No sábado as duas acordaram com sensações parecidas. Ansiosas e ao mesmo tempo animadas elas fizeram suas atividades diárias. Maia revisou alguns documentos pela manhã e logo subiu almoçando em seu quarto e, depois, tendo que encarar a difícil missão de escolher uma roupa. Já Alicia teve duas consultas pela manhã e passou a tarde, após seu almoço, a organizar os estoques da clínica. Mas a veterinária não conseguia disfarçar a ansiedade pelo número de vezes em que consultou seu relógio de pulso.
Antes das 16 horas Maia foi para um banho, já havia conversado com Giulio e descobriu que toda a família de seu gerente iria até a festa na cidade. Ela não havia hesitado em pedir que a levassem junto alegando que queria conhecer mais da região e das pessoas. Ficou acertado que ela, Giulio e Antonieta iriam no Land Rover da fazenda. Os filhos e netos do casal iriam cada um com sua respectiva família em seus carros particulares. Ela estava ansiosa por sair e, como a viagem até a cidade demoraria uma boa hora e meia, evitou se demorar no banho. Logo ficando pronta.
Havia escolhido um vestido azul claro de algodão. Era longo e cobria parte do sapato fechado que ela usava. Tinha também um sobretudo cinza de malha com mangas longas que ela logo notou que teria de ser usado continuamente pois a temperatura continuava a cair e não parecia pronta a estabilizar por hora. Agradeceu por ter se lembrado de vestir uma meia-calça e uma legging por baixo do vestido.
Enquanto isso Alicia corria escada acima até seu quarto para seu longo banho, o relógio estava para marcar 16h50 e ela tinha pouco tempo para se preparar, mas não abriria mão do banho demorado. Ouviu seu celular vibrando em algum lugar do quarto quando fechou a porta e correu para conferir a razão sorrindo bobamente ao constatar que era uma mensagem de Maia dizendo que estava esperando Giulio e Antonieta para iniciarem a vinda para a cidade. A veterinária correu de volta para o banheiro sabendo que, mesmo que não chegasse no comecinho da festa, ainda estaria pronta bem antes de Maia chegar.
O relógio no canto da tela do celular da moça de olhos verdes marcava 18h20 quando ela viu Giulio estacionar o carro num espaço reservado para isso numa rua próxima a praça central da cidade onde a festa já acontecia. Aparentemente alguma apresentação de dança ocorria porque podiam ouvir o som alto e animado de uma quadrilha que, pelas vozes, Maia diria ser de crianças. Digitou uma rápida mensagem no celular enviando para Alicia o local onde seu funcionário e amigo havia estacionado o carro. Pegou sua muleta, que estava descansando no banco de trás do carro junto dela, e abriu a porta. Giulio logo a alcançou para ajudá-la a descer.
- Tem certeza de que pode se achar sozinha no meio da festa? – perguntou Antonieta preocupada com a patroa andando nas ruas de paralelepípedo e no piso de pedra lisa e irregular da praça – Pode ficar com a gente se preferir.
- Não se preocupe, Antonieta – respondeu a jovem com um sorriso divertido e gentil – Agradeço imensamente, mas sei que posso me locomover por ai sem ajuda. E depois havia combinado de encontrar com Alicia, já que ela me prometeu apresentar a barraca da mãe.
- É bom a menina Alicia encontra-la logo, se entrar 'pro' meio do povo na praça vai ser quase impossível ela achar a senhorita – resmungou Giulio também preocupado, com o pouco tempo de convivência ele já havia se afeiçoado a jovem gentil e de pulso firme que passou a ter como patroa.
- Garanto que ela não deve demorar – sorriu Maia ainda um tanto desconcertada com tanta preocupação de pessoas que ela conhecia a tão pouco tempo – E vocês dois aproveitem a festa. Quando quiserem se recolher é só me ligarem que eu retorno ao carro para irmos.
- Pois veja se não exagera – repreendeu Antonieta se aproximando e envolvendo a mão livre da mais nova – Se sentir-se cansada e quiser voltar ao Rancho pode nos chamar, Giulio e eu estaremos sempre atentos aos nossos telefones. Não hesite em nos chamar se sentir que quer ir embora e nem pense que nos irá incomodar se nos tirar mais cedo da festa.
- Prometo, Antonieta – sorriu a mais nova e os três se despediram antes do casal sair para um lado e Maia para outro.
Os dois iriam dar a volta no quarteirão e entrar na praça pelo outro lado para encontrar os filhos porque ao chegarem não tinham achado uma vaga para o carro junto aos automóveis deles e, por isso, acabaram estacionando em outra rua. Já Maia seguiria reto mais alguns metros e entraria na praça por aquela rua mesmo. Estava cruzando a rua que circundava a ampla praça quando avistou a veterinária saindo de entre as barracas a passo acelerado. Seus olhares se encontraram e ambas abriram um largo sorriso ao se reconhecerem. Maia continuou até a calçada e esperou a mais velha se aproximar.
A veterinária usava uma bota de cano baixo naquela noite, o cano marrom sobrepondo a barra do jeans preto grosso. A bota tinha um pequeno salto que deixava a mais velha ainda mais alta do que a dos olhos verdes, mas Maia adorou a visão de Alicia se aproximando dela naquele conjunto que era completado por uma camisa xadrez azul, preta e branca completamente fechada que entrava por dentro do cós dos jeans deixando a mostra o cinto marrom e a jaqueta preta de couro que se ajustava bem aos ombros e braços da mais alta.
Depois de se cumprimentarem com um rápido abraço a veterinária saiu guiando-a para os corredores de barracas dizendo que ela tinha que ir até a barraca onde Dona Marta e Catarina, que Alicia explicou ser a mãe de Talitha. Enquanto caminhavam lentamente sobre o calçamento de pedra um pouco irregular a mais velha ia contando a quem pertencia cada barraca e quem eram as pessoas que cruzavam com elas. Todo o caminho Maia teve seu braço esquerdo apoiado ao direito da maior. Até que em certo momento a conversa delas mudou de direção até o fato de que Alicia sempre acabava com alguma pequena emergência durantes as festas.
- Me pergunto como seria se tivesse de atender alguma vaca, por exemplo – disse a mais nova rindo baixo e olhando para os pés da veterinária – Não acredito que tenha pensando nessa possibilidade quando escolheu suas botas nessa noite. Não que eu esteja reclamando, você ficou ótima com elas, mas duvido que esse par resista a um curral – brincou Maia rindo mais alto da expressão surpresa que Alicia tinha no rosto.
O coração da veterinária ainda batia acelerado contra seu peito por causa do elogio recebido, mas ela se controlou e apenas fingiu indignação pelas palavras da mais nova.
- Pois saiba que sou uma veterinária preparada. Não estragaria meu par de botas nem se precisasse mesmo entrar em um lamaçal – afirmou ela erguendo o nariz fingindo-se pessimamente estar irritada o que causou uma gargalhada em Maia que foi acompanhada pelo riso da mais velha logo depois.
- Essa eu gostaria de ver – disse a menor assim que ambas conseguiram parar de rir – Não acredito que fosse conseguir.
- Pois conseguiria – afirmou a mais alta com um largo sorriso – Mas como o faria é segredo. Tenho que ser sigilosa para manter a reputação – brincou a veterinária piscando para Maia que sorriu divertida com os verdes brilhando na direção da mais velha – Mas sendo você, acho que posso confiar esse segredo – prosseguiu Alicia se inclinando para o lado enquanto continuava a andar e aproximando a boca do ouvido de Maia – Tenho um par de botas de borracha dentro do carro junto de outra roupa. Me trocaria em menos de um minuto. Nenhuma peça seria perdida – sussurrou ela fazendo as duas diminuírem ainda mais o passo, mas voltou ao ritmo normal das duas assim que se afastou – Só não conte a ninguém! – disse rindo e sendo acompanhada por Maia.
Mas a garota de olhos verdes, apesar de gargalhar junto da veterinária, sentia algo se agitar dentro de si após ouvir a voz sussurrada da mais alta. Elas continuaram a caminhar e várias pessoas as pararam para falar com Alicia. A mais nova aproveitou esses momentos em que não precisou falar para tentar pensar. Era estranha a forma como ela ficava quando tinha a mais alta próxima e a situação estava sendo recorrente demais para que Maia a ignorasse. Se pegou observando os sorrisos gentis que a veterinária dava a todos que falavam com elas. Notou como a mais velha a apresentava sempre, nunca deixando de incluí-la ao momento.
Tentava não pensar demais no que sentia, mas naqueles últimos minutos estava sendo quase impossível se afastar desses pensamentos. Não conseguia parar de admirar a veterinária e se recriminava por isso, mas antes que ela pudesse continuar suas reflexões em uma direção que ela ainda não se sentia confortável em ir Alicia se virou para ela indicando que estavam próximas da barraca de sua mãe.
N/A: Alguém (vulgo eu mesma) acordou animada hoje hehe.
;]
VOCÊ ESTÁ LENDO
Argentum [EM REVISÃO]
عاطفيةAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...