XXIX

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Wanda tinha bolsas arroxeadas abaixo dos olhos, mas a pupilas fixas num ponto a metros de distância. Era cedo e o Sol não passava de um brilho opaco no horizonte, um ambiente deveras ameno e que não servia mais do que um cenário para os pensamentos fugidios da Feiticeira.

Sua postura estava ancorada na arena e no pouco que a fazia se prender ao mundo real, o braço tensionado assim como a corda do arco. Com a respiração presa, ela contara. E contara até nove. A flecha se foi veloz, pela primeira vez alcançando sua ponteira de metal exatamente no centro. Naquele instante, suas íris estavam vermelhas.

Não compreendeu aquele segundo infinito, não compreendeu as diversas flechas que viu no ar, como se pudesse enxergar cada possibilidade tomar forma diante de si e como fosse capaz de escolher qualquer uma delas a seu bel-prazer. Ela estava parada, ainda na mesma posição, como se pudesse tocar com as pontas de seus dedos os diversos mundos, explicados pela mitologia e pelas teorias de universos alternativos. Mas aquilo seus amigos não precisavam saber, pois já estavam preocupados demais com sua saúde.

Ela mal conseguira dormir.

Além de se perguntar como pudera escutar o número "nove" que ecoava na mente de James Barnes, ela se questionava a razão de ter ouvido. A ideia de que ele pudesse a ter chamado era doce, absurda e absolutamente impossível. A ideia de que não era nada isso era igualmente desconcertante, talvez pior do que explicar isso a um terceiro.

Suspirou. Já tinha gastado todas as flechas na aljava, portanto caminhava em direção ao alvo para arrancar aquelas que fincaram ali e as que caíram ao chão. Apesar de ser um trabalho repetitivo e extenuante, Wanda preferia a exaustão física à mental. Pegou as inúmeras que jamais alcançaram o alvo de madeira, depois cansou seus braços ao retirar as flechas da madeira.

Mas aquilo também era uma mentira.

Se Wanda pudesse ser estupidamente verdadeira, seria claro que as memórias de Bucky Barnes recheavam a maioria de seus pensamentos. Sim, eram terríveis, tão terríveis quanto as recordações que eram suas. Talvez Steve e Shuri estivessem certos, vagar pela mente do Soldado Invernal não a fazia bem, no entanto... A sensação do oceano abissal era autêntica e preferível à dor do vazio, feito um vício que as pessoas imaginam controlar.

De certa forma, apreciava a ressaca que sentia depois de se banhar na cor escarlate e viajar por lugares intangíveis.

Mas Barnes não lhe dera permissão. Aquilo a partia por dentro, afinal, era mais alguém indistinto a tocar e revirar sua cabeça e ela estava ciente de que tal fato era repulsivo. É claro que gostaria de ajuda-lo a sair do Brooklynn nazista que ele imaginava estar, porém também pensava se aquilo não era outro impulso egoísta seu.

Ás vezes ela podia ver realidades diferentes, onde ele era sorridente e cheio de alegria.

Com o arco chamado "Agneta" em mãos, ela se sentiu pequena e tola. Arco e flecha não fariam diferença nas mãos de quem conjurava energia carmesim e podia voar... Mas ela gostaria de ser como Clint Barton. Apesar do talento natural, seu único poder era ter tido força para treinar dia após dia. Foco, mira, treino, acertos.

Acertos.

"Está focando mais no alvo do que em si"

Talvez não houvesse significado profundo nenhum, mas ela insistiu em tirar um sentido metafórico naquilo que o Gavião Arqueiro dissera. Wanda estava se preocupando demasiado com o que estava fora de si, de forma que sua postura, seu jeito, andavam despreparados e inúteis para atingir seus objetivos. A recomendação dele, além de exercícios físicos, era simples:

VaziosOnde histórias criam vida. Descubra agora