Maia sabia o que precisava fazer, já havia tratado de diversos cortes e arranhões em si mesma para não saber. Mas havia uma parte que a fez travar antes mesmo de começar. Tentou pensar no assunto de forma prática, mas só formular o pedido em sua mente já a estava fazendo ficar envergonhada. A veterinária estava ali, sentada logo a sua frente, aceitando que ela cuidasse do corte e tudo o que Maia conseguia fazer era tentar não corar por ter que pedir que Alicia retirasse a camisa. Percebendo a demora a veterinária acabou notando o leve rubor na face da mais nova. Maia agradeceu quando viu a maior arregalar os olhos e se dar conta sozinha de que precisava retirar a camisa.
A própria Alicia ficou tímida com a situação. Seu rosto adquiriu um leve tom rosado enquanto ela começava a desabotoar a camisa pela gola. Estava um clima frio ainda, ela estava indecisa sobre tirar completamente a camisa ou não. Parou os movimentos de suas mãos quando sentiu os dedos da Maia tocarem na gola da vestimenta. A mais nova não tinha muita consciência do que estava fazendo. Tentava se recordar das poucas vezes em que dividiu vestiários com outras pessoas ou de quando ia a festas de piscina na casa de amigas. Nunca havia ficado tão hipnotizada vendo alguém se despir.
Estava sem reação até certo ponto, não conseguia desviar o olhar. Mas acabou notando a incerteza de Alicia ao chegar aos botões finais. A veterinária não tinha certeza se deveria realmente despir seu tronco ou apenas abrir a camisa, mas antes que se obrigasse a tomar uma decisão sentiu as mãos de Maia lhe tocando. A esquerda sobre suas mãos e a direita indo até a gola da camisa. Alicia não conteve o arregalar dos olhos ao sentir o toque da mais nova, muito menos pode conter o arrepio que tomou conta de sua pele quando os dedos finos tocaram de leve seu pescoço ao começar a afastar o tecido, a camisa permanecia com os dois últimos botões fechados.
Ela manteve suas mãos calmas, o que destoava completamente do que sentia dentro de si. Era uma ansiedade misturada a certa dose de confusão, ela não pode distinguir a necessidade e vontade ao fundo, mas estavam lá. Com lentidão, e tendo os olhos cor de mel a acompanhar cada movimento seu, Maia afastou a gola da camisa trazendo o tecido até que ele caísse por um dos ombros da veterinária expondo o corte e todo o lado esquerdo do top branco que usava. O contraste do tecido branco com a pele morena quase fez a menor perder o foco, mas o sangue que havia escorrido do corte e manchado o tecido a trouxe para a realidade.
Estava próximo ao ombro, logo abaixo da clavícula. Era um corte de mais de 5 cm e um filete de sangue descia paralelo a alça do top até chegar ao tecido branco próximo aos seios de Alicia. A mancha de sangue já estava maior do que as duas esperavam. Com uma respiração profunda que a trouxe novamente aos eixos de sua razão a menor se apressou a buscar o pacote de gaze e o frasco de soro fisiológico. Abriu as embalagens, umedeceu a gaze e começou a limpar o sangue da pele da veterinária. Estava preocupada com a profundidade do corte, mas ficou surpresa com o quanto Alicia se mantinha firme e sem nenhuma expressão de dor.
A veterinária estava simplesmente entorpecida, não sentia nada além da leve pressão e do calor que passava das mãos de Maia, pela gaze, até sua pele. Nunca havia sentido tanta inibição e timidez ao estar com parte do corpo às vistas de alguém. Nunca ligou para mostrar pele demais ou não, mas naquele momento sentia-se como uma garotinha tímida com vergonha e morrendo de vontade de se cobrir e se esconder. Talvez por conta do peso dos olhos verdes caindo sobre seu corpo, aquele olhar preocupado e atencioso. Havia algo mais por trás daquilo tudo, algo que Alicia não conseguia desvendar, mas que também tinha medo de tentar e se perder na imensidão esmeralda que eram os olhos de Maia naquele momento.
A jovem formada em história tentava se focar na parte mecânica do que fazia. Metodicamente limpando o corte e em volta dele, metodicamente evitando erguer o olhar aos olhos castanhos que a encaravam. Ela sabia que a mais velha o fazia, podia sentir os orbes de tonalidade mel em si, era como uma presença, ou um toque, era quase físico. Físico como o corpo a sua frente que estava arrepiado e que pareceu se arrepiar ainda mais quando ela tocou com a mão direita próximo ao corte. Queria apenas firmar a pele para que as bordas não repuxassem quando ela passasse a gaze para limpar tão perto.
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Argentum [EM REVISÃO]
RomanceAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...