Era nítido nas feições da veterinária que a notícia que ela estava recebendo naquele telefonema não era das melhores. Maia se manteve sentada no sofá, ao lado de onde a namorada estava em pé próxima ao telefone, com os olhos atentos ao olhar preocupado de Alicia que evitava encarar qualquer um ali naquela sala. Enquanto ela agradecia por Talitha ter ligado para informá-las do ocorrido Giulio e Carlos entram na sala pela porta da frente. Os dois com sorrisos por algo que o mais velho falava, mas mudam suas expressões assim que percebem o clima tenso no ambiente.
- Aconteceu algo? – Giulio foi o primeiro a se manifestar fazendo a pergunta mais especificamente direcionada a sua esposa.
- Renato acabou de sair da cadeia – quem respondeu foi Alicia.
Ela finalmente deixou seus olhos se encontrarem com os verdes e, sem pensar em muito mais, seus pés a guiaram até que se sentou ao lado da namorada passando seus braços em volta da mesma. Nenhuma das duas se preocupou com qual seria a reação do homem mais velho, que era um dos únicos que ainda não havia visto as duas juntas até aquele ponto. Mas apenas Carlos notou que seu pai não demonstrou nenhuma reação de surpresa ao ver as duas mulheres mais jovens se abraçando com carinho.
— Não pode ter sido só isso, você está com uma expressão muito tensa – Maia observou erguendo a mão esquerda até o rosto da namorada e acariciando o maxilar e queixo da mesma.
— Eu não entendi bem e nem Talitha conseguiu dar uma explicação concreta. Mas parece que ele apareceu em casa e houve algum tipo de briga feia entre ele e Dona Catarina – Alicia explicou deixando um beijo na mão de Maia antes de encarar o resto das pessoas na sala que observavam a cena esperando mais explicações também, seu rosto corou levemente ao perceber que os três pares de olhos haviam observado a interação carinhosa entre ela e Maia, mas ela logo prosseguiu – Só sei que houve uma discussão séria, que ele saiu levando grande parte de suas coisas e que Talitha encontrou a mãe aos prantos.
Todos os que ouviam tinham expressões irritadas e preocupadas, nenhum dos presentes naquela sala tinha mais algum apreço pelo rapaz, mas ouvir que ele havia deixado a mãe aos prantos era revoltante. Mas o único que expressou isso foi Giulio.
- Se Rodrigo ainda fosse vivo esse garoto não tinha coragem de fazer metade das barbaridades que fez – o senhor falou no tom mais bravo e nervoso que Maia já o havia visto usar e, logo depois, se sentou em outro sofá esfregando a mão direita na barba branca de seu queixo num gesto de irritação.
- Desculpa, meu pai, mas o senhor tem que admitir que o Sr. Borges não era lá um homem conhecido pela sua educação – falou Carlos cruzando os braços ainda em pé ao lado do sofá onde o pai, e agora sua mãe também, se sentara – Lembro das histórias de ele se envolver em várias brigas e ser dito como muito rude.
- Rodrigo era sim grosso e até mal educado – concordou Giulio olhando para o filho – Mas se havia alguém nessa cidade que sabia ter espeito pelo outro esse alguém era ele. Borges apenas não tinha paciência pra ouvir outras opiniões mal educadas, por isso todas as brigas em que se envolveu. Mas isso que o garoto, Renato, fez – Giulio pausou seu discurso para balançar a cabeça de um lado para o outro enquanto também fazia um gesto negativo com o indicador direito, quando continuou suas palavras pareciam mais uma reflexão própria do que realmente um discurso para os ouvintes ali presentes – Aposto como ele teria sido o primeiro a fazer festa por ver a Dona Veterinária feliz com a Senhorita. Por mais que Roberto odiasse os Augustus por conta dos erros passados do Patrão, ele saberia reconhecer que a Senhorita Maia não é o Tio-avô.
Houve um pequeno silêncio enquanto os três mais jovens ali se encaravam confusos com a declaração do Gerente e os dos mais velhos olhavam fixamente para pontos aleatórios como se relembrassem um passado muito distante. Maia, como a mais curiosa entre eles, foi quem interrompeu o silêncio de Giulio querendo entender as declarações do mesmo.
- O que quer dizer com isso, Giulio? – ela perguntou se movendo ansiosamente para a ponta do sofá – Porque o pai de Talitha e Renato odiaria meu Tio-avô, mas não a mim? E, como assim, ele seria o primeiro a fazer festa pelo meu relacionamento com Alicia?
Giulio encarou os olhos verdes da sua nova patroa e, logo depois encarou a mulher que o olhava esperando o que ele faria. Notando a indecisão do marido Antonieta resolveu entrar na conversa.
- É uma história longa, muito longa e incrivelmente antiga – ela comentou olhando entre o marido e a patroa – É uma velha história de família sobre coisas muito complicadas de uma época muito antiga.
- Bem, eu gosto muito de histórias longas – Maia deu de ombros voltando a se recostar no sofá, mas com seu tronco mais sobre o tronco da namorada do que sobre o próprio encosto do sofá – E eu realmente fiquei curiosa sobre isso. Além de eu ser da família, aparentemente, essa história toda envolve a mim nesse presente. Eu definitivamente gostaria de saber.
Giulio e Antonieta se encararam, em parte eles estavam inseguros em trazer a tona novamente acontecimentos tão antigos que afetaram demais a própria vida deles e, principalmente, a do falecido patrão. Eram assuntos deixados a tanto tempo no passado que eles até não se sentiam confiantes em relembrar todos os detalhes. Em certo momento os olhares deles passaram por Alicia e Carlos e, nesse momento, Giulio ficou incrivelmente desconfortável em falar de algo que ele considerava tão pessoal para o falecido Patrão em frente a pessoas que não eram intimas dele.
- Giulio, eu entendo que é uma história antiga e que, aparentemente, é muito pessoal do meu falecido Tio – Maia interrompeu os pensamentos tumultuosos e conflituosos do casal em frente a ela – Compreendo que você pode estar sentindo que está invadindo a privacidade do meu Tio, mas pelo que entendi essa "história de família", por mais antiga que seja, me envolve e também envolve o meu relacionamento. E, apesar de compreender sua situação, eu acredito que não fará mal algum falar sobre. E, se sua preocupação, são as pessoas aqui presentes, tenho que dizer que, assim como eu, sei que você confia totalmente em cada uma delas. Não falta confiança, nada do que nos for contado sairá dessa sala.
O casal se encarou por alguns segundos, os anos juntos ajudaram na velocidade daquela comunicação. Quando voltou a encarar as duas mulheres abraçadas no outro sofá Giulio tomou a silenciosa decisão de, pela primeira vez em décadas, falar daquela história sem receios e sem omissões. As duas mereciam saber, Maia principalmente já que era uma coisa importante que aconteceu no passado da família. Mas, quem realmente merecia ter aquela história contada, era uma das pessoas que a protagonizou, alguém que nunca foi realmente lembrado por quem era, apenas por ser filho de quem foi.
- Vou buscar um café para nós enquanto Giulio começa – Antonieta disse se levantando, ela sabia que ficariam ali por um longo tempo.
- Bom, antes de tudo eu tenho que dizer que é uma história que aconteceu a muito tempo mesmo – ele começou suspirando – Meu pai era o capataz na época e eu o ajudava, por isso acabei sabendo de muitos detalhes mesmo não sendo próximo de nenhum dos envolvidos.
- Pai, por favor, não enrole – pediu Carlos num sussurro já sentado em uma das poltronas.
- Acho que tudo começa com a história de como Rodrigo se tornou amigo de Tomás Augustus, o primeiro filho do Patrão – Giulio ponderou se ajeitando no sofá – Mas pra explicar isso tenho que contar um pouco de quem era o Patrãozinho e quem foi Rodrigo naquela época.
... Continua na próxima semana...
N/A: Eu Sei que estou atrasada, ok?
Mas é que eu meio que dormi ontem pq passei parte da noite escrevendo o capítulo =P
E não me matem!!!! Eu não quis cortar a história pq ela vai ser enorme (então o capítulo da semana que vem vai ser imenso). Só por isso que eu parei nesse ponto ok? kkkk
Essa história vai ser importante pra explicar o presente de certos personagens, espero mesmo que tenham paciência cmg até segunda hehe.
Bjs pessoinhas, até o próximo
;]
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Argentum [EM REVISÃO]
RomanceAlicia Ferraz é uma simples veterinária, mas talvez não tão simples assim. Mora numa cidade pequena no interior do Rio Grande do Sul, deixou toda a vida que havia construído em Porto Alegre para voltar e cuidar dos pais. Quando o pai, também veterin...