Capítulo Final - Entre homens e Deus

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                                                    Entre homens e Deus


Yvys perseguia pela noite algum rastro de poder deixado pelo poderoso Cariel, até chegar aos limites de uma das últimas florestas entre o reino únifico e o reino de Abyzaham, conhecidas como Terras Frias. De repente uma presença aterradora passou por ele, a ponto de arrepiá-lo; era Cariel, ou outro cavaleiro das trevas. Mas aquele poder se assemelhava e muito ao poder puro cujo qual ele procurava. Sem demora ele se teletransportou, surgindo ao cume de uma grande montanha que imperava acima da planície coberta pela nevasca. Cariel seguia rumo ao horizonte a meia distância, em uma meditação constante; o poder emanado dele era tão forte que as pedras levitavam e se concentravam ao redor, provocando leves tremores que se estendiam até a encosta da montanha. Suas vestes negras se embalavam calmamente pelos ventos, em um contraste com o sol, que já a certa altura se encontrava envolto em grandes nuvens brancas.
Uma densa serração se formava lentamente, como se um tapete fosse lentamente abaixado rente a montanha, oferecendo algum destaque às outras montanhas ao longe, com seus picos esbranquiçados pelo clima do reino de Abyzaham. Assim que Yvys se aproximou sem dizer nada Cariel parou, mantendo seus olhos fechados.  

- Quem o mandou até mim? – questionou ele ainda de costas, fazendo com que as pedras e blocos de terra rolassem precipício abaixo – Somente Cavaleiros das Trevas podem me encontrar, mas sinto que você não é um de nós. Como pôde me localizar?

- É um prazer conhecê-lo, Cariel. Até hoje pude apenas escutar boatos sobre você. - Dizia Yvys enquanto se aproximava, visivelmente receoso.

- O que deseja? Diga de uma vez! – ordenou Cariel, preparando-se para ir embora.

- Escute-me; quero ajudá-lo! – Yvys se pôs à beira do penhasco – O que você sente agora? Dúvidas, insegurança, medo... Algo grita a seus ouvidos que tudo que você tem feito nos últimos meses está completamente errado. Seus desejos mais puros sumiram, seu maior amor já não importa mais, o sonho de ser pai não mais o cativa. Algo sussurra a seus ouvidos que tudo isso não passa de meras promiscuidades que o deixam fraco.

- Quem é você?

- Há pouco tempo eu era um velho louco sedento por mais poder, que sempre fugia dos pedidos das pessoas, algumas delas talvez fossem como você. Mas fui agraciado com um privilégio que ninguém mais terá; morri e ressuscitei sessenta anos mais jovem. Meu nome é Yvys, e ainda estou aqui porque este mundo clama por sua ajuda, Cariel.

- Meu nome você já sabe, então me diga o que realmente trouxe você até mim.

Yvys deu um pequeno sorriso, e antes que Cariel percebesse a ponta do dedo indicador daquele bruxo estava em sua têmpora esquerda.

- O que pensa que está fazendo?! – Cariel tentou se desvencilhar de Yvys, enquanto observava um leve tom esverdeado tomando conta dos olhos dele.

- Estou te trazendo à razão. – respondeu Yvys – Não gosto de enigmas, então irei mostrá-lo tudo que eu pude ver até hoje. Escute com atenção: meu maior poder sempre foi uma espécie de onisciência, mas não é tão simples assim. Não tenho como saber de tudo que existe, mas se eu toco em qualquer objeto ou pessoa posso saber, até certo tempo no passado, o que ela fez ou deixou de fazer, o que a tocou e assim por diante. – Yvys mantinha Cariel sob controle com um poder inimaginável, até mesmo para aquele jovem bruxo das trevas extremamente poderoso – Esta habilidade me tornou um bruxo quase intocável; conhecendo os medos dos meus inimigos eu os destruiria facilmente, e para isso, bastava um simples toque. Mas havia um limite; eu nunca poderia ultrapassar determinado tempo de uso, porque perderia a consciência. Para ser mais preciso, eu apenas podia ver cinqüenta anos no passado. Com o passar do tempo fui envelhecendo, e descobri na meditação uma forma de evoluir ainda mais meus poderes. Por isso me isolei de tudo e todos, e finalmente obtive meu maior êxito. Podendo ver cento e cinqüenta anos; vi coisas, aprendi, evolui, me tornei um grande e poderoso bruxo, mas ainda almejava mais... Há cinco anos entrei em conflito com general das trevas que pereceu na batalha. Pude saber dele que havia uma espada, a mesma que há dois mil anos cortou o braço do Rei Filyp, e que uma simples parte dela poderia alimentar de uma forma surreal os poderes de quem a possuía. Isso me deixou alucinado; eu queria aquela lâmina de qualquer jeito, então comecei uma investigação e descobri a existência de uma organização que realmente usava essa lâmina. Um de seus integrantes havia passado por um hotel costeiro em Abyzaham. Seu nome era Elton, mas ele era sorrateiro; só pude vê-lo uma vez, conversando com alguém que ele chamava de Pai. Falavam coisas aleatórias, ou por algum código do qual eu não faço ideia. Mas o que ouvi, claro como água, foi a seguinte frase: os únificos precisam dele vivo. Depois disso tive certeza do que eu procurava, e não foram poucas as vezes em que eu imaginava como seriam minhas habilidades junto a esse artefato milenar. Após uma procura exaustiva, descobri que o reino de Argamo guardava dois fragmentos dessa espada; o primeiro, pequeno, se encontrava em fácil acesso. O outro estava muito bem protegido, mas através das minhas habilidades descobri todos os pontos fracos da fortaleza, depois de tocar em um dos encarregados da segurança. De alguma forma o reino de Argamo tinha conhecimento dos poderes da lâmina, mas se sentiam receosos em usá-los, por isso eles guardavam os dois fragmentos como algo sagrado, vindos do próprio Deus. Preferi pegar o que estava mais desprotegido; ainda pude ver o outro pedaço em uma sala em frente, mas ele estava protegido por uma runa de poderes cujos quais eu não queria enfrentar àquele momento, então só o primeiro me fora suficiente.

CARIELOnde histórias criam vida. Descubra agora