A barraca, assim como todas as outras, tinha uma base de metal que foi incrivelmente decorada fazendo-a parecer ser feita de madeira por fora. O teto dela era coberto com folhas secas e haviam algumas luminárias enfeitadas com balões de papel. O lado de dentro tinha uma pequena mesa na parte da frente encostada em um dos cantos. No fundo havia uma rede fina cobrindo as laterais da barraca e indo até o chão para dentro de uma caixa de madeira com aproximadamente um metro e meio de largura por dois de comprimento e 40 centímetros de altura. Dentro da caixa haviam várias garrafas e frascos de vidro com uma infinidade de tamanhos cada um com alguns papeis dobrados dentro deles.
A caixa ocupava quase todo o interior da barraca deixando apenas um pequeno corredor na lateral direita e um outro, mais estreito ainda, na frente. Do lado de dentro estavam duas senhoras. A mais baixa com pele morena e cabelos grisalhos com alguns fios ainda pretos Maia sabia ser Dona Marta, mãe de Alicia. A outra parecia um pouco mais nova, tinha cabelos castanhos claros e olhos azuis. Era tão magra quanto Talitha e tinha traços muito parecidos com a secretária da Clínica Veterinária. A dona do Rancho logo deduziu que aquela era a mãe da garota, Catarina. E teve suas suspeitas confirmadas quando Alicia a apresentou.
- É um grande prazer conhece-la – falou Catarina com um sorriso largo enquanto apertava a mão de Maia – Posso ver que não me disseram inverdades quando a descreveram para mim. Você é muito bonita, como Alicia contou.
Maia arregalou os olhos e desviou os seus verdes de Catarina para a veterinária que estava parada ao seu lado esquerdo ainda tendo seu braço servindo de apoio para a menor. A iluminação da festa permitiu que a mais nova pudesse ver a expressão constrangida e o rubor na face da mais alta. Mas Alicia apenas riu evitando olhar para a menor.
- Eu nunca minto, tia Catarina – falou a veterinária ainda sem conseguir esconder seu constrangimento – Falei que Maia era bonita. Quase tão bonita quando a senhora – disse a mais velha piscando para a senhora dentro da barraca e fazendo todas rirem.
A conversa delas foi interrompida quando um grupo animadíssimo de 5 crianças chegou fazendo barulho e estendendo suas fichas para poderem participar do jogo. Marta e Catarina fizeram com que se acalmassem com sorrisos e vozes calmas. Maia e Alicia acompanharam a cena paradas na lateral da barraca com sorrisos nos rostos. A veterinária ainda evitando os olhos verdes e ainda tendo a expressão levemente constrangida. Quando notou isso o sorriso da menor passou de divertido para gentil, seu olhar não conseguindo se desgrudar da face levemente corada da mais alta.
Sua admiração para com a maior foi interrompida quando Maia ouviu o coro de exclamações tristes fazendo seus olhos se desviarem para o grupo de crianças que ela notou terem entre 10 e 12 anos. O maior deles estava na frente da barraca, o primeiro da fila, tinha os braços cruzados e uma expressão emburrada. Aparentemente havia acabado de perder suas chances sem nenhum prêmio. Seus amigos pareciam chateados também, mas queriam ter suas chances e o fizeram ir para o final da fila. Notando o interesse de Maia ao ver o próximo garoto começar o jogo Alicia riu.
- Minha mãe e tia Catarina fazem essa barraca todo ano a quase duas décadas – começou ela a contar – O lucro das fichas vai para a igreja. Quem inventou o jogo foi meu pai. São várias garrafas e frascos de vidro com diâmetros de gargalo diferentes – a veterinária puxou Maia lentamente para ficarem mais para o lado da barraca e os olhos verdes poderem enxergar melhor o brinquedo, mas o olhar da mais nova não conseguia desviar por muito tempo do rosto da mais alta enquanto a voz dela explicava como o jogo funcionava – Dentro de cada garrava tem um prêmio, quanto menor o tamanho do gargalo melhor é o prêmio que tem dentro dele. Cada um ganha cinco bolinhas de borracha por chance. Se acertar três dentro da mesma garrafa ganha o prêmio dela, exceto às garrafas coloridas. As coloridas são as que tem os menores gargalos e por isso as mais difíceis de acertar. Se acertar uma bolinha dentro delas você já ganha o prêmio – Alicia contava e ao mesmo tempo apontava para as garrafas de forma que Maia pode ver a diferença entre cada uma.
- Os papéis dobrados dentro da garrafa são os prêmios? – perguntou a mais nova notando que, dentro das garrafas transparentes haviam vários papéis dobrados.
- Sim – sorriu a veterinária fazendo a mais nova sorrir de volta – Você pode ganhar balas e doces, balões de vários tamanhos, outra ficha e os melhores prêmios das garrafas transparentes são os chocolates. Quanto menor o gargalo da garrafa melhor tende a ser o prêmio dela, mas as outras tem prêmios bons misturados e ai depende da sorte na hora de tirar um dos papéis.
- Você tem cara de quem jogava muito isso quando era criança – falou Maia notando o olhar divertido de Alicia e como ela prestava atenção a cada lançamento dos pequenos jogadores.
- Mas nunca ficava com nenhum dos prêmios – admitiu a veterinária rindo logo depois – Dona Marta me deixava jogar apenas algumas vezes. Se eu ganhasse algo mais do que doces não ficava com o prêmio. Mas eu sempre tentava os mais difíceis. Havia uma pequena competição entre eu e os garotos da escola. Eles implicavam dizendo que eu podia treinar o ano todo até as festas e que, por isso, acertava as mais difíceis. Mas meu pai nunca deixava as garrafas onde eu pudesse jogar.
- Por algum motivo não me surpreendo com essa informação – falou Maia rindo e olhando para as crianças pois sabia que os olhos cor de mel estavam focados nela – Você tem mesmo cara de que é competitiva ao extremo.
Alicia deu de ombros, não conseguiria negar e apenas riu acompanhando Maia. As duas ficaram olhando os pequenos jogarem por alguns minutos até que o grupo correu novamente se dispersando. Provavelmente cada um em busca de seu pai ou mãe para pedir mais uma ficha. Distraídas com isso não perceberam a chegada de Talitha que apareceu pulando sobre as costas de Alicia e enroscando seus braços no pescoço da veterinária. Fazendo com que a mais alta soltasse um palavrão ao tentar se impedir de cair levando a amiga e, talvez, Maia junto.
- Você já foi mais estável – riu Talitha ainda agarrada ao pescoço da veterinária.
- E você já foi mais leve – retrucou a mais alta com um sorriso cínico, mas ainda divertido enquanto abraçava a cintura da mais nova que estava literalmente pendurada em seu pescoço.
Para evitar o risco de cair e acabar puxando Maia junto a veterinária havia se afastado da dona do Rancho e soltado seus braços de forma que, quando conseguiu voltar a se equilibrar, tinha ambos os braços livres. Por conta disso ela envolveu a cintura da amiga para impedir que a mesma se soltasse sem querer e acabasse caindo. Mas a cena fez o riso de Maia ir morrendo aos poucos deixando em seu rosto apenas um sorriso sem graça enquanto ela tentava entender o motivo de estar incomodada com o contato entre a veterinária e a garota mais nova.
- Está me chamando de gorda assim, na cara mesmo? – perguntou Talitha se fingindo de ofendida e se afastando da amiga colocando uma mão sobre o peito e a outra na cintura – Tia Marta não te deu educação não? Onde já se viu insinuar que uma bela jovem como eu possa estar gorda – falou ela rolando os olhos e fazendo Alicia gargalhar.
- Eu me referia ao fato de que você cresceu, mas já que estamos falando de peso. Não nego que acho que deveria cuidar mais do seu – falou a veterinária pressionando os indicadores contra a barriga e costelas da amiga que riu e tentou se defender como pode.
- Está vendo, Srta. Almeida? – falou a mais nova apontando para a veterinária – Tome cuidado com essa daí. É isso que acontece quando se dá confiança para ela: começa a te chamar de gorda – disse Talitha rindo e provocando o riso nas outras duas.
- Vou manter isso em mente – falou Maia disfarçando seu desconforto com a cena anterior e deixando um sorriso se manter em seu rosto.
Deveria ser um sorriso sem graça, mas não conseguiu se impedir de sorrir verdadeiramente ao ver a veterinária rolar os olhos com um sorriso divertido e cruzar os braços ao dizer que apenas falava verdades e que a mais nova precisava mesmo deixar de ser sedentária.
N/A: Eu gosto de surpreender não é? hehe
Bjs pessoinhas.
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Argentum [EM REVISÃO]
RomanceAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...