Quando Maia entrou em seu quarto sua mente ainda estava confusa. Ela virou-se fechando a porta e soltou um suspiro assim que se virou novamente na intenção de ir até sua cama. Mas algo chamou sua atenção e seus olhos se voltaram para a cadeira em frente a mesa próxima a porta. Pendurada no encosto da cadeira estava a jaqueta preta que Alicia tinha lhe feito usar na noite anterior. Seus pés a levaram até a cadeira e ela pegou a peça pesada de couro notando que estava seca devido ao tecido ser um tanto impermeável.
Ela caminhou em direção à cama, sentou-se no colchão, largou a muleta encostada no criado mudo e segurou a jaqueta com as duas mãos. Sem se dar conta ou pensar a respeito ela ergueu a peça até seu rosto, o forro interno contra seu nariz. Inspirou o cheiro do perfume misturado ao cheiro de Alicia que ainda estava impregnado no forro interno da jaqueta e seus dedos apertaram o tecido. Respirou mais algumas vezes e então soltou um riso baixo abrindo os olhos e encarando a jaqueta. Sua mente começava a assimilar o que estava acontecendo com seus sentimentos.
Sentou-se na cama cobrindo as pernas com o cobertor e se recostando contra os travesseiros. Seu notebook que estava no criado mudo foi alcançado e colocado sobre suas pernas. A jaqueta estava pousada ao seu lado na cama. Precisava distrair sua mente para não se perder em pensamentos. Necessitava de um tempo para absorver o que achava estar sentindo e repassar tudo continuamente não estava ajudando. Ligou o computador e, enquanto esperava ele iniciar, sua mão direita pousou sobre a jaqueta. A peça seria a responsável por ela ver Alicia novamente mais rápido.
Abriu algumas planilhas de custos que precisava avaliar e começou a trabalhar. Ficou concentrada, parcialmente, nisso por algum tempo. Antonieta chegou no meio da manhã e subiu para vê-la, logo depois lhe trouxe um chá de hortelã antes de deixa-la sozinha outra vez. Maia encarou as planilhas na tela e soltou um longo suspiro pousando a caneca com o chá sobre o criado mudo antes de pegar a jaqueta outra vez. Entretanto, antes que pudesse fazer qualquer coisa o ícone de chamada de vídeo pelo Skype surgiu em sua tela mostrando a foto de seu melhor amigo dos tempos da faculdade.
Enzo cursara literatura e haviam se conhecido quando um professor que lecionava aos dois cursos integrou as turmas dos cursos de História e Literatura em uma matéria comum a ambos e os colocou em duplas mistas para realizarem um projeto a ser entregue como nota do semestre. Na época ela tinha 21, ele 23, e durante as tardes em que se encontraram na biblioteca da instituição acabaram por construir uma sólida amizade que, infelizmente nunca foi muito bem vista nem aprovada por sua mãe ou seu irmão.
Ela se formara um ano após o amigo, na época ele já não estava mais na cidade. Havia se mudado para São Paulo e trabalhava em uma escola pública dando aulas de literatura a quase 4 anos. Pelo fato da mãe não aprovar o amigo Enzo sempre evitava visitar Maia em casa o que restringia o contato de ambos à faculdade e as vezes em que ela o visitava em seu singelo apartamento próximo ao campus. Mas, mesmo após a mudança, eles não perderam contato e conversavam todos os dias por mensagens. Além de, uma vez por semana pelo menos, fazerem uma chamada de vídeo para mantarem a saudade.
Maia já deveria saber que o amigo falaria com ela em algum momento naquele dia, afinal, já faziam quase 8 dias que não se falavam. Mas sua mente, focada em coisas completamente diferentes, se esqueceu disso e ela foi pega de surpresa pela chamada, mas não poderia rejeitar o amigo. Além de que parte de si queria que ele lhe passasse coragem para falar sobre o que se passava em sua mente pois sabia que Enzo poderia lhe ajudar. Mas outra parte de si ficava envergonhada até ao pensar em iniciar o assunto.
- Oi amigo – falou ela com um pequeno sorriso após aceitar a chamada e a imagem de Enzo aparecer em sua tela.
- Oi meu anjinho – respondeu o rapaz que agora tinha os cabelos muito mais curtos do que na época da faculdade – Como está? A festa de ontem foi boa porque vejo olheiras nesses olhinhos verdes – ele completou apontando o indicador para a câmera como se apontasse para os olhos dela.
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Argentum [EM REVISÃO]
RomanceAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...