XXXII

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Wanda assistia seu grupo finalizar os preparativos da missão, parada e apática dentro do jato. Tudo passava rápido aos seus olhos vermelhos, pelo fogo interior, pelas lágrimas de nervosismo, enquanto Sam ajeitava seu traje de inverno e conferia o seu discreto e potente para quedas nas costas, resumo da tecnologia wakandana. Deu-lhe tapinhas amigáveis nos ombros antes de conferir outros dispositivos e o comunicador, com a expressão apagada. Steve conversava com Ororo Munroe, que insistiu em ir por mais que T'Challa lhe alertasse a não interferir em assuntos particulares dos até então chamados "Vingadores".

O monarca, é claro, não se sujeitaria a uma missão em solo estrangeiro. O motivo não interessava a coroa, e mesmo que ele os abrigasse em seu país e oferecesse ajuda em equipamentos e serviços de inteligência, não seria pego em plena capital da Áustria com foragidos da lei.

Xavier, porém, não se opôs.

A viagem, para Wanda, era uma experiência extracorpórea, diferente de todas aquelas que vivera. O tempo corria. O tempo arrastava-se. O tempo parecia não optava por demorar horas a chegar até onde Natasha estava ou simplesmente chegar ali de súbito, sem oferecer ar para que a Feiticeira Escarlate soubesse o que fazer.

Ela sentia peso nos ombros e sua respiração era forçada. Os lapsos de tempo agora começavam afetá-la seriamente. Piscava e seus olhos se tornavam vermelhos, não pelo choro. Piscava e parecia ouvir Tchaikovsky, dos treinos de Natalia Romanova.
Lembrou-se de praticar mudras com as mãos, para acalmar-se, e o gesto não passou despercebido por Steve. Sua face permaneceu imóvel, mas seus olhos demonstraram um lampejo de curiosidade. Ela queria contar a ele, contar que Bucky estava bem. Que a chamara de "boneca". Mas o ar estava tão tenso e Steve Rogers tão inquieto que Wanda não se atreveu a relatar algo tão absurdamente adorável. De qualquer modo, ele somente anuiu e anunciou:

— Vinte minutos para pouso. — Não era a primeira nem a terceira vez que ele repetia o cronograma da missão durante as duas longas horas de viagem. Nem o jato mais veloz de Wakanda deixaria a Áustria mais próxima. — Tempestade irá encobrir o jato com uma nuvem espessa, mesmo que a tecnologia defletora nos provida uma camuflagem quase perfeita e a neve ainda nos dê vantagem.

Em seu pulso havia um bracelete feito de metal e sílica fundida. Ele apertou uma combinação de botões e um mapa holográfico surgiu no ar, mostrando cada nível da planta do Museu de História da Arte, no centro de Viena, e um marcador vermelho em um dos largos cômodos no último andar. A imagem então se distanciou para que fosse possível ver os arredores do Museu, onde existiam outros prédios históricos.

— O jato seguirá até a construção ao lado, mas eu e Falcão seremos deixados no topo do Museu. É inverno e seis horas da noite no horário local, fechamento das atividades. É possível que haja alguém nos arredores e vigias, portanto Wanda irá evacuar o lugar. Igual Sokovia, certo?

Ele se referia a como ela utilizara os seus poderes para fazer com que os cidadãos saíssem de suas casas para um lugar seguro, de forma calma, organizada e discreta, mas ela só pode lembrar-se da sensação de gravidade zero e a capital caindo, caindo, caindo.

— Certo, Wan?

— Sim.

O Capitão demorou seus olhos nela, receoso por causa de sua hesitação. Deixou passar. Tinha que confiar que conseguiria fazer o que pedia.

— Essa é uma missão de resgate. Só lutaremos caso a recepção seja hostil e ainda assim o foco é imobilizar. Munição não-letal. Faremos tudo isso no máximo de duas horas. O avião sai, com ou sem a gente. Dúvidas?

— Você poderia repetir pela décima quinta vez? Acho que ainda não ficou claro.

Shuri alargou um sorriso ácido. Sua postura era folgada no banco do jato, equipada e certa do que aconteceria, pois era acostumada a eficácia de seu país. Ela olhou para as próprias mãos como se apreciasse as unhas, mas suas luvas exibiam garras de vibranium.

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