Capitulo 39

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- Talitha é a criatura mais abusada que eu conheço – falou Alicia ainda rindo do jeito louco da amiga e vendo-a se afastar, mas quando virou o rosto para Maia notou que a menor estava com uma expressão séria com a testa franzida, os olhos encarando o chão e o lábio inferior preso entre os dentes, ela ignorou o que o último detalhe lhe causou e focou no fato da mais nova não parecer estar bem – Maia, aconteceu algo? Você está se sentindo mal? – perguntou preocupada.

- Não aconteceu nada – murmurou Maia soltando um suspiro longo e, notou ela mesma, irritado demais – Está tudo bem, apenas pensando em outras coisas – disse ela olhando para os olhos castanhos mel da veterinária e sentindo sua raiva ir se dissipando ao notar o brilho preocupado que havia naqueles olhos – Não houve nada – ela repetiu com um sorriso e então decidiu fingir que não havia sequer ouvido o que a mais nova disse antes de se afastar – Onde Talitha foi? Não prestei atenção ao que ela disse.

- Foi achar o grupo de amigos dela – comentou a veterinária ainda encarando os olhos verdes a procura de algum sinal de desconforto ou dor porque havia notado que a mais nova não havia lhe dito a verdade, ou talvez não toda ela – A festa oficial vai acabar em uma hora ou pouco mais e o pessoal mais jovem sempre se reúne para uma festa um pouco mais voltada a idade deles – contou ela dando de ombros.

- Você não deveria querer ir com ela? – perguntou a mais nova sem se conter, mas sentindo certo alívio ao ver o desinteresse claro na maior.

- Acho que eu nunca fui a essa pós-festa – falou Alicia divertida – Quando tinha 18 anos ou pouco mais, quase nunca estava aqui nessa época. Quando voltei já havia terminado a faculdade e me sentia velha demais para esse tipo de divertimento. Apesar de que nunca fui de quem gosta desse tipo de festa, nem quando ainda estava na graduação.

- Parece uma velha falando assim, como se tivesse 40 e não 20 e poucos – implicou a menor cutucando as costelas da veterinária com o indicador direito fazendo a mais velha rir alto o que lhe tirou um sorriso divertido.

- Pois as vezes sinto-me como uma senhora de 40 anos – afirmou ela se inclinando na direção da mais nova – Mas só nos costumes – falou implicando e espelhando o gesto de colocar o indicador nas costelas da outra – Prefiro mil vezes estar quieta em meio aos meus cobertores, assistir a um bom filme ou série e dormir cedo. Talitha que gosta dessas festas, beber e virar a noite. Isso não é para mim não.

- Vocês duas são tão diferentes – comentou Maia escondendo a irritação por ter a mais nova sendo mencionada.

- Somos, mas acho que é normal – comentou a veterinária dando de ombros – Somos grudadas desde que éramos crianças, mesmo com a diferença de idade. Nossas mães sendo melhores amigas desde sempre não acredito que eu e ela tivéssemos como sermos diferentes – falou Alicia sem sequer pensar no que dizia, ela se sentia muito a vontade de falar sobre tudo com Maia, por essa razão não media palavras, nem escondia fatos – Ela é a única amiga que sempre tive. Tenho ela como minha irmã mais nova, mas não sou mais a chata que implica com os namoradinhos dela. Apesar de ainda temos um trato de que quando acharmos alguém com quem queiramos algo sério a outra tem que aprovar.

- Então – começou Maia confusa e tentando esconder o constrangimento ao notar que a veterinária se referia a Talitha apenas como melhor amiga – Vocês são amigas a muito tempo – disse ela afirmando a frase em busca de uma confirmação.

- Sim – concordou Alicia com um sorriso largo – Somos melhores amigas desde sempre – disse ela virando o rosto para encarar os olhos verdes – Ela era a única pessoa que eu realmente considerava uma amiga até pouco tempo atrás – contou a veterinária e, logo em seguida, piscou para Maia antes de desviar o olhar e se levantar – Vou buscar uma pipoca para nós antes do pessoal desmontar a barraca – avisou ela antes de começar a se afastar sem notar que havia deixado a mais nova confusa para trás.

Maia ficou com seus pensamentos atrapalhados e seus sentimentos desconhecidos enquanto assistia Alicia caminhar até uma barraca não muito longe de onde elas estavam sentadas. Tentava entender o alivio que percorreu seu corpo ao entender que Talitha e a veterinária eram apenas grandes amigas e não algo mais. Mesmo que ela ainda estivesse confusa com a cena do beijo de antes, mas agora algo lhe dizia que ela apenas havia se equivocado.

Ela não era uma pessoa de mente fechada, muito pelo contrário. Durante o tempo em que cursou História conviveu com muitas pessoas diferentes. Ainda lembrava-se das brigas com sua mãe por conta dos colegas mais próximos. Praticamente 70% da sua turma de graduação era homossexual e ela havia acabado se enturmando mais entre eles do que com os outros 30 restantes. Sua mãe implicava muito, mas ela não via nada de diferente entre eles e qualquer outra pessoa. Para Maia eram apenas pessoas e ela nunca se preocupou muito com esse tipo de assunto.

Mesmo convivendo com eles, nunca havia se sentido atraída por nenhuma mulher. Mas tinha que admitir também que era difícil que se atraísse por algum homem. Depois do acidente Maia não havia dado muitas aberturas para que alguém tentasse algum envolvimento amoroso e não houveram pessoas que tentassem algo com ela também. Ela já não se sentia tão mal com a própria aparência como na época da faculdade em que teve de usar a cadeira de rodas por quase seis semestres. Mas também não acreditava ter atrativos para qualquer pessoa.

Apesar de tudo ela não acreditava que estivesse atraída por Alicia. Havia sentido atração por alguns homens na vida e não via seu interesse na veterinária como algum tipo de atração, mas não pode negar os ciúmes. Por um lado ela não entendia suas reações perante a mais velha. Por outro ela não queria confundir as coisas e perder uma ótima amiga, talvez a primeira amiga de verdade em anos. Pensando nisso ela encarou a veterinária conversando com a senhora na barraca de pipoca e decidiu não pensar mais no assunto. Tinha uma amiga na mais velha e não queria perder isso.

Olhou em volta notando que grande parte das barracas estavam em algum estágio de desmontagem. Algumas já eram novamente penas o esqueleto parcialmente decorado sem nada dentro, outras tinham pessoas entrando e saído com utensílios, mesas, restos de comida e tudo o mais. Puxou o celular do bolso do sobretudo e olhou as horas. Seu relógio marcava 22h13 e ela se surpreendeu com o quão rápido o tempo havia passado. Notou então a notificação de seu aplicativo sobre o tempo vendo que a temperatura estava caindo visto que passou de 14°C, quando ela havia chegado, para 9°C.

Olhou para cima vendo o tempo nublado, mas não havia previsão de chuva. Alicia havia comentado que era praticamente impossível chover naquela noite. Segundo a veterinária nunca chovia no dia da festa, mesmo que a previsão dissesse o contrário. Entretanto haviam muitas nuvens no céu e, enquanto olhava para cima, Maia pode ver dois clarões cruzarem as nuvens. Antes que ela pudesse pensar sobre a possibilidade da chuva cair Alicia havia retornado e se sentado ao seu lado no banco lhe estendendo um pacote de pipoca. Elas sorriram uma para a outra e começaram a comer.

- Tem mesmo certeza de que não vai chover? – perguntou a menor olhando para o céu, a pipoca de ambas havia acabado a poucos instantes.

- Tenho – afirmou a veterinária rindo e olhando para o céu por um segundo antes de encarar o perfil de Maia outra vez – Nunca chove nessa data. Tenho certeza absoluta de que não vai chover – ela tornou a afirmar.

Mal as palavras saíram da boca da maior e a primeira gota gelada caiu em seu rosto sendo acompanhada de outra que caiu por dentro da gola da jaqueta. Ambas as mulheres olharam para cima com os olhos arregalados e Alicia se levantou soltando um xingamento antes de segurar a mão de Maia que agarrou rapidamente a muleta. Desajeitadamente elas correram para o outro lado da rua entrando embaixo do toldo de uma sorveteria que tinha as portas fechadas. As duas olharam a correria das pessoas nas barracas que pegavam o que não poderia molhar e corriam levando para os carros ou para as casas em volta. Quando se olharam novamente as duas começaram a gargalhar, afinal, até parecia que a natureza estava esperando Alicia dizer que não choveria para contrariá-la.


N/A: Eu surgi das cinzas do final de semana para dar uma animada na segunda de vocês =D

A maratona acabou ontem eu sei, mas tive motivos para querer surpreender vocês. Estou recebendo uma resposta muito boa de vocês e isso me anima a atualizar com mais frequência *-*

Bom, agora sim, até o próximo fds pessoinhas lindas

Bjs

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Argentum [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora