LI

567 58 19
                                    


Bucky não soube reagir durante o jantar quando Sam lhe ofereceu seu segundo hambúrguer. Ele lhe deu sua porção extra de blini em troca. Wanda estranhou aquele instante de súbita e absoluta paz, lançou um olhar interrogativo para o James Barnes, depois para Sam. Como nada falaram, encarou Steve, que a distraiu com algum assunto aleatório sobre artes e como era traiçoeiro desenhar sem referência. Yelena apenas tomava mais um copo de vodka, já que honravam a cultura russa.

E ali comeram uma refeição metade americana, metade soviética e em puro armistício. Estavam seguros, afinal, conversaram inutilidades e fatos banais como se não fossem heróis, como se não fossem foragidos, como se o mundo em que vivessem não estivesse entrando em colapso.

Sam e Steve foram dormir primeiro, pois o último turno de vigília foi deles no trem e seria justo que descansassem primeiro. Não iriam entrar em contato com o rei T'Challa ou Romanoff ainda, esperariam mais um dia. O resto permaneceu acordado pela madrugada. Estavam à mesa na sala de jantar integrada à cozinha, também com janelas altas e móveis de madeira escura. Wanda se ausentou para colocar os pratos na pia, Belova colocou mais um gole de bebida em seu copo.

— Vou sentir falta desse apartamento. É um dos refúgios que mais gosto.

— Por ser uma espiã, eu esperava algo com menos janelas. — Ele se encostou com mais folga na cadeira, embora seus olhos tenham acompanhado a figura de Wanda por mais alguns instantes. Então ele se focou na mulher loira a sua frente. — Mas por ser você, também esperei mais purpurina. Laços. O que quer dizer com "vai sentir falta"?

Ela riu e tomou a vodka.

— Isso não foi feito para ser um lar, Barnes. É impessoal justamente por isso, e... Não dá pra desaparecer se você continua morando no mesmo lugar, sabe? E se pessoas sabem onde você está morando.

— Faz sentido.

Bucky queria dizer que ela não precisava mais se esconder de tal forma tendo aliados como Steve, no entanto se recordou que até mesmo seu amigo era considerado foragido de forças internacionais. Ainda que tivesse recursos como os oferecidos por T'Challa e apoio de muitas outras figuras notáveis, alguém como Yelena Belova teria dificuldades para se entrosar. Inimigos demais. Desconfiança demais. De certa forma, ele se sentia da mesma maneira e não podia culpá-la por querer dar um tempo daquele mundo insano de heróis e poderes. Talvez fosse uma ideia sábia.

Encarou Wanda de longe mais uma vez. Por vezes ele sentia que a Feiticeira poderia escapar-lhe pelos dedos quando estivesse distraído. Por vezes ele sentia que as frases dela soavam como um "adeus". Algo em suas conversas dizia que ela tinha planos próprios, planos que também envolviam desaparecer. Não deveria ter lhe ensinado o truque da moeda.

Belova virou o queixo para trás, viu o que o captara sua atenção. Apenas Wanda lavando a louça com suas mãos magras e pálidas demais.

— Sabe, — Ela passou a ponta do dedo na borda de vidro do copo. — Eu não sei nada sobre encantos e conjuração, mas já vi alguns demônios bem de perto. Pergunte o que ela viu, Barnes. Ela me pareceu bem assustada.

A espiã levantou-se, deixando o copo e levando a garrafa.

— E diga que o quarto de hóspedes está livre pra ela, os meninos hoje vão dormir na sala, no sofá ou nos colchonetes. — Parou por um breve instante, deu um passo para trás. — E nada de fondue, vocês dois.

— O que diabos você e Steve estão com esse fondue?

— Boa noite.

Wanda aproximou-se enxugando as mãos em silêncio, seu rosto um tanto confuso pelas frases sem sentido entre ele e Yelena. Bucky comprimiu os lábios e desviou o olhar, tamborilou os dedos na mesa até perceber que era sua mão de metal. Não sabia exatamente o que significava fondue, mas podia sentir o que era. Não parecia nada puritano.

VaziosOnde histórias criam vida. Descubra agora