Maia sentia seu rosto arder e sabia que não havia nada que pudesse fazer para disfarçar isso. Estava esperando o amigo começar as piadas, mas também notava que ele parecia estar esperando alguma grande revelação antes. O que apenas a fazia corar ainda mais por saber que Enzo estava certo e havia, realmente, uma grande revelação a ser feita. Mas antes que ela conseguisse a coragem necessária para contar sentiu seu celular vibrar em seu bolso indicando uma mensagem. Ergueu o indicador esquerdo para a câmera pedindo um minuto enquanto pegava o aparelho com a mão direita.
Destravou a tela e viu mensagens da veterinária. Não percebeu o sorriso em seus lábios enquanto abria o aplicativo para ler os curtos textos, mas Enzo não perdeu esse detalhe. Na primeira mensagem Alicia dizia ter acabado de chegar e que estava bem, mas mesmo assim havia ingerido mais uma dose dos remédios. Na segunda ela havia enviado um 'ops' junto a um emoji sorrindo antes de dizer que havia acabado de notar que sua jaqueta provavelmente havia ficado no Rancho.
Enquanto Maia lia as duas mensagens Alicia digitava a terceira que logo foi também recebida. Ela perguntava a mais nova se não seria incômodo ela deixar a peça aos seus cuidados até a quinta-feira, dia que elas haviam marcado da veterinária ir ao rancho para preparar o envio das amostras para o teste de DNA que havia sido exigido para o registro de Argentum. Os olhos verdes espelhavam o sorriso dos lábios de Maia enquanto ela respondia que não havia problema nenhum e que ela cuidaria da jaqueta até que Alicia viesse ao Rancho dali a quatro dias. Alicia lhe enviou outro emoji sorridente que ela retribuiu e então a veterinária se despediu dizendo que precisava se apressar para sua consulta. Mandou um beijo para a dona do Rancho que não notou seu rosto corando levemente com a mensagem e se foi.
- Devo presumir que a razão de seus suspiros acabou de lhe enviar mensagens? – falou Enzo puxando Maia de volta da bolha que havia criado enquanto falava com a veterinária e provocando, novamente, o forte rubor nas bochechas da mais nova – Vamos, Maia. Se não me contar eu vou poder apenas imaginar. E você, melhor que ninguém, conhece a minha imaginação – falou ele controlando o riso pela expressão da amiga.
- Eu não sei o que está acontecendo comigo, Enzo – admitiu Maia largando o celular sobre o cobertor e levando ambas as mãos aos cabelos enquanto fechava os olhos com força e mordia o lábio inferior – O jeito que ela me trata – murmurou ela baixando a cabeça até seu queixo encostar em seu peito – Ninguém nunca me tratou dessa maneira. Não assim. E isso é tão diferente que eu não sei como lidar.
- Pois acho que você sabe sim o que se passa contigo, mas está com medo de admitir e se engana tentando dizer a si mesma que é apenas um engano culpa do modo diferente com que é tratada por ela – falou o rapaz em tom brando que fez Maia erguer o rosto e encará-lo, mas ele apenas se calou e esperou.
- Ontem – recomeçou ela falando baixo – Quando minha dor diminuiu eu não conseguia levantar ainda, não conseguiria pisar no chão. Ela se deitou de volta e eu apenas fiquei deitada no mesmo lugar, por cima do cobertor, esperando minha perna e meu quadril se recuperarem – Maia continuou em tom baixo, mas suas pausas começaram a diminuir como se ela estivesse colocando toda a informação para fora de uma única vez – Ela já estava quase dormindo por causa do antitérmico e eu fiquei deitada com apenas o abajur ligado esperando conseguir levantar. Mas acabei adormecendo e não sei quanto tempo fiquei lá. Quando acordei – uma pausa maior quase a fez travar, mas Maia fechou os olhos e antes que Enzo a incentivasse ela voltou a falar – O rosto dela estava colado a lateral do meu. O braço direito dela jogado por cima da minha barriga me segurando perto. Eu travei Enzo. Não soube o que fazer e meu corpo travou porque era nítido pela respiração lenta dela batendo no meu pescoço que Alicia estava profundamente adormecida. Mas quando comecei a me mover para me afastar eu cometi o maior erro que poderia fazer naquele momento – ela falou colocando uma mão sobre a boca enquanto respirava fundo.
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Argentum [EM REVISÃO]
RomanceAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...