XXI

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— Aqui, café. — Sam apoiou uma caneca na mesa, o retinido da porcelana contra o vidro despertando a atenção de Wanda. — Só não vá ficar viciada igual Barton.

Ela lhe ofereceu um sorriso mudo e depois bocejou. Numa semana comum tomaria chá, mas a questão não era relaxar e dormir, mas sim permanecer desperta para pesquisar na Sala de Inteligência, junto a Steve e Sam. Tomou um gole longo do café encorpado e quente, com um aroma forte, já em seguida piscando os olhos de forma mais vívida.

Já fazia algumas horas que estavam ali, sendo que ela acordou primeiro. Mal dormiu pensando na memória de dois anos atrás de James, e agora tateava arquivos às cegas para tentar entendê-lo. Seus colegas de equipe concordaram que seria uma direção inteligente procurar para quem trabalhou e o que fez, para então saberem quem poderia estar a sua caça no momento.
Wanda tinha meios mais fáceis do que olhar arquivos mortos e notícias para desvendar isso, mas que lhe custava cacos de seu coração e fiapos de seu psicológico. Ainda tremia ao lembrar se da sensação de desamparo, do instinto selvagem e poderoso atrelado a um quê frágil, porque já havia sentido aquilo antes, em seu próprio corpo, em seus próprios ossos.

De ambas as maneiras, demandava a energia e a paciência da Feiticeira. Pouco do encontraram em dados espalhados da SHIELD/HIDRA mencionavam a história de fantasma que o Soldado Invernal tinha, e tal fato era esperado. Se Natasha pouco sabia dele, por quê haveria mais registros na SHIELD? Por mais que os arquivos tenham sido vazados pela Viúva Negra, descriptografá-los e selecionar os relevantes exigia tempo e paciência.

Devido a isso, pouco progrediram ao pesquisar sobre o Soldado Invernal ou a morte de JFK. Wanda, em sua busca pessoal, também não encontrara o restante dos relatórios da base próxima a Novi Grad, Sokovia.

—Talvez não devêssemos olhar tanto para trás. — Murmurou Steve, com a mão apoiando o queixo. — Sem operações de campo ou alguém tão bom em hack quanto nosso alvo, não temos tanto material sobre o Soldado Invernal. Mas, — Ele deu de ombros. — Podemos ver o que Zemo viu. Ele chegou até Bucky de alguma maneira.

As mãos de Wanda tremeram e junto ao espasmo, veio uma dor aguda em sua cabeça. Ela viu, por alguns instantes somente, um caderno com uma capa vermelha e uma estrela negra no centro. Suas páginas eram amareladas pelo tempo e sua aura despertava assombro visceral. Pensou ter gritado, mas ao abrir os olhos a cena do escritório continuava tranquila.

A luz de fora era amena no vidro das janelas, a luz de dentro artificial tingia tudo de branco e certo tom de higiene e esterilização. O cômodo era amplo, minimalista e neutro a ponto de Wanda sentir-se enojada. De repente lhe vieram à mente lembranças de hospitais que não eram hospitais, de laboratórios que não procuravam nenhum tipo de cura e médicos que causavam nada além de dor.

Steve apenas olhou para ela, soltando um sorriso reconfortante em meio aos papéis.

— Parece cansada. Que tal uma pausa?

— Não, eu... Eu vou continuar aqui. — Disse ela, com zero de convicção. Ela tinha visto aquilo mesmo? A imagem e a dor associada a ela eram praticamente palpáveis, mas o rugido caótico dentro de si murmurava manso. Só não sabia se era porque o usava muito nas noites no Laboratório ou se era indício que nada havia ocorrido realmente. — Talvez surja algo interessante. Se Natasha mandar algo, quero falar com ela.

— Não sei se algo diferente vai acontecer nas próximas duas horas. — Sam suspirou. — Te avisamos caso ela ou Clint entre em contato, mas acho difícil. Estamos a praticamente dez horas de diferença de fuso horário do Barton, e agente Romanoff geralmente notifica quando irá passar uma mensagem longa. Vá dormir um pouco.

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