N/A: Capítulo 2/7 da maratona ;]
Alicia deu todas as instruções à Eduardo quando o achou perto de outra baia quase no final do pavilhão. Disse que ligasse para ela se o potro não melhorasse e começasse a ficar mais ativo. Depois voltou para onde Maia ainda estava, no caminho foi desdobrando as mangas da camisa. Podia ver a mulher de olhos verdes ainda debruçada sobre a parte inferior da porta da baia olhando a interação de Lua com seu potro. A veterinária tinha completa noção de que não deveria admirá-la, mas não conseguia se impedir, mesmo assim repetia em sua mente que não podia se interessar pela jovem mulher. Estava abotoando os punhos quando se aproximou da mais nova.
- Então, meu trabalho aqui hoje está feito – disse a veterinária retirando o estetoscópio do pescoço e guardando-o novamente na caixa junto com o termômetro que estava em seu bolso.
- Sinto muito que tenha que esperar quase uma semana para poder receber por ele – disse Maia se afastando da porta da baia.
- Não se preocupe com isso – disse Alicia com um largo sorriso – Sou uma veterinária de cidade pequena, estou acostumada a pagamentos em parcelas, atrasados, feitos meses depois do serviço e até com diversas formas que incluem animais ou produtos dos meus clientes – falou ela rindo – Recebi o pagamento em queijo por uma consulta numa leiteria uma vez.
Maia arregalou os olhos surpresa com a 'confissão' da veterinária e levou a mão esquerda sobre a boca tentando não rir da situação que sua imaginação criou em sua mente.
- Você ter recebido por seus serviços é o importante da situação, eu acredito – disse ela ainda tentando disfarçar o sorriso.
- O importante na verdade era ter salvado a melhor produtora de leite da propriedade – riu Alicia – E não precisa segurar o riso, tenho certeza de que está morrendo de vontade de gargalhar. Admito que se ouvisse a história de algum colega eu não iria controlar minha gargalhada – falou ela dando de ombros e vestindo a jaqueta.
Maia não conseguiu mais se controlar e começou a rir e Alicia riu junto se aproximando da menor. A veterinária repetia a si mesma que não deveria se encantar tanto pela moça de olhos verdes, mas já estava em uma batalha perdida depois de ouvi-la rir. Foi impossível para ela não se sentir realizada por ter sido a razão daquele riso. Depois a maior se ofereceu para acompanhar Maia de volta a casa e elas saíram caminhando lado a lado outra vez.
Como antes Maia foi com a mão esquerda sobre o braço direito da veterinária. Elas fizeram uma pequena pausa para que Alicia guardasse suas coisas e logo continuaram rumo a cozinha. Encontraram as mesmas pessoas pelas quais haviam passado na saída. Dessa vez Antonieta e Maria estavam iniciando o almoço e Alicia parou para apreciar o cheiro que começava a sair das panelas. Após uma curta conversa e uma pequena despedida a veterinária saiu da cozinha deixando Maia na companhia das outras mulheres.
Depois da veterinária ir embora Maia se distraiu conversando com Antonieta, Maria e Amanda. Na maioria das vezes ela apenas acompanhou o diálogo entre as três. Algum tempo depois ela pediu licença para se recolher ao seu quarto e pediu também para que Antonieta levasse o almoço para ela lá, pois não queria ter que descer as escadas de novo. O que ela realmente queria era fugir da conversa que seu irmão queria ter com ela. Sabia o que Giovani iria dizer e não estava nem um pouco interessada em ouvir os argumentos sem fundamentos que seu irmão lhe apresentaria.
Aproveitou que teria algum tempo até o almoço ficar pronto e entrou em contato com o gerente do banco onde tinha seus investimentos. Questionou quais deles poderia resgatar sem perder muito e que quantia teria disponível se o fizesse. Ela não explicou a situação completa a ele, mas conseguiu descobrir que teria dinheiro o suficiente para compara a parte de seu irmão em pouco mais de 15 dias a partir do momento que pedisse o resgate dos investimentos. Após isso enviou uma mensagem ao advogado perguntando sobre o andamento do inventário e recebeu a notícia de que, no mais tardar, ao final de quinta-feira tudo estaria acertado.
Logo que terminou de conversar com Marcio, Antonieta subiu com seu almoço. Avisou que seu irmão havia perguntado por ela quando desceu para almoçar e ela agradeceu que ela havia dito que ela não estava disposta a descer. Sentou-se na mesa e ficou a encarar a paisagem que tinha pela janela. Podia ver parte do pavilhão de baias, um galpão mais distante que deveria abrigar as máquinas usadas nas plantações. Via também um pedaço dos pomares de pêssegos.
Enquanto se alimentava lembrava da agradável manhã que passou com a veterinária. Maia não queria admitir a si mesma que, pela primeira vez na vida, havia encontrado alguém que a olhava como olharia pra qualquer outra pessoa. Alicia parecia não se importar com suas deficiências, mas ao mesmo tempo era atenciosa o suficiente para entender suas limitações e tentar contorna-las por si mesma. Ela sabia que suas dificuldades não eram defeitos, já era capaz de pensar assim a algum tempo. Mas isso não impedia que ela se surpreendesse quando alguém que acabou de conhecer parecesse enxerga-la como uma pessoa normal quando ela tinha consciência deque não era.
Maia se pegou incrivelmente curiosa a respeito do tipo de pessoa que Alicia Ferraz era. Seu interesse na veterinária havia começado exclusivamente por seu pensamento de que o Rancho precisava ter alguém que viesse olhar os animais regularmente para evitar tratamentos curativos. Por entender da dificuldade em se tratar um problema que surgiu ela entendia a importância que a prevenção tinha. Sabia também que, na grande maioria dos casos, prevenir era a melhor economia de tempo e recursos.
Entretanto, agora se pegava imaginando como teria sido a criação de Alicia para torna-la o tipo de pessoa que ela estava demonstrando ser. Maia tinha tentado a manhã toda encontrar algum traço de que a gentileza e o tratamento atencioso de Alicia fossem devido apenas ao fato dela estar lidando com a pessoa que assumiria o Rancho e passaria a pagar por seus serviços. Ela tentou se convencer de que o jeito da veterinária havia sido apenas por conta disso, mas todas as suas fracas certezas desmoronaram ao ver ela interagir com Antonieta, Maria, Amanda e Barbara na cozinha quando voltaram do pavilhão.
Alivia tinha conversado com todas, dado atenção a todas elas e até ajudado a pegar ou entregar algum utensílio. Sempre sorridente e sempre atenciosa a tudo o que diziam e faziam. Maia pode notar que ela parecia desatenta para algumas coisas, mas não o estava realmente. Diversas vezes viu a veterinária alcançar algo que uma das mulheres se preparava para levantar para pegar ou pedir para que alguém o fizesse.
Ela queria muito continuar acreditando que Alicia Ferraz era só mais uma pessoa tentando se manter bem às suas vistas por algum interesse pessoal, mas a interação dela com as outras pessoas destruía essa sua opinião. Maia não queria correr riscos, já havia confiado em alguém que parecia gentil e bom uma vez e não foi uma experiência agradável descobrir que ele tinha interesse apenas nas possibilidades que estar perto dela lhe renderiam. Mesmo assim havia estado confortavelmente próxima à Alicia e, em diversos momentos, se pegou apreciando a companhia da veterinária.
Tinha medo de acabar machucada, mas decidiu dar uma chance e acreditar na boa índole que ela parecia ter. Terminou seu almoço relembrando as conversas e as coisas que havia feito com a veterinária pela manhã. Se preparou para deitar e descansar um pouco após comer, sabia que não escaparia do irmão mais tarde e queria estar descansada. Foi só quando ela se deitou e se ajeitou na cama que se deu conta de que havia prestado atenção demais à veterinária.
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Argentum [EM REVISÃO]
RomanceAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...