XLIII

672 71 166
                                    

Wanda estava parada na frente da porta de Bucky Barnes há cinco minutos inteiros. Por sorte ninguém a vira ali, com a mão erguida e hesitante, pronta e ao mesmo tempo despreparada para lidar com a situação. Natasha riria dela, Shuri a desprezaria. Sam ficaria ofendido, Steve confuso. Inspirou fundo pela décima vez. Tinha que explicar o que acontecera na Biblioteca Real. Tinha mesmo? Ela sentia que sim e sentia que não. E sem esperar que ela decidisse afinal qual era a melhor opção, a porta se abriu.

— Eu estava me perguntando quando você bateria. — Bucky disse, encostado no batente da porta com o braço metálico. Ele deu um meio sorriso, daqueles de lado, e depois parecia ter se arrependido, como se sua pose casual fosse forjada. Ele lembrou-se como estivera na mesma posição antes, só que sem a coragem de entrar no quarto e consolá-la em seu choro. — Digo, porque dava para te ouvir murmurando um pouco do lado de fora, não que eu esperasse que viesse aqui por algum motivo e... Bom, no que eu posso te ajudar?

— Bem, eu... — A boca de Wanda ficou seca. Apertou mais o livro roxo com a outra mão, a esquerda, fato que Bucky pareceu notar. Nem ela sabia porque tinha trazido o livro. — Acho que devo algumas respostas a você, pelo o que houve.

— Você não tem que se explicar. Não se não quiser.

— Eu gostava do jeito que não havia segredos entre nós quando...— Ela engoliu seco. — Quando nós encontramos.

"E não quero que isso acabe." Ela pensou, sem ousar dizer tais palavras, e ao mesmo tempo desejando que ele as entendesse.

Silêncio.

— Entre.

O quarto dele era um quarto padrão, parecia de hotel. Cinza, com detalhes em madeira e metal. Ele dobrava as roupas de cama perfeitamente, talvez do jeito que fazia no exército. No entanto, isso fazia com que o ar do quarto fosse impessoal, nulo. Como se ninguém morasse ali.

Wanda se virou para James Barnes, tentando ao máximo se manter calma enquanto assistia sua aura escura e retraída. Ela então tomou súbita consciência o quanto sentia-se menor que ele, mesmo que a diferença fosse de dez centímetros ao máximo. Era forte, encorpado, mas ela não sentia perigo na presença do Soldado Invernal, hoje com um braço metálico sem estrela vermelha e sim com linhas levemente douradas. James vestia roupas básicas, blusa até os cotovelos e um jeans. Havia ainda aquela corrente, aquele puxão, que a atraía para dentro de seus pensamentos e memórias, mas aquele não era o momento, não o de repetir a invasão que fizera ao longo de dias. De todas as pessoas, Barnes era a que merecia mais respostas dela.

Ele fez sinal para que se sentasse e ela o obedeceu, escolhendo a ponta da cama. Por sua vez, ele apoiou os braços no encosto de uma cadeira, que dava de frente para uma simples escrivaninha também vazia, e esperou o que a Feiticeira tinha a dizer. Até que notou um curativo em seu braço, no local onde sempre inserem-se agulhas, tira-se sangue.

— O que houve com seu braço? Não está se sentindo bem?

— Oh, é apenas um exame de sangue. Nada demais.

Ele soltou um "Hm" não bem convencido e permaneceu reticente, ao passo que Wanda sentia um engasgo de tão forte que seu coração batia.

— Eu... — A frase quase morreu em seus lábios. — Eu não sei o que houve para entrar na sua cabeça da primeira vez. Eu tentei descobrir na segunda, na terceira... E ainda não sei a razão. Só entendi que suas memórias se alinhavam com coisas que eu sentia, e que você sentiu.

— Eu sinto muito que tenha sentido todas essas coisas. E que tenha visto o que viu.

— Não é isso o que quero dizer. Na verdade sou eu que tenho que pedir desculpas. — Ela levantou os olhos. — O que eu quero dizer é que você foi uma das pessoas mais honestas que já encontrei. Ou que me encontrou. E eu devo isso a você, James, respostas. Ou um meio de se livrar tudo o que a HYDRA fez contigo.

VaziosOnde histórias criam vida. Descubra agora