XCIV

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Há inúmeras semanas, Wanda tinha visitado a Montanha Wundagore numa ocasião desastrosa e foi mordida por criaturas das sombras. Só saiu viva pela intervenção de Ebony, que lhe trouxe Bucky Barnes atirando balas de prata e mais uma trupe de gatos mágicos. Era uma memória assustadora e, por mais que seu desfecho tenha sido feliz e se desenrolado ainda numa viagem à Bucareste, Wanda não queria contar com a sorte agora. E, na realidade, as coisas de fato estavam diferentes.

Agatha e Wanda adentraram a floresta escura e fria ao sopé da montanha, poucos quilômetros de distância de Novi Grad, a capital de Sokovia. A Feiticeira trajava suas vestes escarlates, uma roupa conjurada por magia e que acentuava seu poder. Com a tiara encaixada em seus cabelos e os olhos luminosos, ela poderia afirmar categoricamente que viera desintegrar uma entidade perversa sem nem hesitar.

Não necessitava mais da moeda para teletransporte. Não tinha mais medo de uma coruja maldita ou de sombras no chão. A floresta não pregaria mais peças para amedrontá-la, como portais, o cantarolar de Ultron ou a canção de ninar que Wanda escutava em seus sonhos. A Lua Cheia cintilava no horizonte, trazendo um brilho pálido para a pele da Feiticeira, da bruxa e também para o pelo do gato preto no chão. Era a proteção feérica.

— A floresta está incomodada com nossa presença. — A idosa declarou, seu rosto muito sério enquanto encarava os troncos e raízes adiante. Já era primavera no hemisfério norte, mas ali parecia ainda transitar entre o outono e o inverno. — Não se separem. Já sinto a magia das fadas, mas não é sábio ser imprudente.

Ebony e Wanda assentiram.

O bichano tinha a capacidade de ir e vir no ar de maneira graciosa e traiçoeira, o que era útil para escapar de possíveis agressores. Caso um combate fosse inevitável, poderia ainda se transfigurar numa criatura imensa, um felino grande e de músculos pesados, assim como a sokoviana testemunhou de relance quando o gato a defendeu no metrô na Romênia. Wanda tinha seus poderes, cada vez mais refinados... e Agatha contava com sua experiência vasta, feitiços antigos. A velha conferiu os pequenos frascos dentro de uma bolsa amarrada em sua cintura, sete recipientes no total: para a ida e a volta dos três, mais Natalya - quando a resgatassem de Chthon. Serviriam como uma troca para o tal sacrifício requisitado para entrar e sair na montanha, de acordo com as informações de Natalya. Assim que Agatha se certificou que estava tudo conforme o esperado, eles se puseram a andar entre os galhos e folhas da tão estranha floresta.

A sensação de ser observada atentamente voltava a arrepiar a pele da Feiticeira. Coisas, seres a acompanhavam de longe, sibilando e sussurrando entre as copas e arbustos. A vigilância constante fazia Wanda desviar seus olhos para a esquerda e para a direita, seus movimentos cautelosos enquanto acompanhava o ritmo da sua mestra. Independente disso, os três avançaram uma boa parte do trajeto, cada vez mais inclinado-se para cima e polvilhado de rochas e musgo da montanha.

Escutou o bater de asas em algum ponto dentro da escuridão. Piados, grunhidos, vozes mortas. Quase a mesma frase que escutara na outra ocasião, embora não estivesse vendo a coruja de olhos opacos e penas de tom de ossos:

"Bruxa"

"Bruxa"

"Bruxa"

"Morta"

"Morta"

"Morta"

Cruzaram com o esqueleto de cervo, ainda vagando sem vida e sem rumo pela floresta. A aura da Feiticeira cintilava, captando lapsos no ambiente. Franziu os cenhos, suor frio escorreu pela sua nuca. Havia algo de errado e o gato preto parecia perceber isso também, pois era possível enxergar, através de um facho do luar, seu pêlo preto inteiro arrepiado.

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