Carlos ficou calado por vários segundos. Era claro que ele não sabia o que dizer, mas era nítida a confusão e surpresa na expressão dele.
- Eu compreendo que você possa ter uma opinião a respeito – disse Maia de forma seria – Seja ela contrária ou não. Mas eu espero que exista um bom senso da sua parte sobre verbalizar isso ou...
- Senhorita eu não... – Carlos a interrompeu, mas ainda parecia confuso – Eu não tenho nenhuma opinião. Eu...Acho que...Vou deixa-las mais à vontade. Com licença – ele concluiu abrindo a porta e descendo do carro.
As duas observaram o rapaz atravessar a rua e parar embaixo da sombra de uma árvore na calçada oposta à onde elas estavam. Ambas se olharam confusas.
- Isso foi estranho – Maia finalmente falou.
- Sim. Muito estranho – concordou Alicia abrindo a porta do carro e recebendo um olhar questionador de Maia enquanto ela se aproximava mais da menor colocando um braço em volta da cintura dela e se esticando um pouco até conseguir alcançar o rosto dela – Primeira vez que acho esse carro alto demais – a veterinária reclamou antes de deixar um beijo próximo ao maxilar de Maia.
Os olhos verdes se fecharam enquanto ela sorria e virava o tronco para abraçar o pescoço da mais velha. Elas trocaram um beijo, mas logo Maia se afastou um pouco.
- Eu realmente preciso ir e resolver essa questão do maquinário – ela sussurrou aproximando os rostos delas e Alicia lhe deu um selinho demorado – Juro que gostaria de ficar.
- Eu sei. Entendo que precisa ir. Vou te soltar, só me dê mais alguns segundos – pediu a veterinária sussurrando antes de beijar a mais nova outra vez.
Elas logo se separaram e Alicia fechou novamente a porta antes de erguer o braço chamando Carlos que atravessou a rua e voltou a assumir sua posição atrás do volante.
- Se tudo der certo eu vou para o Rancho amanhã à tarde – avisou Alicia enquanto o rapaz colocava seu cinto.
- Certo. Mas avise quando sair – Maia pediu, as duas notaram os olhares de Carlos que parecia inquieto e pensativo.
-Carlos – chamou Alicia com um olhar sério – Se você tem algo a dizer, apenas diga de uma vez.
Ele as encarou e parecia estar em algum tipo de dilema interno. Por fim soltou um longo suspiro, virou-se para frente apoiando as mãos no volante.
- Eu não tenho nenhuma opinião contaria, mas admito que já tive – ele sussurrou, mas as duas conseguiram ouvir, depois de alguns segundos de pausa ele continuou a falar – A doutora sabe que os pais da Lúcia são separados não é? – ele questionou olhando para elas rapidamente e desviando o olhar outra vez após ver Alicia concordar – O pai dela mora na capital com a irmã mais velha. Ela veio com a mãe e o padrasto muito cedo para cá, mas nunca perdeu o contato com o pai e a irmã. Alguns meses atrás eu nós fomos numa viagem, para um jantar onde eu conheceria meu sogro e minha cunhada – ele contava em voz baixa sem olhar para o lado – Na viagem ela me falou sobre a irmã....sobre a irmã dela talvez levar para o jantar uma garota. Nós...discutimos no carro....discutimos depois do jantar...e discutimos quando voltamos.
- A briga de vocês de dois ou três meses atrás? – Alicia questionou interrompendo Carlos que a encarou concordando com um movimento de cabeça antes de continuar.
- Sim, logo antes do Patrão falecer – ele disse voltando a encarar o volante – Ela me disse tanta coisa. Mas algo que ela me falou na última discussão...Me fez pensar tanto. Nós estávamos planejando nosso casamento. Para isso que fui conhecer o pai dela. Ninguém sabia, mas eu já havia feito o pedido. Mas ela terminou comigo. E me disse que por mais que ainda me amasse não permitiria que seus filhos fossem criados por nenhum preconceituoso hipócrita capaz de negar amor e carinho a uma criança apenas por ela sentir diferente. Que não se casaria com um homem como eu para ver seus filhos sofrerem como ela viu a irmã sofrer com a mãe e o padrasto preconceituosos. Depois que ela me disse isso e foi embora eu fiquei em choque...porque...Eu pensei nos meus pais, no carinho e amor que recebi deles. E me perguntei se eu seria capaz de dizer a uma filha minha o que eu disse a Lúcia sobre a irmã dela. Se eu seria capaz de fazer as coisas ruins que ela me falou que a irmã passou com uma filha minha. E eu me dei conta de que não. Eu não iria querer que meus filhos sofressem.
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Argentum [EM REVISÃO]
RomansaAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...