XXIV

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Mesmo que repousada numa poltrona anatômica e acolchoada na Biblioteca real, as costas da Feiticeira Escarlate doíam, ou talvez a pesada sensação fosse o restante de seu ego. Era início da tarde e ela passara a manhã com Shuri e as Adoradas na arena de treinos.

Elas, no pouco que falaram e o fizeram em inglês, foram gentis, mas riam em wakandano. Seus bastões e golpes foram rijos e rápidos. Brutais e eficientes. Wanda sentiu-se uma rata nas garras de um bando de panteras, que deliciaram-se com a novidade. Como Shuri havia lhe dito, "Estrangeiros eram apenas para diversão."

Em seu íntimo, sabia que os risos ligeiramente debochados e os olhares compadecidos das Adoradas eram mais do que justificados. Jamais seria páreo para o grupo de elite daquela nação num combate corpo a corpo, mesmo que passasse o resto de seus dias treinando ao Sol. Era simplesmente ridículo.
A princesa, em um momento de bondade, lhe deu orientações de como firmar as pernas no chão e movimentar seu corpo com mais destreza. E então deslizou o pé esquerdo para trás, a perna direita se flexionou. Wanda assistiu o joelho dela atingir inevitavelmente a lateral de seu corpo, assim como dias atrás.

Ela caiu, de novo.

E ao levantar, Wanda teve certezas de duas coisas:

As Adoradas, trajadas em cores fortes e com lanças que poderiam fazer as nuvens sangrarem, tinham a mente e os músculos disciplinados. Eram fortes, confiantes. Conheciam cada palmo de seus limites, e este era o infinito.

E ela nunca provaria deste sabor.

Wanda piscou, percebendo que sua mente vagueara. Não era a primeira vez essa tarde que sua consciência voara longe, mas não era para esta memória ou para este alguém que ela queria voltar. Saber que ansiava por estar no mesmo cômodo em que James estava lhe provocou estranhamento e rubor, a ponto de tentar focar-se em algo diferente.

Ouvia-se o som de cliques, anotações e páginas sendo viradas, mas a cabeça de Wanda estava dividia entre seu costumeiro tumulto e a fadiga. À sua frente, longos tratados e artigos sobre neurociência e química. A verdade é que não tinha compreendido tanto quanto gostaria ou deveria, mesmo com um caderno de anotações, o tradutor automático da biblioteca e Shuri a sua frente. Gostara dos trechos integrados de psicologia e até mesmo arriscara ler um tanto de psicanálise, mas logo as palavras se misturavam e aquilo parecia ser uma grande perda de tempo.

Era uma tentativa de desvendar o funcionamento dos poderes telepáticos de Wanda e como aquilo poderia ter transportado-a para uma memória de forma física, mas não achava que Shuri a ajudaria desta forma. Delegar a direção por onde começar ou o que ler à princesa de Wakanda era desconfortável, tratando-se de que era mais sobre si própria que ela queria descobrir. Infelizmente, ela voto vencido sobre tal tema. Tanto Steve, quanto Sam acharam que seria uma boa ideia pesquisar mais sobre como os poderes dela funcionavam em tal nível, uma vez que na base em Nova York eles se preocupavam mais em como rajadas de energia rubra poderiam incapacitar inimigos.

— Não estamos chegando a lugar algum. — Disse Wanda, com um suspiro incontido.

— O que você achava? Alguma resposta milagrosa só porque estamos em Wakanda? Ainda temos que estudar e ler, Maximoff.

— É, eu meio que esperava isso mesmo. Você me deu falsas expectativas.

Shuri interrompeu sua leitura apenas para encará-la com uma carranca.

— Se acha que estamos na estaca zero, diga isso só por você. Minha formação é mais específica em engenharia e estratégia militar, então é posso dizer que estou estudando matéria extra.

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