LXXXIV

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Bucky Barnes mal fazia barulho ao andar pelo piso do convés, seu corpo curvado e um rifle ocupando suas duas mãos. A missão era furtiva, de modo que todas as ações do soldado eram focadas em manter o silêncio ou... Neutralizar quem o quebrasse. Naquele instante, porém, sua vontade era justamente de eliminar seus colegas de equipe, Anna Marie e Remy LeBeau. Talvez eliminar não fosse a palavra certa, já que sua arma estava equipada com munição não-letal. De qualquer modo, desejava apenas mais silêncio da parte deles. O vento e o mar não encobriam todos os barulhos que faziam, por exemplo quando xingavam um ao outro por escorregarem.

Bucky admitia que tinha padrões elevados por conta de seu próprio desempenho, o de Natasha e Belova e, na verdade, os dois mutantes até podiam ser espertos, mas não conseguiam manter os passos leves ou a respiração mais controlada. Se não fosse pela ação de Ororo Munroe, que trouxera uma névoa cinza e espessa ao mar com seus poderes, eles não teriam nem conseguido descer da aeronave para a embarcação sem serem vistos.

Ele fez sinal para que os dois parassem, suas costas coladas na lateral de um container vermelho e coberto por uma grande lona bege. Por ser um navio cargueiro, existiam pilhas de contêineres vermelhos, azuis, cinzas... A maioria fixada por grossos cabos, para que as ondas não os engolissem, e todos enfileirados a fim de manter a organização no navio. Bucky notou que não existiam muitos contêineres, no entanto. Menos do que a capacidade daquele navio, pois o trio conseguia andar com facilidade da proa para os fundos, em direção ao passadiço - onde o capitão do navio comandava. Evitavam pegar as laterais, seja a bombordo ou estibordo, já que o resto da tripulação transitava por aquelas áreas, passarelas e escadarias. Andar pelo meio, apesar de arriscado, era uma boa opção, pois seria difícil enxergá-los com aquela névoa e entre a carga. Bucky sentiu que seria melhor que algum deles tivesse servido na Marinha ao invés do Exército, para que pudessem entender melhor da estrutura do navio e se locomover com mais destreza. Nem mesmo Sam poderia ajudar, já que viera da Aeronáutica.

Ele olhou para a tela da braçadeira em seu antebraço direito. Foi um equipamento providenciado por Wakanda, que servia de comunicação entre os grupos e Outer Heaven. Steve, Scott e Rooskaya tinham braçadeiras iguais, enquanto o restante dispunha de modelos menores. Shuri também incluiu o que pôde de informações sobre a missão ali, como a planta básica do modelo dos três navios em questão: 300 metros de comprimento, 48 metros de largura. Treze andares, somando passadiço, porão, dormitórios e maquinário. Bucky sabia que dariam conta de um navio, mas existiam ainda mais dois para neutralizar e Shuri não teve como prever qual deles abrigava as peças dos Sentinelas ou as injeções de cura temporária do gene X.

Era um alívio saber que o grupo de Scott Summers tinha poder o suficiente para derrubar as embarcações restantes, por mais que Bucky não tivesse localizado o terceiro ao descer da aeronave. Talvez fosse apenas névoa demais e por isso não tivesse enxergado.

O rangido do raspar do metal dos contêineres no convés úmido retornou a atenção do soldado ao momento presente, seus olhos apertados para manter o foco ao seu redor. A possibilidade de haver um Sentinela ali dentro arrepiava sua pele e, pior do que isso, era ouvir os gritos distantes da tripulação, falando em seus transceptores de mão. Ventava muito, mas ele fez o possível para distinguir o que falavam através do som do mar quebrando no casco do navio. Remy franziu os cenhos, também se concentrando nas palavras proferidas por um punhado de homens.

— Estão falando francês. — Sussurrou.

— Sim. — O soldado concordou, ainda observando. — E não parecem contentes com a neblina. Estão chamando os outros para entrar. É a última troca de turno antes de atracar no porto de Genosha. A previsão é de no máximo meia hora.

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