Capítulo - 37 O Pedido de um Deus

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Mesmo desacreditado e ignorado por todos, não posso desistir, pois para mim, vencer é nunca desistir.

Albert Einstein


Corretor ortográfico   =ewertonalves93



Ao fundo do grande castelo Nada continuava a orar fervorosamente ao seu deus, no silêncio de sua morada. A chama das velas começara a crescer vigorosamente, e o fogo se direcionou rapidamente para o centro do quarto, à frente do velho bruxo, que continuava de olhos fechados, mas percebia o calor ao redor e um forte clarão incessante. Nesse momento uma voz impetuosa sussurrou em sua mente, assustadoramente grave.

- Então me chamaste. Estou aqui mais uma vez, Josué.

- Meu senhor! Há quanto tempo! – exclamou o velho. 

Ele abriu os olhos, se levantou, e lentamente caminhou em direção às chamas, que queimavam como o próprio Sol. Imediatamente suas vestes e sua pele começaram a queimar feito papel, mas seu corpo se regenerava na mesma velocidade, como se o mesmo fosse a fonte da vida.

- É muito difícil me projetar aqui neste mundo. Já lhe contei minha história e não vou contar outra vez. Há dois mil anos você tenta me trazer de volta, e por uma vez quase conseguiu, mas infelizmente fracassou, perdendo os objetos que com dificuldade te ajudei a encontrar, gastando um pouco da energia que me resta. Mas relevei afinal você não falhou, e sim foi levado a falhar pelos malditos únificos. Agora tens uma chance com nosso plano e o feitiço que lhe dei, mas para isso precisará da outra metade da pedra que está com seu amigo, o qual você permitiu ser derrotado e aprisionado.

- Meu grandíssimo Deus, ele está para ser liberto, posso afirmar.

- Assim espero... Mas há uma falha no véu, feita pelo tal Cariel. Coincidência ou não, essa falha será minha fuga desta prisão, desde mundo espiritual que me corrói.

- Meu senhor, não seria arriscado? E como Cariel poderia ter feito tal proeza?

- Seria... Se eu deixasse tudo em suas mãos, Josué. Ou Nada, como você prefere. Mas escute bem: não deixe o plano. Continue caso algo dê errado. Eu tenho outra saída à que você está preparando. Entendeu?

- Sim senhor, entendi. Mas qual seria a porta que Cariel sem querer abriu para Vossa Magnitude?

- Eu posso ver quase tudo que acontece nesse mundo, afinal sou um deus, a Perfeição, o Bem e o Mal, o Início e o Fim. O símbolo Anarquismo que lhe ensinei ajuda os Generais das Trevas a usar uma minúscula fração das minhas habilidades. Dessa forma seus poderes são ampliados, diferente dos Cavaleiros das Trevas, que têm parte do meu poder, mas não podem usá-lo por completo, pois eles não suportariam. Por isso um é mais forte que o outro. Quem tem a maior resistência absorve mais poder. Quanto a você, seus poderes vêm de algo além de mim.

- Sim, eu sei senhor.

- Carie fez algo que eu desconhecia, quando ele teletransportou sua esposa para fora do castelo. Sem querer ele fez um marca do anarquismo em seu filho. Essa marca, por ser minha, fez em mim uma poderosa ligação com o feto, e percebi que posso me transferir para o corpo da criança pouco a pouco até o final da gestação, através da ligação que Cariel possibilitou entre mim e sua criação. 

- Isso é incrível! Mas o que será do filho dele?

- Filho dele? – perguntou a voz em um sorriso estranho – Deixará de existir assim que eu me passar por completo a ele. 

- Entendo, senhor. – disse Nada um pouco apreensivo.

- Agora, meu filho, seu Deus tem tuas grandes chances de se libertar e sentir o cheiro do mundo mais uma vê. A partir de hoje não serei mais seus olhos em todo o mundo, pois começarei a me transferir para o feto. Assim um deus nascerá, e este mundo o chamará de pai. Cuide da jovem Ariane como se ela fosse uma rainha a espera de seu soberano. Mantenha sempre os olhos sobre ela, pois ela poderá ser a salvação do nosso mundo.

De súbito, a voz desapareceu. O fogo intenso distribuiu-se em chamas que retornaram às velas instantaneamente. O corpo de Nada emanava calor e uma fumaça negra, que saia de seus poros. Ele virou-se em direção às escadas e viu pingos de cera nos degraus. Imediatamente percebeu o que havia acontecido, pois sentia nas escadas a presença de Cariel desaparecendo em milhares de partículas negras. Pois o dia já havia amanhecido, e ele tinha muito que falar ao jovem bruxo. 

O Sol já começava a penetrar pelas gretas das cortinas negras do quarto de Cariel, mas o frio ainda era assombroso. A neve insistia em cair lentamente sobre os pinheiros em frente ao castelo. Foi quando Cariel acordou assustado, por medo de perder a hora; seu quarto ainda estava sob uma leve penumbra. Ele se vestiu rapidamente, e desceu até a grande sala. A lareira já queimava vigorosamente, e em sua frente um bruxo alto e forte estava à sua espera, com as mãos estendidas e um sorriso no rosto. Aparentava ser velho por causa da grande barba que exibia.

- Bom dia. – disse Cariel ao bruxo, que andou até o pé da escada e olhou Cariel de baixo para cima, analisando-o.

- Bom dia. Eu sou Amaloky, um dos Cavaleiros das Trevas que o treinará. Nada me deu uma missão: ajudá-lo na cidade para que você não cometa nenhum tipo de idiotice em nome do amor. – disse ele sorrindo enquanto coçava sua longa barba grisalha. – Você tem muito poder, muito mesmo. Precisa saber usá-lo para termos a oportunidade de libertar nosso outro mestre. Precisamos de você, então coopere comigo e seremos companheiros.

- Eu tenho uma pergunta; por que vocês mesmos não o libertam? Todos aqui são absurdamente fortes. – disse Cariel, se aproximando de Amaloky, que despertou um pequeno sorriso.

- Porque você matou o único bruxo das trevas que estava treinando a mais de quinhentos anos para libertá-lo, e nenhum de nós tem as qualidades necessárias para libertá-lo, exceto o bruxo que você matou por acidente. E se eu não me engano você já sabe bem disso. Mas como vou ser o seu mestre, vou lhe dizer algumas coisas que você tem, mas não sabe usar, começando com seus poderes relacionados com o relâmpago e o fogo. Nenhum dos Sete tem este poder, exceto o Nada. – disse ele aproximando-se da mesa, que estava repleta de pães e bules de chá. – No Grande Infernus há apenas dois bruxos com este poder, e apenas um pode dominá-lo perfeitamente, por enquanto. Você já deve ter escutado algo sobre o general Varyos. Ele domina perfeitamente o relâmpago, atribuindo sua velocidade ao seu corpo, e ainda conjura fogo. Em breve, garoto, tornaremos você tão forte quanto qualquer um de nós. – ao dizer essas palavras, um sorriso calmo brotou do rosto do jovem. – Mas mudando de assunto, tome café, aproveite. Temos de tudo aqui. Como Nada já disse, mais tarde você verá sua esposa.

- Obrigado. – agradeceu Cariel, recolhendo o sorriso.

- Não há de quê, meu jovem. Sinto que vamos ser grandes amigos. – disse Amaloky enquanto saía, ainda tomando seu chá.

As horas passavam como raios. Cariel mal tomou seu café e percebeu que já estava na hora. A impaciência começava a ser um monstro devorador daqueles que consomem apenas o desejo, a paz e o sossego. Então o velho Nada apareceu repentinamente na sala, em frente ao jovem, que sentia o momento mais esperado de sua vida se aproximar como um furacão, o arrancando de seu lugar e o lançando às alturas desconhecidas.


Ate domingo gente 

CARIELOnde histórias criam vida. Descubra agora