Na metade da tarde, logo que a temperatura começou a diminuir, Alicia selou Angel outra vez e elas voltaram para o pavilhão de baias onde Maia esperou que a veterinária soltasse Angel em uma das baias com comida e água. Eduardo não estava por perto, provavelmente cuidando de alguma coisa nos piquetes ou algum outro lugar, passaram pela cozinha para deixar a cesta, mas também não encontraram nem Maria nem Antonieta que, provavelmente, deveriam estar cuidando de suas casas antes de voltarem para fazer o jantar para elas. Subiram as escadas e foram até o quarto da dona do Rancho.
- Vá buscar suas coisas do outro quarto – pediu Maia assim que se sentou em uma das cadeiras da pequena mesa próxima as janelas.
- Porque? – Alicia questionou confusa e a mais nova riu.
- Ora, porque você vai dormir aqui mesmo, será muito mais prático se suas coisas já estiverem aqui – Maia respondeu como se fosse óbvio e a veterinária rolou os olhos.
- Caso tenha se esquecido eu vou voltar ao outro quarto para tomar banho e outras coisas – falou Alicia, também com um tom de obviedade e foi a vez de Maia rolar os olhos.
- Não tem porque isso. Pode usar o meu banheiro – ela disse dando de ombros e Alicia sorriu encarando a expressão despreocupada que Maia colocou no rosto ao desviar o olhar dela e olhar pela janela.
A maior se aproximou da mesa, apoiando sua mão direta sobre o tampo para se inclinar e dar um beijo na testa de Maia que virou o olhar para ela encontrando o sorriso gentil no rosto da veterinária. Alicia se inclinou mais beijando os lábios da menor e Maia ergueu as mãos para segurar o rosto da outra durante o beijo que não durou muito. A veterinária o encerrou com um selinho, mas manteve seus rostos colados.
- Vou buscar minhas coisas – Alicia sussurra com os lábios juntos dos de Maia antes de sorrir e se afastar para sair do quarto deixando para trás a menor com um sorriso no rosto.
Segundos depois de Alicia sair Maia ouve uma batida na porta. Ela diz para que a pessoa entre e Antonieta surge no quarto com seu sorriso de sempre. Maia sorri de volta, mas fica sem saber como falar com a senhora que se aproxima dela.
- Vi vocês entrando na casa e vim ver se precisam de alguma coisa – Antonieta fala apoiando as mãos sobre o encosto de uma das cadeiras vazias em volta da mesa.
- Estamos bem, vamos descansar um pouco agora – Maia responde um tanto sem jeito – Na verdade eu vou descansar um pouco as pernas. Não estou acostumada a cavalgar – ela completou sorrindo sem jeito.
Antonieta a encarou com um sorriso. Quando se encararam a senhora apontou para a cadeira a sua frente como se pedisse para poder se sentar e Maia indicou com a mão para que ela o fizesse. Ela se sentou e esticou as mãos na direção da mais nova. Os olhos verdes encararam as mãos estendidas da mais velha por segundos antes de ela erguer a mão direita colocando-a com a palma sobre as palmas abertas de Dona Antonieta.
- Acredito que Alicia lhe falou sobre nossa conversa na cozinha, não foi? – Antonieta perguntou com um sorriso terno acariciando a mão da mais nova que acenou positivamente, ela encarou a mão entre as suas dando um sorriso sem jeito – Eu não vou dizer que compreendo exatamente. Depois que Alicia saiu, Carlos e eu conversamos um pouco. Eu confesso que não era um assunto desconhecido para mim, eu vejo televisão, assisto novelas, minha neta sempre está vendo aqueles programas, as séries dela, e eu acabo vendo algumas coisas também. Por causa disso eu sei que o que vocês duas começaram a ter é algo que muitas pessoas abominam e odeiam. Eu nunca havia pensado a respeito, mas acredito que achava não ser correto, talvez eu ainda ache isso. Mas quando comecei a notar certas coisas entre vocês duas e pensei a respeito – Antonieta fez uma pausa encarando o chão e soltando um longo suspiro – Quando o patrão faleceu nós todos ficamos muito incertos. Era uma certeza entre nós, quando descobrimos sobre os herdeiros, que perderíamos tudo. Que vocês venderiam o Rancho e todos perderíamos nossos empregos e nossas casas. Mas quando a senhorita chegou e assumiu o Rancho...Bem, no começo ficamos receosos por conta da sua inexperiência. Mas teu esforço manteve todos nos seus lugares. Cuidou de nós, dos nossos empregos, das nossas famílias. Desde sua chegada aqui tu fizeste bem a todos, sempre se preocupando com cada um. Como ter pedido a ajuda da minha neta na organização do escritório para ter uma desculpa de pagar a ela por isso depois de ouvir que não teríamos dinheiro para viagem que ela queria fazer com as amigas para aquele show. Ou como fez Giulio deixar as atividades mais pesadas para Carlos – Antonieta encarou os olhos verdes de Maia com uma expressão séria e apertou de leve a mão da mais nova entre as suas – A melhor coisa que aconteceu a esse Rancho foi a senhorita chegar. E a forma como trata cada de nós é tão gentil e atenciosa que conquistou cada pessoa desse lugar. A senhorita tem uma alma tão pura, tão boa – um sorriso surgiu nos lábios de Antonieta e Maia acabou por sorrir também – Eu não consigo vê-la como uma pessoa incorreta ou ter sentimentos ruins para com a sua pessoa. Pelo contrário, quando tive certeza de que algo estava acontecendo entre vocês duas apenas consegui me preocupar com teu bem estar. Já pude ver quão solitária se acostumou a estar e me preocupei que pudesse se magoar por causa do que sente por Alicia.
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Argentum [EM REVISÃO]
RomanceAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...