Gostaria de agradecer a todos que tiram um pouco de seu tempo para ler este livro ♥
O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete.
Aristóteles
Corretor ortográfico = ewertonalves93
Mentiras
Dentro do salão o clima era animador. O velho Nada sorria, pois sabia que agora tudo se tornava claro e seus planos caminhavam em direção à solidez. Ele tomava vinho tinto feito da melhor uva do reino juntamente com seus comandados, que riam ao brindarem entre si com suas taças de vidro com detalhes a ouro, quando sentiram um forte vento frio e uma presença quase desfalecendo, penetrando o castelo. Logo em seguida o general incumbido de encontrar o tal espião apareceu totalmente acabado. Seu rosto completamente queimado era quase irreconhecível, junto à salmoura que corria entre suas feridas. Metade de suas vestes havia sido queimada e colada à sua carne, e seu ombro sangrava muito. Ele se esforçava para erguer a cabeça, ficar de pé e olhar o velho Nada, e também o comandante Borys, que o repreendeu com fúria em suas sobrancelhas frisadas ao chão, vendo o sangue que escorria pelas pernas de Henrys se juntar no desnível do granito.
- Mas o que houve Henrys? – Perguntou Borys sério, caminhando em direção a ele.
- Meu senhor! Encontramos o espião que procurávamos. O nome do maldito é Petrycos. – Disse ele quase desabando enquanto limpava o sangue de sua narina esquerda.
- Você está louco Henrys? Já encontramos o maldito intruso, a mais ou menos duas horas. Antes que o pegássemos o infeliz se matou com a própria adaga.
- Senhor, encontramos alguém e seguimos sua presença. Era um bruxo extremamente poderoso e tudo indicava que era ele quem procurávamos.
- Não, seu idiota. Este alguém fez vocês o encontrarem. Provavelmente queria informações e você as deu, seu inútil! – disse Borys se aproximando mais, segurando o cabo de sua espada e trincando os dentes de raiva.
- Dei o meu melhor para derrotá-lo, eu juro. Mas tínhamos níveis diferentes. Não havia como!
- Você perde uma batalha que não mandei lutar, e na minha frente admite seu fracasso, ao invés de ter lutado até a morte.
- Precisava guardar forças para chegar aqui e revelar o nome dele. Achava que era a missão, saber pelo menos quem era a pessoa.
- Entendo você general, eu entendo. – disse Borys pisando sobre o sangue em frente à Henrys.
- Então o senhor sabe que dei o meu melhor. Sempre me dôo ao máximo à nossa causa.
- Eu sei... você deu o seu melhor sujando minha sala de sangue, me envergonhando na frente do meu senhor e do meu velho amigo. – Disse Borys colocando a mão esquerda sobre o peito do general, olhando-o sedento em ódio – Desapareça! – disse ele conjurando "interni ignis", se afastando lentamente – Olhe e sinta o preço do seu fracasso, seu inútil.
Henrys esbugalhou os olhos, cheio de medo, e começou a gritar de dor. Em segundos sua boca ficou amarela como fogo, e sua pele tomou tons avermelhados feito brasa viva. Seu corpo foi sendo vagarosamente queimado de dentro para fora, trazendo um cheiro horrível de carne queimada em meio a gritos de agonia, até que ele não pôde mais esboçar sua dor. No final restaram apenas suas cinzas sobre o granito a frente de Borys, que sorria levemente, enojado ao ver que seu fiel soldado se transformara em nada perante seus olhos.
- Desculpem-me por esta cena miserável, odeio este tipo de incidente. Espero que nunca mais aconteça. Não tinha ideia de que ele era tão fraco assim.
- Tudo bem Borys. – disse Nada se lembrando o quão mau e violento era seu Terceiro Cavaleiro.
- Mas agora vamos tratar do que falávamos há pouco: da guerra. – disse Avalyos mudando o assunto, para quebrar o gelo do momento.
- Certo. – Disse o velho Nada antes de tomar o resto do vinho de sua taça – Borys mande investigar sobre quem é esse tal Petrycos e me mande um relatório, tudo bem?
- Conte comigo.
- Então vamos falar da guerra. – disse Nada sorrindo – Vamos continuar com os planos.
- Perfeito senhor, esta é a palavra. – Falou Avalyos.
- Borys, reúna o exército que fica de prontidão na cidade e os moradores que puderem vir. Quero que faça um discurso inflamado. Vamos acusar de traição o reino Únifico e os seus conselheiros. Assim os mataremos em frente ao povo, para mostrar justiça. E como traição não precisa de julgamento, ainda hoje os executaremos. – Disse o velho Nada para os dois à frente.
- Isso é uma ótima ideia, senhor. Perfeita. – disse Borys desaparecendo do salão, dando a ordem ao rei, que se levantou de seu trono.
- Guardas! – Chamou ele, e imediatamente um grupo de poderosos soldadores se aproximou – Chamem meu Primeiro general Kankyo. Digam a ele que dentro de duas horas quero que os seis mil bruxos do exército que protege a cidade estejam no jardim de mármore. Digam a ele que o reino Únifico atentou contra mim a mando do rei Parks, e não serão perdoados por isso. Depois chamem todos da cidade para que vejam o que irá acontecer antes que o Sol se deite atrás do deserto.
- Sim senhor – disse um dos bruxos saindo rapidamente em busca de seu general. Os outros se dividiram por entre a grande cidade dando a ordem do Rei a todos que estampavam curiosidade em suas faces, esperando o tal pronunciamento real.
- Já estou me retirando Borys, o resto é com você. E você sabe o que deve ser feito. – disse Nada, olhando para o falso rei logo em seguida. Avalyos o segurou nos ombros e ambos desapareceram em meio a uma imensa explosão de vento, indo em direção ao castelo nas Montanhas Geladas.
- Paladinos! – Disse o rei, sob o perfeito controle mental de Borys – Preparem as guilhotinas e chamem o carrasco-real. Hoje mataremos aqueles que atentaram contra a vida de seu rei e contra o reino.
Imediatamente todos concordaram, pois eles conheciam a pena para aqueles que atentassem contra a lei e a ordem, ou contra o próprio rei.
- Senhor quem será executado? Preciso saber para avisar o carrasco e preparar a cerimônia – disse Erik, um jovem bruxo da guarda real, um pouco apreensivo.
- Meu fiel paladino, hoje os quatro conselheiros morrerão, por conspirar contra seu próprio reino apoiando o reino Únifico em uma invasão em massa que estava para ser iniciada daqui a seis luas cheias. – disse o Rei levantando seu olhar para o jovem, que se encheu de raiva ao ouvi-lo.
- Assim será feito, meu Senhor – o Rei despertou um leve sorriso diabólico, olhando para o jovem.
- Vá agora, e organize tudo com o carrasco. Espero notícias logo mais, e se estiver tudo certo coloque as guilhotinas em frente ao jardim.
As horas se passaram como o vento no vasto deserto, e bem antes do pôr-do-sol todos os bruxos estavam devidamente preparados, frente ao grande castelo. Em meio às grandes palmeiras, a população se reuniu ao exército de seis mil bruxos para ouvir o pronunciamento. Não demorou para que o Rei surgisse da penumbra das portas do palácio, imponente como o vento que balançava seus cabelos loiros. Logo em seguida três Generais das Trevas surgiram à sua esquerda, os quais seriam seus novos conselheiros, agora trajando roupas reais. E no lado direito mais dois generais apareceram junto ao verdadeiro general Kankyo, que não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas obedeceria e defenderia o jovem Rei com unhas e dentes, pois foi o que prometeu no leito de morte do antigo rei, cerca de três anos antes. Alguns minutos se passaram e em frente do palácio cerca de trinta mil pessoas se juntaram, se apertando em meio às estátuas que ficavam perto do grande lago. Algumas dessas pessoas eram viajantes curiosos que ficaram na cidade para presenciar o discurso real e matar a curiosidade, bem como toda a população yverynyana. Todos eles olhavam atentamente para o exército, que trajava seus marcantes uniformes marrons e verdes, com seus sobretudos negros balançando contra o forte e quente vento da tarde. Por fim, a cidade toda se colocou em silêncio, a espera do pronunciamento real. Através dos olhos do jovem rei Yryo, os olhos de Borys brilhavam de emoção.
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CARIEL
FantasíaEm uma terra onde a desconfiança e a paz andam lado a lado, dois povos vivem separados por um único pacto, selando não só a boa nova entre homens e bruxos, mas também a prosperidade e a boa vontade de um Deus. A cada 500 longos anos este pacto tem d...