o seu carro.
Eu me sinto triste pela Shana. Não sei pelo que ela teve que passar, mas a forma como seus olhos pareciam vazios me mostrou que ela realmente não iria superar o que aconteceu com o Treves tão rápido.
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Intenções Perversas
RomanceDaysha Cupper, uma jovem evangélica de 17 anos, que enfrenta a mais dolorosa das dores: a perda de seu pai. Envolta em luto e lutando contra a depressão, ela se isola, buscando refúgio em sua própria solidão. Mas o silêncio de sua alma é perturbado...