O almoço com Dona Marta foi animado e divertido como todos os outros momentos em que Maia tinha tido a oportunidade de estar com a mãe da namorada. Depois dele Alicia foi obrigada pela mais nova a voltar ao trabalho e Maia desceu com a veterinária para ficar com Talitha na recepção. Houve apenas mais uma consulta naquela tarde e os momentos livres as três passaram juntas conversando e comendo os biscoitos que Marta preparou e levou para elas no meio da tarde antes de sair. Apenas quando a mais velha as deixou foi que Alicia e Maia decidiram contar o ocorrido no banco para Talitha.
A garota ficou extremamente brava e irritada falando o quanto queria estar na frente do irmão para acertar-lhe a cara, mas Alicia a acalmou dizendo que agressões não resolveriam nada. Apesar de ela própria estar se controlando desde que ouviu a história toda para não fazer exatamente o que a melhor amiga estava querendo. Ao final Maia explicou o que fez após sair do banco para as duas, já que não havia entrado em detalhes com a namorada antes. Talitha sabia que aquilo traria consequências nada agradáveis para o irmão, mas ainda nem achava ser o bastante, internamente decidiu que contaria todo o ocorrido a mãe quando chegasse em casa. Sabia que Dona Catarina amava o filho, mas mesmo reconhecendo que ele tinha alguns comportamentos errados sempre encontrava uma razão para defendê-lo e ela não suportaria que o rapaz fizesse a cabeça da mãe para se passar por inocente.
- Nunca concordei com o jeito do meu irmão de ser – falou ela com um suspiro cansado e ainda irritado – Sempre o achei muito egoísta, mas tentava não atribuir a falta de caráter, mas dessa vez ele foi longe demais.
- Ele sempre andou com os piores tipos da cidade, Talitha – falou a veterinária rolando os olhos, estava de braços cruzados sentada em uma das duas cadeiras em frente a mesa da recepção, Maia na cadeira ao lado – Nunca me dei com o jeito dele, sempre foi machista.
- Não nego isso e depois de certa idade entendia perfeitamente porque você se mantinha afastada dele, principalmente depois de se abrir comigo sobre sua sexualidade – falou a mais nova se sentando em sua cadeira de novo, depois de estar andando de um lado a outro atrás da mesa – Mas sabe, acho que Renato está com o ego ferido.
- O que quer dizer com isso? – questiona Maia que acabava de mastigar um pedaço do biscoito que ainda estava nas suas mãos.
- Renato sempre quis ter algo com Alicia – falou a mais nova delas dando de ombros e alcançando mais um biscoito no prato sobre a mesa.
- Aff, Talitha. Por favor né – a veterinária diz rolando os olhos e pegando um pedaço do biscoito que Maia havia acabado de partir – Tínhamos 15 anos. Não é possível que ele considere esse episódio até hoje, por favor.
- O que aconteceu? – Maia perguntou encarando Talitha e não a namorada que sorriu divertida tentando pegar o outro pedaço do biscoito antes que a menor conseguisse coloca-lo na boca, o que não conseguiu.
Talitha queria rir do jeito despreocupado que as duas tinham naquele momento, mesmo falando daquele assunto. Mas percebeu nos olhos verdes uma curiosidade misturada com certa irritação, algo que a mais nova classificou como ciúmes, mas que escolheu não comentar.
- Não lembro que idade eles tinham, mas acho que foi por volta dos 15-16 mesmo – ela começou a contar e viu a veterinária rolar os olhos e colocar a cadeira mais perto de Maia tentando de novo pegar um pedaço do outro biscoito que Maia havia alcançado.
- Renato quis ficar comigo e eu disse não – respondeu Alicia ainda sem conseguir outro pedaço, mas fazendo a dona do Rancho lhe encarar – Foi numa das férias que vim passar aqui, teve uma festa de carnaval, não me lembro mais exatamente quem organizou. Ele era de um dos grupinhos de rapazes que 'faziam sucesso com as meninas', digamos assim – a veterinária fez aspas com os dedos ao falar do grupo – Mas eu sempre os achei idiotas. Todos eles tentaram ficar comigo nessa festa, parecia até que estavam competindo para ver quem conseguia – rolou os olhos ao se lembrar e desistiu de pegar os biscoitos de Maia.
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Argentum [EM REVISÃO]
RomanceAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...