— Abram o livro na página 5. — Sr. Scott, com sua voz monótona, quebrou o silêncio da sala.
O som das páginas virando preencheu o ar, mas meu olhar vagou pela sala. Graças a alguma divindade, uma força maior, eu estava livre da presença do Treves. Em vez disso, estava cercada por olhares esnobes de garotas que pareciam ter saído de uma capa de revista.
A aula se arrastava, e eu me perguntava por que o silêncio me incomodava tanto. O professor, imerso em sua leitura, parecia tão entediado quanto eu.
— Srta. Cupper.
A voz firme do Sr. Scott me fez saltar da cadeira, quase caindo no chão. Por que eles sempre têm que chamar a atenção quando estamos distraídos?
Todos os olhos estavam em mim, esperando uma resposta. Uma garota com pele escura com cabelos cacheados apontou discretamente para a lousa, onde estava escrito: "Quem somos."
— Ah... isso é uma pergunta? — Minha voz saiu incerta, e a sala explodiu em risadas, exceto pelo professor que me olhava seriamente.
O professor me encarou com seriedade e se aproximou.
— Sim, é uma pergunta. E eu gostaria que você respondesse para a turma quem você é.
Eu hesitei, as palavras se perdendo em minha mente.
— Acredito que sou... uh... — comecei, mas fui interrompida.
— Qual é o sentido da vida? — ele perguntou, aumentando a pressão.
— Acredito que o sentido da vida seja... para nos conhecermos? — respondi, mais como uma pergunta do que como uma afirmação.
— Volte para o seu lugar. Preste mais atenção na aula.
Após uma série de humilhações que pareciam intermináveis, finalmente consegui escapar da aula do Sr. Scott. Enquanto todos arrumavam suas bolsas, meus olhos se fixaram na garota que havia me ajudado antes. Havia algo nela que se destacava.
Ela era deslumbrante.
— Eu sou Dy Cupper, obrigada pela ajuda mais cedo — disse, estendendo a mão em agradecimento.
Ele lançou um olhar rápido e acenou com a cabeça, deliberadamente ignorando meu gesto. Baixei a mão, sorrindo sem graça.
— Shana, meu nome é Shana — ela murmurou de repente.
— Você é novata? — perguntei, curiosa.
Ela balançou a cabeça e riu, estendendo a mão para mim. Apertei com um sorriso.
— Eu sou aluna intercambista do Haiti.
— Que legal... Você é muito bonita, mas acho que não sou a primeira que já te disse isso — disse a verdade, e ela riu.
— Obrigada... quer almoçar comigo? — ela perguntou.
Era para eu estar esperando pela Beth, mas parece que ela estava atrasada. Eu e Beth só temos as mesmas aulas na segunda-feira, o que é um pouco chato.
— Claro...
Caminhávamos em direção ao refeitório, eu e Shana, conversando sobre muitas coisas. Por exemplo, ela tem dezoito anos, mas repetiu um ano quando veio para cá... Os pais dela não puderam vir, então ela está ficando temporariamente na casa dos seus tios e depois pretende procurar um lugar só para ela. Era legal como ela era uma garota independente. Conversamos e rimos de piadas bobas sobre o que nos ocorreu. E mesmo que a gente não se conhecesse há muito tempo, Shana é muito legal e divertida.
Pela primeira vez aqui neste colégio, consegui manter uma atmosfera leve, agradável e legal. Mas a tranquilidade foi interrompida quando um grupo de garotas, lideradas por uma chamada Mergan Devlin, esbarrou em mim de propósito.
Desde que entrei neste colégio, Mergan sempre pareceu me odiar. E concretamente, eu nunca fiz nada para ela.
Ela acha que tem o direito de ser a rainha abelha, eu não ligo e nunca fiz nada, não que eu saiba, para ela; pelo contrário, sempre tentei ficar longe dela, mas ela sempre encontrava uma maneira de me colocar em uma situação desconfortável.
O mingau quente se espalhou pela minha camisa, e eu pude sentir a umidade pegajosa se infiltrando no tecido branco. Ela sorriu, perguntando com uma falsa preocupação:
— Está bem, queridinha?
Eu apenas acenei com a cabeça e forcei um sorriso, respondendo que sim. Não queria dar a ela a satisfação de me ver abalada. Elas se viraram para ir embora, mas Morgana se aproximou de Shana e disse, com um tom venenoso:
— Aconselho você a ficar longe dela, a esquisitice dela pega.
Eu olhei para Shana, esperando ver algum sinal de hesitação, mas ela apenas sorriu para mim e se aproximou, ignorando o comentário maldoso.
— Pelo que parece, a esquisita aqui é você — eu ri disfarçadamente e Shana pegou minha mão, me arrastando para fora do refeitório.
— O que fazemos? — ela perguntou, já dentro do banheiro, tentando me ajudar a esfregar a camisa branca. — Tem sorte que não estava quente.
Por que eu usei essa camisa hoje? Inspirei fundo e comecei a tirar a camisa.
— Parece que a mancha ficou maior — ela diz e pegou a camisa em minhas mãos, esfregando-a.
Sentei no vaso e envolvi as mãos na cabeça.
— Olha, desculpa te envolver nessa situação — disse sem olhar para ela.
Ela se aproximou e me afastei, dando espaço para que ela pudesse sentar.
— Tá de brincadeira? — ela perguntou, séria — essas garotas são horríveis e aposto que só estão com inveja ou ciúmes de você.
— Por que alguém como Devlin teria ciúmes de alguém como eu?
— Por que ela não teria? — ela diz e se levantou, indo até a pia lavar a blusa. — E agora? O que vai vestir?
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Intenções Perversas
RomanceDaysha Cupper, uma jovem evangélica de 17 anos, que enfrenta a mais dolorosa das dores: a perda de seu pai. Envolta em luto e lutando contra a depressão, ela se isola, buscando refúgio em sua própria solidão. Mas o silêncio de sua alma é perturbado...