Capitulo 16

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N/A: Capítulo 5/7 da Maratona 


Na manhã de quinta-feira Maia estava no escritório. Antonieta e Maria estavam reorganizando o lugar conforme ela pedia enquanto ela dava atenção a separação dos documentos. Havia muita coisa desorganizada e muitos documentos não digitalizados. Já estava cogitando pagar alguém para ajudá-la a digitalizar tudo, e provavelmente era isso que faria nas próximas horas, mas foi interrompida por Giulio que chegou no escritório com uma expressão preocupada.

- Bom dia Srta. Almeida – disse o senhor se aproximando da mesa atrás da qual Maia estava sentada – Será que eu poderia falar com a senhorita um momento?

- Claro Giulio, o que aconteceu? – ela perguntou largando tudo o que tinha nas mãos para dar atenção ao homem.

- Um velho conhecido de seu tio-avô acaba de me ligar – disse ele se sentando numa das cadeiras em frente a mesa – Ele é um velho comprador dos nossos cavalos e há alguns meses havia combinado com seu tio de vir ao Rancho ver nossos potros de ano e meio. Eles tinham um acordo do ano passado a respeito de um garanhão. Seu tio usou em algumas éguas no ano retrasado e, pelo acordo deles, seu tio-avô deveria deixar dois terços da produção do garanhão para que ele escolhesse três animais.

- Não acredito que isso seja um grande problema – respondeu Maia dando de ombros por realmente não ver nada complexo na informação – Marcamos com ele para visitar o Rancho logo após o inventario sair e ele poderá escolher entre os animais que foram separados.

- Esse é o problema Senhorita Almeida – disse Giulio coçando a barba do queixo – Com seu tio adoecendo e todas as complicações da doença e depois do enterro eu acabei me esquecendo que eles já haviam agendado a visita. Os dois haviam marcado a visita para a próxima segunda, mas o Senhor Augustus nunca chegou a separar os potros que não seriam colocados entre os que esse comprador poderia levar.

- Até segunda-feira o inventário já deve estar concluído – disse Maia voltando a pegar seus papéis para continuar o que fazia – Não sei se já terei assumido oficialmente o Rancho, mas não há problema nenhum em cumprir o acordo com esse senhor. Você pode separar os animais que ele pode escolher e deixá-los num dos piquetes próximos.

- Senhorita – falou Giulio com um olhar nervoso e receoso – Eu entendo de cavalos, sei dizer qual é bem domado, qual é saudável, de qual raça eles são. Mas eu nunca acompanhei as escolhas do senhor Augustus quanto a decisão de quais animais ficam e quais são vendidos – admitiu ele – Eu não saberia dizer qual dos potros pode ser um bom animal e qual não será. Quem sempre fez isso foi seu tio-avô. Sempre foi ele que avaliou os animais mais jovens. Não me sinto confortável em assumir essa responsabilidade porque a importância de escolher esses animais que vão ficar é muito grande.

Maia largou novamente os papéis encarando Giulio com um olhar quase assustado. Ela não tinha a menor ideia de como se escolhia um cavalo, muito menos um cavalo jovem. Sequer saberia dizer qual dos potros seria o melhor ou o pior. Corria o grande risco de fazer um péssimo negócio com esse comprador, porque o homem poderia muito bem escolher os melhores animais filhos do garanhão e deixa-la apostando nos piores como se fossem tão bons quanto os outros. Por alguns minutos ela e Giulio se encararam sem saber o que fazer, até que ela perguntou a ele se havia alguém confiável que entendia o suficiente de cavalos para avaliar os potros antes do comprador. Só havia um nome que preenchia esses requisitos: Alicia Ferraz.

Dispensou todos do escritório e checou o relógio. Marcava 9h51 quando ela pegou o celular com o número da clínica de Alicia. Respirou fundo se preparando para pedir a veterinária aquele favor, sequer sabia o que propor ou que tipo de serviço seria esse para que ela cobrasse. Mas não tinha outra opção além de recorrer a boa vontade de Alicia Ferraz. Discou os números no telefone fixo e ouviu a chamada ser completada, quatro toques e uma voz desconhecida soou do outro lado.

- Bom dia, Clínica Ferraz, quem fala? – falou a voz feminina.

- Bom dia, eu gostaria de falar com Alicia Ferraz – disse Maia torcendo para que a veterinária não estivesse ocupada.

- Sinto muito, mas a Doutora Alicia não se encontra no momento – disse a voz com um tom diferente que Maia achou se parecer com irritação – Mas a senhora pode deixar recado comigo ou marcar uma consulta. É algum problema com seu animal?

Maia pensou por alguns segundos, poderia marcar uma consulta e ir até a cidade para isso ou pedir que a veterinária viesse até o Rancho. Mas não sabia se Alicia aceitaria ou até se ela seria capaz de ajudá-la a separar esses animais. A melhor opção seria conversar diretamente com ela o mais rápido possível. Decidiu então tentar convencer a moça ao telefone a informar o celular pessoal de Alicia.

- Eu preciso falar com ela com uma certa urgência – disse ela soltando um suspiro logo antes de continuar – Qual o seu nome? – ela perguntou tentando um tom brando.

- Sou Talitha, a secretária da clínica – disse a moça com um tom desconfiado que fez Maia rir e se recordar que estavam numa cidade pequena e a garota claramente desconfiaria de alguém que não soubesse quem ela era.

- Meu nome é Maia Almeida, eu sou a nova administradora do Rancho Aureus – ela se apresentou e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios quando ouviu a garota arfar em surpresa com a informação – Aconteceu uma situação aqui no Rancho. Eu preciso separar alguns animais, mas nem eu nem meu funcionário de confiança temos conhecimento suficiente para tomar uma decisão com segurança a respeito desses animais. Eu não sei dizer se Alicia vai poder me ajudar, mas pude conversar com ela por algum tempo e ela me pareceu de confiança.

- Você ligou para ela para pedir ajuda? – perguntou Talitha com uma voz surpresa.

- Sim – concordou Maia humildemente – Eu sei que não é correto e vou entender se não puder fazer isso por mim, mas eu tenho que tentar. Preciso falar com Alicia ainda hoje. Seria possível você me informar o celular dela?

Houve um silencio na linha por um longo tempo. Maia ainda podia ouvir a respiração de Talitha e presumiu que a garota estivesse pensando na possibilidade. Acreditou que ela poderia estar considerando lhe dizer o número da veterinária e, unicamente por isso, Maia ficou calada esperando uma resposta. Por quase dois minutos elas permaneceram quietas até que ela decidiu interromper a concentração da garota.

- Eu sinto muito pedir algo assim, mas realmente precisava tentar falar com Alicia ainda hoje – disse ela em tom de desculpas.

- A Alicia está em uma pequena viagem – disse a garota chamada Talitha – Ela foi a uma cidade vizinha ver algo sobre alguns materiais de reposição e novos equipamentos. Deveria ter voltado essa manhã ainda, mas ligou avisando que permaneceria até a tarde. Eu não sei dizer exatamente a que horas ela vai voltar.

- E nem pode me passar o contato dela, eu entendo – disse Maia suspirando em desistência.

- Senhorita Almeida – chamou a garota fazendo Maia voltar a prestar atenção a conversa – Eu poderia perguntar porque razão decidiu pedir ajuda à Alicia sendo que a conhece a tão pouco tempo?

- Eu apenas senti que ela era alguém confiável – respondeu Maia depois de uma certa hesitação – Pude conversar muito com ela em sua última visita e acredito que ela seja uma pessoa íntegra. Do tipo que me diria a verdade se eu lhe perguntasse. E, como não entendo nada de cavalos, é disso que preciso no momento.

Houve mais um silêncio na linha, nenhuma das duas falava nada após essa declaração de Maia. Mas antes que ela desistisse de esperar uma reação e se despedisse para encerrar a chamada Talitha pareceu reagir.

- Vou lhe passar o celular dela – disse a garota nervosa por saber que Alicia provavelmente lhe daria uma grande bronca por passar essa informação – Não sei se ela vai poder voltar hoje, mas vou lhe passar o contato dela.

Quando encerrou a chamada com o número da veterinária anotado num bloco de notas a sua frente Maia mal podia acreditar que havia conseguido. Ela definitivamente não estava esperando conseguir o número do celular de Alicia quando ouviu que ela não estava na cidade e que estava falando com a secretária da clínica de Alicia. Agora ela encarava o número de telefone e, sem saber bem o porquê, sentia-se ansiosa e nervosa ao mesmo tempo pensando que precisava ligar para a veterinária.

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