Capítulo 21

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A claridade do amanhecer mal conseguia penetrar as cortinas, criando um jogo de luz e sombra que dançava pelas paredes do quarto. Acordei com um sobressalto, sentindo o peso de braços fortes ao meu redor. Por um instante, pensei que estava segura no meu próprio quarto, mas então, os olhos de Treves encontraram os meus, e a realidade caiu sobre mim como um balde de água fria.

Ele estava ali, tão perto que eu podia sentir o calor de sua respiração, seus olhos fechados e um semblante tranquilo que não combinava com o caos que ele sempre trazia consigo. Mas o que diabos ele estava fazendo aqui? Me lembro perfeitamente de ter ido para a cama sozinha, e agora ele está aqui, com seus braços ao redor da minha cintura como se pertencessem ali.

— T-Treves? — minha voz saiu mais suave do que eu queria, e ele se mexeu, mas não acordou. Eu precisava sair dali, voltar para casa antes que a minha percebesse que eu não estava lá.

Tentei me soltar, mas ele me segurou mais forte, como se até mesmo em seu sono, ele soubesse que eu estava tentando escapar.

— Sai de cima de mim! -  gritei, finalmente encontrando minha voz, enquanto lutava para me libertar de suas garras.

Ele abriu os olhos lentamente, parecendo confuso por um momento antes de a realidade se estabelecer em seu olhar.

— Sempre acorda gritando assim? - ele perguntou, uma ponta de sarcasmo na voz.

Não respondi, apenas tentei me levantar novamente, mas ele me puxou de volta, um sorriso presunçoso brincando em seus lábios.

— Nem um bom dia antes?

Revirei os olhos e tentei me afastar novamente, mas as mãos dele estavam cravadas ao redor da minha cintura, segurando-me com uma força que não deixava dúvidas de sua intenção de me manter ali. Cansada da luta, soltei um suspiro profundo, e a lembrança do beijo de Treves invadiu minha mente, um lembrete cruel do quão perto ele havia chegado de me desarmar. Por um segundo, malditei-me por permitir que aquele momento me afetasse.

Mas foi uma vez, uma única fez que nunca voltaria a se repetir.

Com uma mistura de raiva e vergonha, encarei-o com olhos flamejantes.

— Como ousa entrar aqui? O que você fez comigo enquanto eu estava dormindo? - minha voz era firme, mas tremia com uma vulnerabilidade que eu detestava admitir.

Treves me encarou, seu rosto endurecendo como se minhas palavras fossem golpes que ele não esperava. Mas então, algo em seu olhar se quebrou, e um riso sem humor e quebrado escapou de seus lábios enquanto ele me soltava e se levantava. Ele caminhou até o sofá, onde uma camisa branca simples estava jogada, e começou a vesti-la.

Por um mísero segundo, não pude evitar de olhar para ele. Ele era tão alto e, mesmo desarrumado do sono, havia algo nele que atraía meu olhar involuntariamente. Meus olhos traíram minha curiosidade, deslizando para a tatuagem que adornava a parte superior de sua barriga e seu peito, e sem que eu percebesse, um suspiro escapou de meus lábios.

— E parece que você estava louca para que eu fizesse algo com você. - ele disse e saiu, batendo a porta com força.

Me levantei às pressas, o coração ainda acelerado, e verifiquei minhas roupas. Um suspiro de alívio escapou dos meus lábios ao ver que ainda vestia as mesmas roupas de ontem. Meus olhos percorreram o quarto, absorvendo cada detalhe do espaço luxuoso que não combinava com as memórias que eu tinha de Treves. A cama king size, as cores suaves das paredes, os móveis elegantes — tudo gritava riqueza e bom gosto.

"Desde quando ele ficou tão rico?" perguntei a mim mesma, a curiosidade queimando dentro de mim.

Corri para fora do quarto, seguindo o som da voz de Treves. Ele estava parado no corredor, o celular pressionado contra o ouvido, gritando com uma voz baixa que era para supostamente eu não escutar.

— Já disse, caralho, eu não vou botar os pés aí e que se foda o Hart com essas merdas —   Ele parou abruptamente, virando-se para me encontrar parada ali, ouvindo sua conversa. Seus olhos reviraram com irritação antes de desligar o aparelho.

— Pra uma pastorinha, você é muito fofoqueira, não acha? — ele zombou, e eu fiz uma careta, puxando meu vestido mais para os joelhos enquanto me aproximava.

— Eu tenho que ir pra casa agora, obrigada... — murmurei, virando-me em direção à porta.

Mas ele foi mais rápido, agarrando meu cotovelo e me puxando de volta com uma força que me fez tropeçar contra ele. Sua voz era um sussurro rouco, perigosamente próximo.

— Vem, eu vou te levar pra casa.

Com a testa franzida, olhei para ele e levantei as sobrancelhas.

— Se continuar a fazer coisas assim, vou começar a pensar que você não me odeia de verdade.

Ele se abaixou, ficando na altura dos meus olhos, e aproximou o rosto, os lábios a um dedo de distância.

— Isso com certeza não seria uma boa jogada, já que você é amarrada em caras maus.

— E quem disse que eu gosto de caras maus? — retruquei, minha voz falhando no final.

— Seus olhos, seus lábios, seu corpo — ele sussurrou, e eu senti o calor de sua respiração contra minha pele. — Eles nunca mentem, mesmo quando sua boca tenta. Você sempre volta pra mim, pastorinha.

Fiz uma careta e me afastei, cruzando os braços sobre o peito enquanto o observava com uma expressão séria.

— Se foi pelo que aconteceu ontem… — comecei, mas ele já estava se afastando, suas mãos encontrando as chaves em cima de uma mesinha no centro do corredor, ignorando-me completamente.

— Eu não disse que iria com você. — Minha voz saiu mais brava do que pretendia, uma tentativa de mascarar a confusão que sentia por dentro.

— Não foi um pedido, Dy. - ele parou e se virou para encarar-me, sua expressão indecifrável.

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