Capítulo 8

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Alicia havia acabado de almoçar, logo após um banho quente bem mais longo que o normal para tirar todos os resquícios de sujeira que havia nela. Depois de secar seu cabelo o melhor que podia com a toalha, porque se havia uma coisa que ela odiava essa coisa eram secadores de cabelo, ela comeu e foi para a clínica. Já passava do meio dia quando ela entrou vestindo uma blusa azul com mangas ¾ e uma gola oval. Encontrou Talitha sentada atrás da mesa da recepção com um de seus livros aberto a sua frente e um copo de chá nas mãos.

Talitha era a filha mais nova da melhor amiga de sua mãe, Catarina Borges. Catarina tinha 59 anos e seu marido caminhoneiro havia falecido num acidente de carro quando a filha tinha 4 anos. Ela ainda tinha um filho mais velho, Renato de 36 anos formado em administração e que era o gerente geral da maior agencia bancária da cidade. Hoje Talitha tinha 22 e cursava uma faculdade de enfermagem semipresencial, para pagar o curso ela trabalhava na recepção da clínica.

Alicia pagava a ela meio salário mínimo e não exigia horários. A garota estava registrada em meio período e elas entraram num acordo verbal de que ela poderia chegar e sair quando precisasse. A única exigência da veterinária foi que Thalita não chegasse depois das 9h nem saísse antes das 15h. Em compensação ela permitia que a garota passasse quase o dia todo estudando e usasse a rede de computador da clínica para assistir suas aulas teóricas online.

- Boa tarde Litha – cumprimentou ela pegando seu jaleco de mangas curtas e vestindo-o antes de se aproximar da garota – Como vão os estudos? – questionou se sentando na ponta da mesa onde da recepção.

- Boa tarde, Alicia – sorriu a menina de olhos castanhos escuros, cabelos longos e negros e pele branca – Vão bem, tenho que ir na quarta para as aulas práticas essa semana, adiantaram as aulas. Já falei com Dona Marta sobre isso porque você não estava quando eu cheguei. Foi distocia? – ela perguntou curiosa.

- Foi quase isso – falou a veterinária suspirando, ainda se encontrava cansada do esforço em ajudar o potro a nascer – Lembra daquela égua do velho Augustus?

- A Lua? – perguntou a garota para confirmar – Lembro, ela é linda. Você tinha comentado quando eles fizeram a inseminação. Foi com ela o problema? – perguntou a garota assustada e fechando seu livro para dar atenção à sua "chefe" que era mais uma amiga do que qualquer outra coisa.

- Pois foi – falou Alicia puxando uma das cadeiras da sala de espera e se sentando ao lado da mesa – Me deu um grande trabalho. O potro era enorme. Ela começou com sinais de cólica que descobri que era início de contração, mas do jeito que foi a apresentação do quadro parecia mais início de aborto. Como o potro já estava bem adiantado eu induzi o parto. Quando saí de lá ele estava mamando e ela parecia bem, espero que não haja nenhuma complicação. Aquele pequenininho me deu um trabalhão – contou a veterinária cruzando os braços sobre a mesa e deitando sua cabeça sobre eles.

- Eu espero nunca presenciar o dia em que você vai perder um filhote – riu a garota bebendo seu chá que ainda estava bem quente – Tenho certeza de que ele e ela vão ficar muito bem. Mas e como vai ser agora? Com o velho morto algo vai acontecer com o Giulio e o resto dos funcionários. Teve notícias do que vai acontecer com o Rancho?

- Bom, sei que meu pagamento vai sair – comentou ela com um tom divertido, mas depois ergueu a cabeça apoiando o queixo sobre o dorso das mãos e fixando um ponto na parede logo sobre o telefone da recepção – Saindo de lá ouvi uns comentários. Parece que o Sr. Augustus tinha dois sobrinhos-netos, mas não sei dizer se eles vão querer manter o Rancho. Ninguém sabe bem sobre isso ainda, parece que apenas Giulio tem alguma noção, mas ele não falou nada com ninguém ainda.

- Espero que eles não acabem com o Rancho. É um dos lugares mais bonitos da região – comentou Talitha distraída olhando para a expressão pensativa e quase perdida no rosto da amiga – O que você acha que eles farão?

- Não tenho ideia – ela comentou ainda com o olhar perdido – Não sei que tipo de pessoa é o homem, mas – Alicia fez uma pausa e pareceu ainda mais pensativa o que fez Talitha reparar ainda mais nas expressões dela – Não sei, ela dificilmente me parece o tipo que ficaria num lugar como o Rancho – ela sussurrou a última frase tão baixo que se fosse um dia quente e o velho ar condicionado estivesse ligado Talitha não teria compreendido.

- Ela quem, Alicia? – perguntou a garota com um sorriso divertido pela expressão perdida nos olhos da veterinária – Você conheceu a sobrinha do velho Augustus?

- Anh? – murmurou ela confusa erguendo a cabeça e olhando para a mais nova sem entender o que ela havia dito e vendo a menina gargalhar.

- Porque essa cara de quem bebeu um garrafão de vinho e não pode dormir ainda? – perguntou Talitha ainda rindo – O que te deixou tão avoada assim?

- Nada, nada me deixou avoada – Alicia retrucou sentando-se corretamente e cruzando os braços com o cenho franzido – Eu vi a moça, a sobrinha do Augustus, antes de sair do Rancho. Ela foi lá saber como estava a égua. Mas não acho que vá ficar por aqui. Não me parece o tipo de pessoa que queira ficar numa cidadezinha minúscula. Pelo que entendi ela mora numa cidade grande em Minas. Parece que ela e o irmão são gente de dinheiro. Duvido que vão querer se embrenhar na fruticultura e assumir o rancho – falou ela dando de ombros e se levantando deixando Talitha ainda com um riso contido – Se me dá licença vou ajeitar minha sala de exames porque tenho uma consulta marcada para daqui uma hora.

- Ali! – chamou a mais nova se inclinando sobre a mesa e apoiando seus dois cotovelos sobre ela com um sorriso divertido no rosto – A moça era bonita?

Alicia soltou uma gargalhada alta e deu ascostas para a garota fazendo-a rir junto. Mas antes de entrar pela porta de suasala ela olhou na direção da mesa da recepção e ergueu o polegar fazendoTalitha gargalhar outra vez e rir ainda mais quando viu a veterinária piscar oolho direito com um sorriso sem graça antes de fechar a porta.C

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