Capítulo 58

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Estavam na estrada a quase uma hora e meia. Já haviam falado sobre as cidades vizinhas, filmes, músicas, séries e tudo o que dizia respeito aos gostos particulares de cada uma. Não que nunca houvessem falado sobre isso antes, mas naqueles minutos tudo era mais íntimo. Alicia concentrada na estrada, ainda desviava alguns olhares para Maia sempre que riam ou quando a menor parecia empolgada falando. E Maia não desviava o olhar da mais velha em momento algum.

Depois dos primeiros minutos após saírem da cidade a mais nova viu a mão da veterinária pousar sobre o freio de mão do carro entre os bancos delas. Era uma mania que a mais velha parecia ter e fazia sempre que sabia que precisaria ficar um longo tempo sem trocar de marcha. Sem pensar muito sobre o que fazia ela simplesmente segurou o pulso direito da veterinária e trouxe a mão da mais velha para seu colo começando a brincar com os dedos delas e o assunto se voltou para o porque de Alicia não usar muitos acessórios. Maia explicou que não os usava porque chamariam atenção para seus pulsos, mas contou que adorava anéis, pulseiras e brincos discretos.

Alicia acabou explicando que não tinha costume de usar acessórios, principalmente nas mãos, por causa do trabalho, já que ela sempre precisava colocar luvas. Falou que o máximo que usava era o relógio, mas só o fazia porque ele era necessário em várias situações. Separou as mãos delas erguendo a mão direita até o pescoço e puxando uma corrente prata que estava por dentro da camisa e que Maia não havia notado antes. Era uma corrente longa e grossa que não tinha nenhum pingente e, segundo Alicia, fora um presente do pai quando ela completou 15 anos. Logo depois de colocar a corrente para dentro da camisa outra vez a veterinária soltou sua mão sobre a perna da mais nova que sorriu voltando a brincar com os dedos da maior.

Chegou um ponto onde um silêncio confortável se estabeleceu entre elas. Alicia dirigindo e Maia dividindo o olhar entre o rosto da veterinária e as mãos delas juntas sobre suas pernas. O rádio do carro tocava alguma música desconhecida para ambas e nenhuma delas parecia sentir necessidade de falar algo, mas mesmo assim Maia notou que havia alguma coisa incomodando a mais velha. Notando que Alicia não pretendia dizer nada a respeito ela decidiu tomar a frente e trazer o assunto.

- Tem algo incomodando você – afirmou ela sem parar de brincar com os dedos da maior.

- Não tem não – respondeu Alicia com um sorriso de lado mantendo o olhar na estrada.

- Não foi uma pergunta, Alicia – disse com os olhos verdes focados no perfil, mas sua voz soou calma e gentil – Eu consigo ver que algo está dando voltas dentro da sua cabeça – falou erguendo a mão esquerda e tocando com as costas dos dedos a têmpora da veterinária que deu um sorriso bobo.

- Não é nada demais – ela garantiu ainda sorrindo, mas logo depois soltando um suspiro – Não é nada importante.

- Me diga mesmo assim – pediu a menor apertando de leve a mão direita de Alicia.

A maior soltou um longo suspiro enquanto mantinha o olhar atento à estrada a frente, mesmo com o trânsito calmo. Maia decidiu não pressionar e esperar que Alicia decidisse contar o que a estava incomodando. Para demonstrar seu apoio ela continuou a brincar com os dedos da mão direita da mais velha e logo viu os ombros caírem um pouco. Um claro sinal de que ela havia decidido contar.

- Eu só – ela começou mantendo os olhos para frente, mas fez uma pausa – Eu apenas fiquei um pouco preocupada com você – disse a veterinária num tom baixo, mas ainda audível acima da música ambiente – A respeito daquilo que aconteceu no quarto, antes de sairmos – explicou ela e Maia pode ver o rosto da maior corar levemente.

- Não precisa se preocupar – respondeu ela com um sorriso bobo, mas a veterinária logo voltou a falar.

- Claro que preciso. É sua saúde, Maia – falou ela desviando por um segundo o olhar para encarar o rosto da mais nova – Eu fiquei me perguntando o que pode ser feito pra você melhorar, talvez haja algum tratamento que melhore sua capacidade pulmonar. Mas se não houver eu preciso conhecer os seus limites porque é algo sério que não deve ser forçado – falou ela num tom mais do que sério e a menor sentiu seu peito aquecer com toda aquela preocupação.

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