Os lábios ainda estavam próximos, as respirações descompassadas e os rostos colados. Nenhuma tinha coragem de abrir os olhos, mas sentiam a necessidade de fazer isso. De olhar uma para a outra depois daquilo apenas para ter certeza de que fora real. Maia foi a primeira a conseguir essa coragem e soltou um suspiro ao encarar os lábios de Alicia tão próximos de si. Queria falar algo, qualquer coisa, ou apenas beijá-la outra vez, mas sentia que precisava dizer algo. Logo viu os olhos cor de mel se abrirem, claro que ela apenas enxergou o castanho escuro pela falta de iluminação, o filme tinha voltado a tela inicial e iluminava um pouco o quarto.
- Alicia eu... – ela começou, mas sua voz estava presa, seu olhar não conseguia desviar dos lábios, sua mente não conseguia formular uma frase sequer – Não...Alicia eu – tentou novamente, mas tudo o que conseguia pensar era em como queria beijar a veterinária outra vez e em como aquele beijo havia sido muito melhor do que aquele simples selinho que ela tinha experimentado naquela madrugada.
A expressão da veterinária mudou conforme ela balbuciava coisas sem nexo. Maia notou a mudança, viu os olhos se arregalarem levemente e logo depois ficarem sérios. Então Alicia se afastou e desviou o olhar.
- Perdão – disse a veterinária – Eu sinto muito. Não precisa tentar falar, Maia. Eu entendi – ela sussurrava enquanto afastava suas mãos deixando a mais nova completamente confusa – Você não teve a intenção. Eu me precipitei. Foi um erro meu – ela continuou e Maia conseguia sentir a voz dela quebrando aos poucos – Eu juro que não vai mais se repetir.
Alicia tenteou se levantar, ela pretendia sair do quarto e dar tempo a Maia para digerir a situação enquanto torcia para que a menor não a odiasse. Mas a dona dos olhos verdes, apesar de estar confusa e ainda com a cabeça perdida no beijo, conseguiu raciocinar rápido o bastante para entender que Alicia havia interpretado sua frase confusa e sem sentido como uma tentativa de dizer que estava arrependida. Ela entendeu que a veterinária acreditava que ela havia se arrependido de tê-la beijado. E quando entendeu isso, primeiro quis rir, mas depois apenas sorriu. Antes que Alicia se levantasse ela segurou o queixo da mais velha com sua mão direita forçando a veterinária a encará-la e a permanecer onde estava.
- Eu beijei você – declarou Maia, mas Alicia pareceu entender como uma pergunta.
- Eu achei que sim – sussurrou a mais velha tentando desviar o olhar, mas Maia apenas sorriu outra vez e se inclinou na direção dela.
- Eu beijei você, Alicia – ela repetiu num sussurro – E você me beijou de volta – completou encarando os lábios que estavam, outra vez, muito próximos dos seus – Seja honesta, por favor. Você sente algo por mim? – Maia questionou de forma direta ainda mantendo o aperto de forma que Alicia não conseguia deixar de encará-la.
Tudo o que a veterinária queria fazer era negar e não correr o risco de afastar Maia de si. Mas o peso daqueles olhos verdes exigia a verdade e Alicia já estava cansada de prender aquelas palavras. Ela simplesmente não conseguia mais fingir não sentir nada quando seu peito gritava o quanto estava apaixonada pela mais nova. Com uma coragem que ela não sabia de onde surgiu Alicia encarou os olhos verdes e sustentou o olhar. O aperto de Maia em seu maxilar não era grande, se quisesse poderia se afastar, mas havia um certo magnetismo naquela mão pequena que impedia que a maior conseguisse afastar-se dali.
- Eu sinto muito por isso – sussurrou a veterinária sustentando o olhar – Nunca tive a intenção. Não pretendia gostar dessa forma de você, apenas aconteceu – assim como surgiu sua coragem acabou e ela baixou o olhar deixando a cabeça cair também.
Maia não conseguia dimensionar o tamanho do alivio e da felicidade que preencheu seu peito ao ouvir Alicia admitir aquilo. Era como se uma sensação quente se espalhasse por seu corpo depois de anos sem ter nenhuma fonte de calor por perto. Entendeu pela forma como a maior falou e por como parecia envergonhada que Alicia já sabia que se sentia daquela forma a algum tempo. Por um segundo sentiu raiva de si mesma por ter demorado tanto para entender o que sentia pela mulher a sua frente.
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Argentum [EM REVISÃO]
RomanceAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...