XL

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Assistir Natasha praticar exercícios de ballet, embora de forma improvisada nas barras da varanda, fazia Wanda Maximoff esquecer de seus problemas. Era cedo, o céu ainda estava tingido de rosa e com poucas nuvens no céu, todos os tons combinando com a aura da espiã, que por sua vez ficara um tanto surpresa por receber Wanda em seu quarto logo nas primeiras horas da manhã. Ela, trajada num collant preto, exalava serenidade e uma travessura contida. Esticou-se mais um pouco, em silêncio no movimento gracioso do Grand battement, finalizando a sequência inteira de exercícios. Com os braços erguidos e a mão relaxada, Wanda enxergava nela uma bailarina completa.

Uma bailarina fatal.

Ela alongava-se e Wanda podia ignorar a canção de ninar polonesa que repetia-se em seus ouvidos. Natasha flexionava os joelhos e contava uma piada sórdida e Wanda esquecia-se da imagem de uma montanha vinda de um sonho. De um pesadelo.

Era bom conversar em sua língua natal com alguém, ainda mais que Natasha já havia se acostumado com o dialeto e expressões idiomáticas de Sokovia, e Wanda também conseguia reproduzir com perfeição o sotaque de Moscou.

— Estou mal acostumada com elogios seus quando me vê praticar, Wanda. — Ela quebrou sua postura perfeita com um sorriso de lado, zombeteiro. Logo em seguida sua expressão voltou à perfeição da porcelana. — E hoje nem para dizer que adorou meu coque. Devo me preocupar?

Wanda soltou um sorriso. De fato, todos os episódios anteriores em que assistira-a dançar foram acompanhados de comentários aqui e ali como a sequência era encantadora. A Feiticeira não podia mentir sobre isso e admirava a disciplina, a leveza e até mesmo um pouco da dor. Parecia uma dor útil, por mais romanceada que fosse. Diferente das dores que ela própria sentia.

Ela ajeitou-se no estofado da poltrona de vime, tomando cuidado para não derrubar o chá em si mesma e nem nos móveis. Poderia dizer que estava tudo bem, mas as olheiras não a deixariam mentir. Poderia usar seus poderes e fazer com que Natasha ignorasse o estado debilitado de sua amiga. Poderia simplesmente dizer a verdade, falar que estava aterrorizada com o que Xavier dissera e com os pesadelos que lhe assombravam, mas estava cansada.

— Você foi ótima, Nat. Sempre é. Sou eu que... Que estou com sono.

— Oh. Entendo.

Foi apenas o que respondeu. Desligou a música orquestrada que saía de seu celular e deu batidinhas no rosto com uma toalha, para tirar o brilho do suor. Era verdade que as duas se entendiam bem, mas isso não significava que a russa não se ferisse com tantos silêncios. Natasha sabia que havia algo de errado e sabia que Wanda não queria lhe contar. Pior, sabia que não contaria porque considerava que o peso era demais para seus amigos.
Isso tanto a ofendia quanto a preocupava.

— Eu parto amanhã de manhã. Tony Stark não é nenhum bicho-papão, mas é estranho que eu saia de cena logo depois de um incidente não bem explicado em Viena. E a ONU também deve sentir falta do meu rosto. E mais: Liho faz aniversário logo e eu prometi algo especial.

O gato de Natasha. Será que se daria bem com Ebony, o gato falante de Agatha Harkness? Wanda então sentiu o absurdo em seus pensamentos.
A resposta engraçada e evasiva que pensou em dar para sua amiga não foi dita por seus lábios e ela permaneceu a encarar um ponto vazio, dividida entre devaneios.

Até que notou decepção em Natasha.

Wanda não podia culpar a amiga por tentar entender o que acontecera para deixá-la tão abalada. Estava estampado na sua face, era notável. Talvez a russa imaginasse, com certa razão, que os motivos que a deixavam triste eram os mesmos de sempre: a morte súbita do irmão, a prisão com coleira elétrica e camisa de força, níveis baixos na absorção de serotonina...

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