O silencio acompanhou as duas durante o restante do caminho, cada uma delas perdida em seus próprios pensamentos sobre o que haviam acabado de dizer e ouvir. Alicia tentando entender que repercussões aquela declaração de Maia teria em si mesma. Já a mais nova tinha uma bagunça mais confusa em sua mente ao finalmente admitir aquelas coisas a alguém já que não as havia admitido daquela forma nem a si mesma antes.
Maia tinha plena consciência da dificuldade que teve nos dias anteriores relacionadas ao fato dela aprender a cavalgar. Também tinha completa noção do quão difícil e diferente estava sendo da primeira vez que havia tentado. Quando, naquela tarde, a veterinária a havia puxado para fora em direção a um redondel ela sequer se lembrava de realmente sentir medo. Havia uma hesitação, mas não medo. E nos últimos dias havia perdido as contas de quantas vezes havia se vestido de forma adequada para montar e desistido no último momento de pedir que alguém selasse algum animal.
Ela não conseguia entender a si mesma quando o assunto envolvia Alicia Ferraz e isso a estava deixando preocupada e confusa de uma forma que nunca havia ficado antes na vida. Não sabia porque razão, quando teve a veterinária ao seu lado, não havia sentido nenhum medo de cair de cima de um cavalo. E entendia menos ainda porque a simples perspectiva de tentar de novo sem ela por perto a assustava tanto.
Quando as duas chegaram na varanda da casa Alicia foi ainda mais devagar para ajudar Maia a subir os degraus. Dona Antonieta que parecia estar arrumando algo na sala viu as duas e disse que não demorava a trazer um lanche e que elas deveriam se sentar e esperar. Depois da mais nova estar em sua cadeira a veterinária também se sentou, numa cadeira de frente para a dona do Rancho. As duas permaneciam em silencio e Maia evitava encarar os olhos castanhos claros.
Enquanto isso Alicia tentava organizar o que estava sentindo. Uma mistura de confusão com alegria e plenitude por descobrir que era capaz de transmitir tanta segurança para a mais nova. Ela não conseguia entender o porquê, mas sua consciência associou isso ao fato de Maia apenas ter total e completa confiança nela. Seu coração queria lhe fazer crer que poderia ser algo mais, mas sua mente reforçava que a Dona do Rancho apenas havia adquirido por ela uma imensa e sincera amizade. Antes que Antonieta surgisse Alicia decidiu que aquele silencio já estava incômodo demais e resolveu quebra-lo.
- Eu agradeço toda a sua confiança em mim – disse ela num tom baixo chamando a atenção de Maia que, até aquele momento, não a olhava – Me ofereceria para lhe dar aulas particulares, mas acho que seria complicado me comprometer a vir sempre da cidade até o Rancho. Além de que com a clínica eu talvez não conseguisse cumprir um combinado entre nós – disse ela de forma suave vendo a surpresa no rosto da mais nova por ela ter sugerido aquela possibilidade.
- Eu nunca pediria algo assim, Alicia – falou a mais nova entrelaçando seus dedos sobre sua perna e os apertando uns nos outros, um sinal que a veterinária já havia associado a nervosismo ou insegurança – Seria completamente fora de lógica. Você é uma veterinária com uma clínica, eu nunca cogitaria tirá-la do seu trabalho para trazê-la aqui apenas para me dar aulas.
- Não estou dizendo que você faria isso, Maia – sorriu a mais velha colocando as mãos sobre a mesa – Falei apenas algo que me passou pela cabeça e cujos pontos eu avaliei. Eu realmente queria ser capaz disso, mas não posso.
- Sei que não pode – falou a menor soltando um suspiro longo, mas de forma discreta, algo em si ficara triste em saber que aquela possibilidade não seria aplicável ou funcional.
- Maia – chamou a veterinária fazendo a mais nova desviar o olhar do horizonte e voltar a encará-la – Eu te garanto que nada de ruim vai acontecer. Giulio, Carlos ou até mesmo Eduardo são mais do que capazes. Eu posso garantir isso, mas se isso te tranquilizar eu também posso passar a eles instruções específicas do que fazer e de como fazer para te deixar mais confortável ao voltar a montar.
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Argentum [EM REVISÃO]
RomanceAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...