Wanda, Agatha e Ebony jaziam parados ao redor de um círculo de cogumelos na zona rural do interior de Sokovia, já prestes a ser banhada pela luz do entardecer. Agatha reclamou por minutos inteiros antes de chegar ali, com o gato preto acompanhando seus protestos, mas nenhum deles tinha uma ideia melhor do que a de Wanda.
E também não tinham aquela dose de imprudência tão característica dos Maximoff, principalmente de Pietro.
Mesmo prestes a executar seu plano, a bruxa idosa não se cansava de lhe jogar mais avisos:
— Você está ciente de que isso é precisamente uma coisa que não se deve fazer. Nunca. É um Círculo de Fadas!
— Tecnicamente, já li em outros lugares chamarem de Círculo de Bruxas e Círculo de Dragão. Eu tenho um plano, Agatha.— Wanda sorriu. — E uma adaga de ferro, se for necessário..
Ebony soltou um longo som estralado com sua língua felina, todo desdenhoso.
— Nem toda fada se fere com ferro, bruxa boba.
— Mas muitas sim.
— Eu não posso lhe acompanhar. — Agatha suspirou. — Já tive minha cota de infortúnios com fadas e tenho sorte de apenas ser amaldiçoada a não poder comer cogumelos.
— Eu sei. Não esperava que viesse comigo.
— E nem toda fada gosta de gatos, Wan. É mais seguro que eu fique aqui.
— Bom, infelizmente nem todo humano gosta de gatos também.
— Você tem um ponto. Eu até iria argumentar que fadas são mais ameaçadoras porque podem nos prender em seu reino até a morte por inanição, mas... Sabemos que humanos também conseguem fazer isso com gatinhos.
— Uau. — Wanda parou antes de colocar os pés dentro do círculo, suas roupas vermelhas esvoaçando com o vento insistente e fresco. Em outra medida de segurança, a feiticeira trajava sua tiara, presente de seu pai. Lhe daria um foco a mais para escapar de qualquer ilusão ou tentativa de engodo dos feéricos. — Essa conversa ficou sombria muito rápido. Não se preocupe, Ebony. Nenhuma fada ou humano vai colocar as mãos em você. Não vou deixar. Mas... Para não correr nenhum risco, não exijo que venha comigo. Até já, gato tonto.
— Por todas as trevas, que seja mesmo um "até já".
Wanda riu e colocou os dois pés dentro do círculo de cogumelos.
Mais de um livro e relato diziam que isso não era uma boa ideia, mas Wanda não tinha tempo suficiente para tentar estreitar laços com feéricos e enfrentar Chthon. O correr dos anos, décadas e milênios era um conceito diferente para as fadas e até uma amizade realmente acontecer... Talvez já estivesse indo para sua vida seguinte. Tomou medidas de prevenção, como a adaga de ferro e a tiara, e contava também com boa dose de seus poderes pulsantes e caóticos para escapar caso tudo fosse pelos ares.
Mas isso não a impedia de se encantar com o momento.
Assim que a sola de seus sapatos alcançaram a grama ao centro do círculo, o mundo tingiu-se com outra tonalidade de cor. Agatha e Ebony sumiram. Havia só o verde, o céu do final da tarde e névoa.
De súbito, muita névoa.
Ondas e mais ondas de brumas aproximaram-se da feiticeira. Por se tratar do ocaso, era mais fácil para Wanda voltar para o mundo dos homens. O véu entre as realidades jazia mais fino. Ela permaneceu imóvel, cercada por espesso e gélido nevoeiro, até que ouviu o som indistinto de conversas esparsas. Um idioma que não entendia. Sua pele arrepiou-se em seu pescoço quando uma figura ganhou contornos entre a névoa, uma imagem longe das fadas de histórias infantis.
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Vazios
FanfictionHá um vazio latente em Wanda. Um vazio que cresce e devora, sussurra e rosna. Grande, feroz. Vermelho e sanguinário. Um vazio que era apenas uma pequena flama, mas que ao longo dos anos, incendiou-se feito uma tormenta de fogo. Wanda o sente. Sente...