Rubedo

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A prioridade era encontrar Natalya, que ainda jazia naquele terrível feitiço de repetição feito por ela mesma a fim de manter Chthon longe de Wanda Maximoff. E, por apenas alguns instantes, Wanda a viu além da escuridão. Estava igual à suas visões anteriores, parada na vegetação etérea entre a Travessia da Bruxa e a realidade, por mais distorcida que fosse dentro daquela Montanha. Era linda e trajava vermelho. Wanda gritou seu nome e a assistiu virar o rosto em sua direção, desacreditada. Sorriu, quem sabe pensando o quanto aquele momento era desejado e impossível.

Wanda estava ali. Realmente ali.

Agatha deu um passo a frente, segurando suas próprias vestes para andar mais rápido. Ela, a mestra, também sentia o momento mais palpável, sólido como jamais foi, pois Natalya conseguia enxergá-la de volta pela primeira vez. O feitiço teria, portanto, se quebrado? No momento seguinte, um urro ecoou no ambiente, um som que fizera a pele de Wanda se arrepiar de forma instintiva e instantânea.

Suas pupilas dilataram a fim de captar cada movimento, cada detalhe da figura demoníaca que se aproximava. O caos dentro de si reconhecia a presença dissonante, sua aura perversa e inabalável. Sua cor acendeu-se acima da pele, puro tom escarlate banhando-a por inteiro.

E então, a Feiticeira foi arrastada para o nada. A última coisa que ouviu foi a voz de Agatha Harkness, enquanto ela movia o braço para alcançar sua mão:

— Wanda!

A gravidade parecia suga-la mais rápido, para onde quer que fosse o chão naquele estranho plano de existência. No entanto, ela não enxergava nada. Nada acima ou abaixo de si, somente o vazio sombrio para onde quer que olhasse. Não gritou, mesmo que o ar fustigasse seu rosto, seus cabelos.

Wanda estava acostumada a cair em abismos. O seu silêncio era familiar, sua ausência de cores e sua indiferença imperativa. Já tinha caminhado pelos fundos de muitos abismos dentro de si e, mesmo que apreensão começasse a enraizar em seus pulmões durante a queda, Wanda se lembrava que além de cair, ela se levantava também.

Sempre, sempre.

Franziu os cenhos, ciente de seu poder e sua capacidade infinita. O peso da tiara em sua cabeça colocou foco em seus pensamentos, o que lhe conferiu em seguida calma para respirar e desacelerar. Tinha passado por muita coisa até chegar ali, descortinando verdades enevoadas sobre a Montanha e seu próprio passado.

Agora ela apenas pairava no ar. Aquela diminuta chama dentro de seu tórax, de seu coração pulsante, era refletida pelo brilho de seus olhos enquanto ela observava o vazio se estender por todas as direções. Algo ondulou mais a frente, curioso. Essa coisa, esse algo queria se aproximar, parecia. Wanda gesticulou curtos e coordenados movimentos, invocando magia pelos seus dedos. Círculos traçaram-se no ar, ondas de energia vermelha que teriam destruído tudo o que tocassem, porém que atingiram o nada.

Depois, mais ondulações. Uma voz macia, elegante. Não existia uma criatura ou entidade perto da feiticeira, pois do contrário ela sentiria, mas... Aquela voz ressoou bem atrás de seu ouvido.

— Ah, querida. Eu lhe esperava há tanto tempo. — Saudou-a com carinho, uma voz terna e que parecia ter tido tempo o suficiente para treinar a dicção numa língua que não lhe pertencia. Falava no idioma materno de Wanda, que em resposta somente lançou mais feitiços e energias psiônicas ao seu redor.

Não atingiu ninguém. Veio logo um som de desaprovação:

Tsc,

tsc,

tsc.

Cada estalo numa direção diferente. Mais perto, mais longe. O dono da voz estava desapontado.

VaziosOnde histórias criam vida. Descubra agora