Catarina estava cuidando das suas plantas, como sempre fazia todas as manhãs, quando o som da porta da frente sendo batida com força a assustou. Ela se ergueu com sua tesoura de poda na mão direita e olhou pela janela da cozinha em busca do responsável pelo estrondoso som. O que viu foi seu filho iniciando uma corrida escadas acima. Sentindo um aperto no peito por se relembrar de tudo o que o filho mais velho havia feito a senhora largou suas coisas, retirando suas luvas e avental, e entrou em casa indo direto às escadas em busca do rapaz que ela não sabia que seria liberado naquela manhã de segunda. Achou Renato em seu quarto, ele estava de frente para seu guarda-roupas, a porta do quarto aberta, uma mala e uma mochila colocadas em cima da cama e roupas sendo tiradas dos cabides e jogadas por cima da mala.
- Renato, meu filho – disse ela chama do a atenção dele que parou o que fazia para olhar a mãe parada na porta do quarto – O que pretende fazer?
- O que pretendo fazer? E a senhora ainda tem a coragem de me perguntar isso? – ele questionou em tom alto, a expressão de irritação e raiva, enquanto soltava às peças que tinha na mão sobre a cama – Eu vou embora dessa casa! Depois do que Talitha e você fizeram comigo, não passo mais nem um único dia embaixo do mesmo teto que vocês duas! – disse ele em tom acusador e logo depois voltou a colocar as roupas na mala.
Catarina juntou às mãos sobre o peito baixando a cabeça com tristeza. Não sabia como o filho havia se tornado aquele tipo de homem. Não entendia como poderia tê-lo criado para se tornar alguém com tanto ódio e preconceito, tanta agressividade que pudesse explicar as cenas que viu naquela manhã de sábado. Sua perplexidade era tanta que não se deu conta de que, em suas reflexões, acabou por externar um de seus pensamentos.
- Onde foi que eu errei – ela sussurrou, mais para si mesma, entretanto Renato ouviu e novamente parou o que fazia se virando para a mãe.
- Errou com a tua filha mais nova! Com ela você errou! – ele gritou se aproximando da porta onde Catarina estava e apontando o indicador direito na altura do peito dela – Porque eu fui criado da melhor forma possível com todos os valores que um homem decente tem que ter! Mas pelas suas ações nos últimos acontecimentos o comportamento da minha irmã mais nova está totalmente explicado, já a minha boa criação, aparentemente, não se deve em nada a você.
- Pois eu não te criei para desrespeitar as pessoas, garoto. Muito menos a própria mãe! – Catarina respondeu deixando a expressão triste e passando para uma brava – Te garanto que a criação que lhe dei foi a mesma que teria recebido do teu pai também!
- Pois se meu pai estivesse aqui eu DUVIDO que Talitha e a senhora teriam as atitudes absurdas de defender aquelas duas vaga... – Renato interrompeu sua frase ao sentir o forte tapa que sua mãe havia lhe dado na mão que ele apontava para ela.
Catarina nunca havia erguido a mão para nenhum dos filhos. Orgulhava-se de ter conseguido criar duas crianças sozinhas após a morte do marido sem nunca ter precisado usar de violência com nenhum deles. Por esse motivo aquele tapa acertou a mão de Renato e não seu rosto, entretanto o efeito foi o mesmo do que teria causado um tapa no rosto do rapaz.
- Não vou permitir que ouse falar do teu pai como se ele fosse esse tipo de homem – Catarina disse sem elevar a voz, mas de uma forma séria que Renato nunca havia visto a mãe ser – Rodrigo pode ter sido um homem rude em sua forma de ser, mas jamais foi preconceituoso e muito menos apoiaria suas atitudes agressivas e desrespeitosas! Esse seu comportamento é abusivo e injustificado, pensar que teu pai compartilharia dessas suas atitudes é a última coisa que eu vou permitir. Depois de Marta falar sobre a primeira namorada de Alicia foi a memória de Rodrigo que ajudou Alberto a aceitar a menina! Rodrigo nunca teve a mente fechada como você. Ele sempre foi um homem compreensivo, mesmo com o pouco estudo que teve. Tudo o que ele mais queria na vida era que os filhos tivessem o ensino que ele não teve e aprendessem a gentileza que ele nunca pode aprender a ter.
- Não me venha dizer que meu pai apoiaria algo assim – Renato argumentou em tom irritado, mas ainda sob efeito da surpresa com a reação da mãe.
- Pois é exatamente o que eu estou lhe dizendo! – Catarina respondeu ainda mais irritada – Tanto apoiaria como apoiou diversas vezes pessoas como Alicia. Um dos melhores amigos de Rodrigo foi gay, antes mesmo de seu pai e eu casarmos e ele sempre me contou como foi complicado para ele aceitar o amigo. Mas disse também que, quando compreendeu que isso não mudava absolutamente nada na índole e na pessoa que ele era, finalmente aceitou e descobriu o quão ridículo era se incomodar com a vida privada de outra pessoa! Seu pai foi o melhor homem que eu conheci na vida. Minha maior tristeza foi saber que meus filhos, principalmente Talitha, não poderiam tê-lo por perto na hora de compreenderem e aceitarem o mundo diverso no qual estamos vivendo hoje – ela parou por um segundo vagando o olhar pelo quarto, as roupas jogadas dentro da mala, o guarda-roupas aberto – Fico feliz que sua irmã herdou de Rodrigo o jeito compreensivo e a sabedoria de aceitar o diferente – ela retomou a fala encarando Renato com um olhar cansado, mas conformado – Infelizmente eu não fui capaz de passar a você a verdadeira natureza que teve seu pai, mas agora tu já é um homem adulto. Quem vai lhe ensinar o peso da responsabilidade pelos teus atos e o quão errado é essa sua visão preconceituosa será a vida. Nunca vai deixar de ser meu filho Renato e eu nunca vou lhe virar as costas em um momento de necessidade. Mas também não o irei proteger de arcar com as consequências de seus atos e menos ainda aprovar seu comportamento atual. Como já está partindo, pode levar tudo o que é seu e se não puder tirar tudo hoje, deixe avisado para outra pessoa vir buscar, a partir de hoje está por sua conta. Você não é mais bem-vindo nessa casa.
Mesmo com os olhos lacrimejando Catarina não deixou sua voz falhar. Depois da primeira lágrima escorrer assim que ela terminou, a senhora deu as costas ao filho e se retirou encostando a porta e deixando dentro do quarto um Renato surpreso e desacreditado. Ela não viu mais o rapaz, apesar de tê-lo ouvido praguejar e derrubar coisas em seu quarto até terminar de recolher tudo e descer com duas malas e a mochila. Quando a porta da frente bateu com força Catarina estava chorando sentada na varanda dos fundos, foi ali que Talitha encontrou a mãe duas horas depois. Quando ficou sabendo do ocorrido a jovem não sabia se ficava com raiva do irmão ou não, mas não pensou no assunto e consolou a mãe que, apesar de já ter parado de derramar lágrimas, ainda estava muito triste.
Depois de conseguir colocar Dona Catarina para descansar, perto das 10 horas da manhã, Talitha ligou para o Rancho. Quem atendeu foi Antonieta que logo passou o telefone para Alicia que estava na sala também, junto de Maia. A veterinária tinha acabado de descer com a namorada, estava pronta para ir pra casa almoçar com a mãe quando recebeu a notícia da saída de Renato da cadeia e do ocorrido com a mãe da melhor amiga.
N/A: Olha eu aqui de novo =D
Eu sei que esse cap é pesado...é bem tenso ele, mas era algo que eu queria muito mostrar. Porque, apesar de que seria comum que Renato estivesse certo, o incomum sempre existe. Então vamos sempre nos lembrar dele.
E acho que nunca vou me cansar de fazer o Renato quebrar a cara (ao menos nas minhas histórias esse tipo de gente vai sempre quebrar a cara =P )
Vamos aguardar os próximos capítulos que vão definir o destino dele. E nos levar pra reta final. Pois é, já esta acabando =/
Bem, alguns avisos pessoinhas, eu vou estar atualizando Argentum uma vez por semana (sempre entre domingo e segunda) até o final das minhas férias. Pra quem lê Who You Are, já fique sabendo que as atualizações serão uma vez por mês até eu encerrar Argentum.
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Argentum [EM REVISÃO]
RomanceAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...