XLVI

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Magnus encarou o rosto assustado da jovem a sua frente, seus olhos refletindo a luz vermelha e etérea que ela própria conjurava com as mãos. Ele somente sorveu lentamente os detalhes de sua face tão parecida com Magda, e tentou não parecer muito impressionado. Ou muito furioso. O que aquele cientista havia dito...

Inspirou fundo e expirou como se estivesse apenas entediado, enquanto na verdade remoía as palavras ácidas do idiota que aparecera na tela. Eram ameaças, ele sabia. Jogo mental com uma pessoa que já sofrera perseguições de todos os lados. Ela era judia igual ele, mutante igual ele.

Não esperava encontrá-la ali, tão cedo e em lugar perigoso. Agora fazia sentido que todos aqueles soldados estivessem amontoados e desacordados no mesmo lugar. Tinha sido ela, com seus poderes telepáticos. O que não fazia sentido era o orgulho de saber tais proezas da jovem, a qual ele nem sabia a origem ou se realmente era mutante. Não haviam laços, apenas empatia.

Agradeceu por Frost ter sido rápida. Esperaram em Lviv assim como combinaram e somente os experientes saíram nessa missão, ou seja, ele, Frost, Psylocke e Raven. Objetivo principal era arruinar a base da antiga organização nazista, acabar com os Sentinelas e as três estavam a caminho disso, nos andares superiores. O objetivo pessoal de Magnus era descobrir mais justamente sobre a garota que insistia ser deveras semelhante com sua falecida esposa.

Viajaram num carro. Graças a telepata, não precisaram apresentar nenhuma documentação na fronteira. Graças a ela também, ele estava com seu capacete e trajava seu uniforme rubro, uma cor queimada por todas as suas memórias. Sentia, pela expressão da garota, que ela tentava ler seus pensamentos. Sentia que ela via um estranho reflexo de si mesma. Os dois no mesmo tom de sangue, com gestos das mãos semelhantes.

— Você é a quem chamam de Feiticeira Escarlate?

A mulher não respondeu, apesar de ter aberto levemente a boca. De repente aproximou o próprio braço perto dos lábios, chamando algum contato através de uma espécie de comunicador. Ajuda, reforços. Magnus fez um leve gesto com os dedos, lançando um novo pulso eletromagnético para avariar o dispositivo dela. Tudo o que era eletrônico felizmente era suscetível aos seus poderes.

E agora ele sabia que o século 21 era todo digital. Todo... Vulnerável.

Tsc, tsc, tsc. Não seja tão imprudente. Eu só quero conversar.

— Você é o homem das fitas. Dos manifestos mutantes... Magneto.

Ele assentiu, tirando um sorriso sem humor dela.

— Tenho certeza de que não quer só conversar.

— Perspicaz. — Não estava sendo sarcástico. — Eu vou destruir cada centímetro desse lugar e ir atrás de quem financiou esse... Projeto genocida. E empalá-los com o metal usado aqui. Você vai me impedir?

Mais uma vez, silêncio. Magnus andou um pouco pelo ambiente, observando os painéis cheios de pequenas telas e botões, medidas... Circundou a jaula de vidro, ainda assistindo a figura da garota através da superfície transparente. Parou então em frente a tela que recebera o golpe psíquico da jovem, apreciando a destruição e as faíscas que ainda saíam dos cabos elétricos. Por fim, parou poucos metros a frente dela, também em frente ao arquivo aberto. Encarou bem seus olhos.

Pegou uma das pastas, estranhou o grande "M" vermelho na capa. Folheou de forma casual.

— Bom, — Ele soltou mais um "tsc" casual com a ponta da língua. — Eu poderia ler melhor se você iluminasse mais aqui.

— Faça o que quiser com esse lugar. Só me dê esses arquivos e me deixe partir com meus amigos.

Magnus levantou uma sobrancelha e em seguida voltou seus olhos para a pasta. Tinha lido o próprio nome, visto também uma foto dela naquele centro de experimentos. Não tinha visto muito bem, só de relance, mas podia dizer de forma categórica que ela não tinha a mesma aparência saudável de hoje naquela foto. Estava encolhida, no canto de uma cela. Ele engoliu seco, sentindo ira inundar suas veias.

VaziosOnde histórias criam vida. Descubra agora