Capítulo 104

726 82 11
                                    

Maia e Alicia esperaram alguns minutos sozinhas na cozinha, até que Maria voltou e as encontrou sentadas uma ao lado da outra em frente a mesa conversando sobre algo. A conversa do casal parou ao ouvirem os passos da mulher mais velha. Ela pareceu indecisa sobre o que fazer, parou um pouco afastada das duas, mas as encarava como se quisesse falar algo, ambas decidiram apenas esperar.

- Antonieta disse que ficaria no corredor dos quartos esperando que os convidados terminem de arrumar suas coisas e desçam para o lanche – ela finalmente avisou se aproximando um pouco mais da mesa.

- Obrigada por avisar Maria – Maia agradeceu soltando um suspiro cansado e pensando no que aconteceria a seguir.

- Senhorita Almeida? – Maria chamou logo depois, ainda no mesmo lugar, chamando a atenção das duas que continuavam sentadas – Aquele senhor, seu pai, ele veio mesmo na intenção de levar a senhorita do Rancho?

- Aparentemente foi essa a motivação do meu pai para vir até aqui – ela respondeu calmamente começando a se levantar – Mas ele pode querer o que for, não significa que ele terá isso. O Rancho Aureus é a minha casa agora, um homem que abandonou eu e minha mãe por anos, que nunca se importou em vir me ver depois do meu acidente, esse homem não tem direito algum em me dar ordens – Maia termina de se levantar e já tem Alicia lhe estendendo a muleta, o que ela agradece com um sorriso que permanece em seu rosto quando ela se vira para sua funcionária – Ninguém vai me tirar da minha casa, Maria. Vou cuidar disso tudo, espero eu, tão bem quanto meu tio o fez. E posso lhe fazer um pedido?

- Claro – a senhora respondeu balançando a cabeça num aceno afirmativo.

- Eu não gostaria mais que me tratassem pelo sobrenome do meu pai – ela disse ainda sorrindo – Almeida não é um nome que represente, acho que nunca foi. Se possível, já que sei que a maioria de vocês não vai deixar de me tratar por Senhorita, então que seja Senhorita Augustus.

Maria deu um mínimo sorriso e logo acenou novamente antes de se afastar. No fundo Maia entendia que parte do comportamento da mais velha se devia ao fato de que, se ela desistisse do Rancho provavelmente a maior parte das pessoas que trabalhavam ali perderiam seus empregos porque não haveria quem tomasse conta de tudo. Entretanto aquela atitude era um pequeno avanço na aceitação de, provavelmente, grande parte dos funcionários do Rancho. Alicia e ela então voltaram para a sala de jantar e encontraram Antonieta liderando o caminho dos seus visitantes para dentro da sala.

- Antonieta – Maia a chamou assim que ela se aproximou, seu pai e irmãos pararam um pouco mais atrás – Pode, por favor, trazer algumas coisas para fazermos um pequeno lanche? – ela pediu sem ainda dar sequer um olhar para o pai.

- Trago café também? – Antonieta perguntou antes de se retirar.

- Sim, chá e algum suco natural, não sei qual o gosto dos meus irmãos para isso – Maia pediu e a senhora lhe sorriu apertando-lhe o antebraço levemente e fazendo o mesmo com Alicia antes de se afastar; ela então se virou para o pai e os irmãos que estavam parados do outro lado da longa mesa, ela esperou que Antonieta sumisse na cozinha antes de se afastar um pouco de Alicia e se aproximar da cabeceira da mesa – Acredito que agora seja a hora efetiva das apresentações – ela falou desviando o olhar do pai para os irmãos parcialmente atrás do homem mais velho – One of you speaks Portuguese? – ela questionou aos gêmeos que se entreolharam antes de saírem de trás de Otávio que manteve uma expressão desgostosa ao encarar a filha mais velha.

- Nós aprendemos o idioma na escola – a menina se pronunciou primeiro.

- Esse e mais alguns outros – o garoto completou a fala da irmã dando de ombros e fazendo Maia sorrir.

Argentum [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora