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Alguém mal intencionado poderia dizer que Anthony Stark usava óculos escuros durante a noite só para parecer maneiro, mas além do fato de Tony Stark ser maneiro, o engenheiro mais cobiçado do mundo estava cansado dos flashes brancos fisgarem suas pupilas. Um dia foi acostumado com a sensação ofuscante dos paparazzi e dúzias de jornais exaltando seu nome, mas aquela vez era diferente. Ele colocou os óculos de lentes cor de vinho para escapar da luz irritante das câmeras e também na tentativa de enxergar a situação sob uma nova perspectiva.

Tony Stark não via com bons olhos aquela Conferência. Ainda acreditava que o Acordo de Sokovia traria benefícios aos aprimorados que se responsabilizassem por segui-la e ainda mais para os países que adotassem a lei. Evitaria conflitos políticos entre os países por conta de intervenção estrangeira dos Vingadores, um grupo paramilitar composto majoritariamente por americanos, com base no estado de Nova York. Existiria maior investimento nos equipamentos, treinamento e acomodações da equipe, bem como um plano de restauração e retratação caso alguma nação sofresse danos. Não era algo perfeito, mas era algo assinado por 117 países e guiado pelas Nações Unidas. Aquilo devia contar como alguma coisa. Alguma prova que Tony Stark fazia o certo.

No entanto, a Conferência Sentinela era uma situação a parte. Todo mutante poderia ser considerado um aprimorado, mas nem todo aprimorado era um mutante. Além do mais, ser mutante não era uma escolha, era genética, e as pessoas com o gene X tinham um triste histórico de opressão e segregação. É claro que alguns se tornavam algozes e cometiam crimes, mas uma raça inteira não deveria pagar pelos erros de alguns. Agora, por conta de uma confusão novamente em Sokovia em uma fábrica farmacêutica destruída por extremistas mutantes, o assunto de policiamento, registro e prisão sistemática de mutantes voltava à tona.

Ele não achava que uma Conferência dessa magnitude devesse ocorrer a noite feito uma baile de gala com todas aquelas figuras influentes e políticos, com flashes, glamour e hipocrisia. Não deveria parecer uma festa, num salão tão grande e bem iluminado, com o vermelho do carpete sob seus sapatos italianos, com dezenas de pessoas bem vestidas de uma sociedade seleta. Ele franziu o rosto numa expressão desgostosa, os vincos de sua face acentuando-se a fundo na pele. Andou mais um pouco, ignorando as perguntas de repórteres e focalizando seu lugar reservado nas fileiras da frente, que desenhavam um imenso semicírculo ao redor de um grande palco. Não era diferente da estrutura de um congresso, mas a sensação era de se estar no meio da Expo de 2010, onde apresentaram robôs assassinos das Indústrias Hammer.

"Seus batimentos cardíacos estão aumentando, senhor. Eu sugiro que se sente e peça um copo d'água."

— FRIDAY. — Ele cumprimentou sua Inteligência Artificial, sem se importar com os níveis de pressão arterial indicados pelas figuras nas lentes de seu óculos. Encarou as pessoas ao seu redor e indagou-se alguma delas acharia estranho que ele estivesse falando sozinho com a voz feminina que saia da escuta em seu ouvido direito. Nao importava.— Diga-me, é impressão minha ou você anda muito preocupada comigo? Por acaso desenvolveu alguma paixonite secreta por mim?

"Ah, humor para mascarar o estresse. Existem maneiras mais saudáveis de lidar com tensão, senhor."

Tony Stark pensou num copo de whisky e lençóis revirados pela manhã, hobbies do passado que não o levaram a lugar algum. Pensou também nas suas tentativas de salvar o mundo, salvar seus relacionamentos. Isso também lhe fez topar com um final sem saída.

— Eu construo coisas como Inteligências Artificiais que debocham da minha cara depois. Deveria tentar, acho bem terapêutico.

"Você poderia retornar a ligação da senhorita Potts. Sabe que ela anda preocupada com você desde..."

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