LXVIII

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 05/03/2017

— Você é meio idiota, sabe disso?

Wanda sabia, mas continuou mexendo na mochila sem ligar para o gato preto que havia acabado de aparecer na cama. Ebony vinha visitando-a de tempos em tempos desde Varsóvia, soltando palavras ácidas em meio a ensinamentos de transfiguração. Dissera que era mais fácil do que ficar manipulando a mente das pessoas ao seu redor e Wanda tinha que concordar que era bem menos exaustivo. A única questão é que não conseguia dominar completamente essa arte, portanto somente foi capaz de mudar a cor de um de seus olhos e as pontas de seu cabelos, que estavam ligeiramente mais ruivos em homenagem a sua amiga russa. Não esperava encontrar ninguém ao longo do caminho, porém essas modificações pontuais já poderiam ajudá-la em caso de imprevistos envolvendo estranhos ou a polícia - eram feitiços que acionava de forma rápida quando necessário. Em caso de perigo real, contava com seus poderes escarlates e um feitiço ou outro que praticou durante a viagem. Coisa pouca e praticamente inofensiva, mas era o que podia fazer nas leituras interrompidas do livro roxo de Agatha Harkness.

— Podia me ensinar a conjurar dinheiro. —Ela estalou a língua. — Facilitaria muito.

— Você se lembra que parte da magia é transmutação, não? Transformar coisas em outras, ilusões. É possível picotar papel e torná-lo dinheiro, nem seria mais difícil que alterar a própria aparência. Agora, conjurar e criar coisas do vazio, assim como destruir, é mexer com forças complexas, menina, forças com quais não vai querer lidar de maneira leviana. Aqueles que o fazem geralmente pagam o preço.

— Bom, eu desintegrei um helicóptero, uma vez. E acho que conjurar grana não vai ferir leis do Universo, vida e morte, etc.

— Por favor, não queira provar que estou errado. Eu não estou.

Wanda lhe lançou um olhar de esguelha e colocou o livro na mochila. Meditou sobre a cor púrpura por um segundo. Lucja, a Phuri Daj daquele clã de roms, havia dito sobre a Romênia, Bucareste, sobre as lojas de bruxa - e pelo o que Ameena disse antes, lojas de bruxas são sinalizadas com a cor roxa. Ela ligou uma coisa a outra e concluiu que esse seria lugar para encontrar a casa de sua mestra, porém faria desvio antes só por curiosidade. O fato de Ebony aparecer e soltar deboches apenas fez com que endosasse seu argumento de que de fato deveria ir a Bucareste, ainda que justamente seguisse a direção contrária. Quando Wanda acionava o feitiço Vegvisir em seu braço, a imagem da runa estava quase se apagando - porém não indicava o lugar no mapa que era o atual destino de Wanda Maximoff: Montanha Wundagore.

Estava agora no vilarejo próximo a Novi Grad, no mesmo chalé abandonado de Yelena Belova, e planejava ir até a Wundagore para conferir com os próprios olhos o que afinal acontecia lá. A viagem era longa demais para ser concluída à pé, então Wanda somente parou ali para descansar e se preparar. Depois se teletransportaria ao sopé da Montanha, imagem que tinha nítida em sua cabeça. Salvaria Natalya. Descobriria como era a filha de Magneto.

Era o plano.

Não chegou a cumprimentar Piotr ou a ir ao cemitério para ver o irmão. Seriam tarefas que faria depois, com mais tempo e com certeza mais cerimônia. Agora só jogava suprimentos na mochila e se preparava para a viagem.

— Ah. — Ela disse, conferindo as botas grossas. Tinha convencido algumas pessoas lhe darem coisas com seus poderes telepáticos em lojas, então ela aproveitou a oportunidade para pegar roupas novas e resistentes. — Ameena mandou falar que a dívida dela está paga.

— Coitada. — Ebony riu. — Me deve ainda dois vidas de favores. Te ajudar seria o mínimo que ela poderia fazer.

— O que aconteceu? Pra ela te dever... Duas vidas de favores?

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