VII

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Um som doce e etéreo. A batida crescia, seu ritmo tornava-se ao mesmo tempo melífluo e frenético.

Uma virada rápida, uma pirueta brusca.

"De novo."

O metal quente da arma nos dedos, a textura da pólvora na mão. O coração de Wanda queria rasgar um caminho para fora do tórax, mas seus olhos permaneciam selados como se tampados por cera. Ela via e ouvia pelos olhos de outra pessoa, de uma menina ruiva e com os músculos cansados.

"Você é feita de mármore."

O pescoço dela se alongou, um cisne de tão elegante, mas doía a ponto de as pontas dos dedos insistirem em tremer mesmo que sua postura fosse tão delicada e bem treinada. A coluna estralou, ela sentiu ao movimento das costelas por debaixo da pele.

As batidas doces, tão doces e gentis da canção faziam os ouvidos sangrarem. Só os acordes do piano eram capazes de fazer seu corpo verter em agonia.

"Eu não tenho lugar nesse mundo."

Wanda sabia o que era aquilo. Sabia quem estava dançando. Sabia que depois essa adolescente de rosto sereno e franja inocente teria armas na mão e sangue respingado nas roupas. Sabia que ela não sentia e não podia se deixar sentir.

Uma pena que um nome escapou de seus lábios, naquela sua voz tão adoravelmente rouca:

"Yelena."

A Feiticeira Escarlate levantou seu tronco da cama antes mesmo de abrir as pálpebras, ainda a tempo de assistir a queda da miríade de objetos suspensos no ar por seu poder rubro. Livros, cadeira, abajur, até uma garrafa d'água foi ao chão com um estrondo terrível, um estrondo, porém, que ela não pôde escutar.
A canção ainda lhe enchia os tímpanos, dando voltas e mais voltas em sua cabeça. Antes ela gostava da música, pois lembrava-lhe o final do ano e a neve, os momentos alegres que ainda tinha antes dos dez anos de idade. Então ela tocou a mente de Natasha Romanoff e viu o Salão Vermelho.

Passou os dedos nas têmporas, sentindo os pontos acima do sobrancelha esquerda. Sua pele no pescoço e nas clavículas estavam salpicadas de suor, enquanto os músculos dos braços e pernas ardiam como se de fato ela tivesse virado a madrugada inteira dançando balé.

Ela sentiu nojo, ódio, pena e dor. Principalmente dor.

"Você vai quebrá-las."

Como? Como podiam fazer isso com aquelas garotas? Elas não deviam ter mais do que doze anos quando começavam.

"Apenas aquelas que são quebráveis."

Fazia tempo que Wanda não era assombrada pelos tormentos de seus... Amigos? Enxugou as lágrimas que nem viu escapar de seus olhos. Abraçou os próprios joelhos, recusando-se a saber que horas eram no relógio.

Ela tinha feito Natasha reviver tudo aquilo com apenas um toque de seus dedos. Natasha, Banner, Thor, Stark e Stevie. Resfolegou. Não fazia ideia de como a Viúva Negra ainda conversava com ela, lhe contava piadas ácidas e compartilhava o melhor de seu humor sarcástico. Não fazia ideia de como ela ainda a considerava sua amiga.

Ela realmente considerava?

Não tinha sentido nenhum deles querer sua presença, isso ela entendia. Isso fazia sentido. Os amaldiçoara com visões da pior espécie por vingança de algo feito apenas por Stark, ou nem feito por ele, na verdade. Wanda já não sabia mais. Parecia justo a maldição se virar contra a própria Feiticeira.

Dois anos atrás ela e seu irmão finalmente conseguiam atingir os Vingadores e tudo aquilo que eles representavam ao seu país: Armas e guerra, miséria e corrupção; O mundo Ocidental tóxico e egoísta, olhando apenas para quem quer olhar, ou melhor, para quem pode tirar vantagem. No fim, seu lar foi destruído e seu irmão foi morto.

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