Faltava pouco menos de duas horas para chegarem na cidade. O céu estava nublado e uma fina garoa caia sobre a pista de forma que Alicia reduziu um pouco mais a velocidade mesmo que não houvesse trânsito de outros veículos. Uma rádio qualquer estava sintonizada, mas o volume era baixo apenas para que o ambiente não ficasse em completo silencio. As duas haviam conversado um pouco mais sobre a fisioterapia de Maia, mas o assunto logo acabou e elas se calaram, entretanto a mais velha notou que Maia parecia pensativa e decidiu quebrar o silêncio entre elas.
- Você está muito quieta – falou ela desviando o olhar rapidamente para o lado – O que está te deixando tão calada? – questionou sentindo os dedos da menor voltarem a brincar com os seus.
- Apenas pensando em alguns fatos que eu talvez deva compartilhar com você – admitiu Maia com um sorriso discreto que a outra não viu.
- Algo mais sobre seu acidente? – perguntou a veterinária preocupando-se um pouco e segurando uma das mãos de Maia com delicadeza.
- Não – riu a mais nova, mas estava um pouco sem graça mesmo que a maior não percebesse – Não é nada relacionado a isso. Apenas algo que estava pensando que você deveria ter conhecimento de que aconteceu.
- Certo, agora estou realmente curiosa – anunciou Alicia franzindo o cenho e olhando rapidamente para Maia – O que eu deveria saber?
Maia corou levemente ao se recordar de toda a cena, mas Alicia estava com o olhar na estrada e não pode notar esse pequeno detalhe. A mais nova estava se sentindo incrivelmente envergonhada com o que estava para revelar. Não que ela se arrependesse, depois das descobertas da noite anterior sobre os sentimentos de Alicia já existirem a algum tempo a mais nova não mais se sentia culpada pelo que havia feito. Entretanto isso não diminuía seu constrangimento pelo ato executado sem o consentimento da veterinária. Parte dela estava tentada a esconder o ocorrido e não voltar a comentar o assunto. Mas outra parte de si acreditava que era injusto privar Alicia do conhecimento sobre sendo que ela já nem seria capaz de se recordar do fato. Por fim soltou um suspiro em desistência e deu um riso baixo escolhendo contar tudo de uma vez.
- Lembra-se da noite em que esteve febril e por conta da chuva fiz com que dormisse no Rancho? – perguntou a menor vendo a mais velha acenar com um movimento de cabeça, as mãos menores continuavam a brincar com os dedos da mão direita da maior – Pois bem. Recorda-se que eu fiquei um pouco em seu quarto enquanto você já cochilava devido ao efeito dos remédios também não é?
- Sim. Ainda fico envergonhada de ter caído no sono enquanto você se recuperava – contou Alicia num tom de arrependimento.
- Não fique, os remédios apenas fizeram efeito – falou a menor com um riso baixo – Eu que ficarei envergonhada no momento em que você ouvir o que vou contar.
- Agora conseguiu me deixar ainda mais curiosa – se pronunciou a veterinária tentando disfarçar um sorriso – O que pode ter acontecido para te deixar envergonhada?
Maia sentiu seu rosto começar a corar e riu sem graça quando sua mente repassou as imagens daquela noite que acontecera a menos de uma semana, mas ainda assim parecia ter ocorrido a mais tempo devido a quantidade de coisas que aconteceram naqueles poucos dias.
- Bom, preciso iniciar dizendo que não fiquei pouco tempo como pretendia – Maia começou a dizer se encolhendo um pouco no banco, mas sem soltar a mão da mais velha que continuava em seu colo com a palma para cima – Você dormiu rápido por causa dos remédios e eu planejava ficar apenas alguns minutos mais até minhas pernas estarem mais firmes. Acontece que todo o cansaço do dia e daquelas últimas horas aparentemente foi maior do que eu esperava. Acabei cochilando ao seu lado. Não sei dizer por quanto tempo dormi, mas em algum ponto acabei me ajeitando na cama e deitando quase corretamente – Maia fez uma pausa e se permitiu encarar o rosto da veterinária que tentava desviar brevemente o olhar para o lado enquanto continuava a se concentrar na estrada – Quando acordei você estava com o braço em volta da minha cintura e tinha se aproximado do meu corpo. Seu rosto estava na mesma altura do meu. A ponta do seu nariz estava encostando no meu rosto.
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Argentum [EM REVISÃO]
RomanceAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...