LXXV

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Franziu a testa antes de acordar, sem nem saber se tinha acordado de fato. Ouviu um barulho muito ao fundo, música, quase tão distante quanto uma memória ou um sonho. Parecia uma da playlist do iPod de Sam Wilson. Wanda abriu os olhos devagar, sentindo seu ombro ranger de dor. Seus pulsos ainda estavam marcados pelo aperto das mãos do robô, principalmente o braço em que levava a pulseira dada por Shuri. De súbito sentiu falta da amiga, tão forte e inquebrável. Ela sempre sabia o que fazer.

Virou seu rosto, notou que estava na cama do apartamento em Bucareste. Mesmo depois daqueles dias todos ali, ela não tinha dormido no quarto e sim na sala. Com Bucky. O som do nome dele em sua própria cabeça lançou aquela sensação morna e ao mesmo tempo elétrica em seu corpo e ela esticou o braço na cama para ver se ele estava ali, ao seu lado.

Tateou uma almofada felpuda. Uma almofada quentinha e que reclamou.

Inclinou a face e encontrou o gato numa pose largada, a língua pra fora. Ela quis rir, feliz por ele estar bem e por ter soltado um miado incomodado, sonolento. E então soltou um suspiro cansado, olhando para o teto. Fechou as pálpebras mais uma vez.

Estava viva. E todos os outros também estavam. Bucky, Remy, Anna Marie e Ebony.

James Barnes adentrou o quarto, sentou-se na beira da cama. Wanda estreitou os olhos para saber o que estava fazendo, até que o viu trazer um recipiente com água e duas tiras de tecido rasgado. Não tinha percebido que ela havia despertado. Ele molhou uma das tiras, deixando-a úmida, e se precipitou em direção ao ombro ferido da jovem. Ela permitiu que o soldado terminasse seu trabalho de limpar e estancar a ferida em sua pele, sentindo seu coração transbordar a cada toque delicado. E então, quando terminou com um suspiro cansado, Wanda alcançou a mão dele com a sua.

— Oi, James.

As feições dele passaram de surpresa, preocupação e então... Carinho. Tinha olheiras fundas, mas ainda lhe deu um sorriso contido enquanto Wanda se ajeitava nos travesseiros, sentando-se.

— Oi, boneca. Você se safou de uma encrenca.

— É... Pode-se dizer que eu estou sempre encrencada. Mas eu não estou sozinha. — Ela ainda segurava a mão dele e desceu sua atenção para seu tronco. Estava sem camisa e haviam faixas finas em seu torso, também por conta dos ferimentos. Talvez estivesse trocando as faixas assim como tinha feito com ela. Em seu bíceps havia uma quantidade maior de bandagens devido ao tiro de raspão. Foi aí que se lembrou. — Ah, seu braço! Você também foi ferido. Está doendo? Talvez eu possa fazer algo...

Wanda aproximou-se dele, observando com cuidado a pele de seu músculo e a bandagem por cima. Notou que James, por sua vez, encarava seu rosto, seus lábios, e então ela repetiu o gesto. Seus olhos foram atraídos para a boca entreaberta e hesitante dele. Sentiu sua respiração, tão perto. A mão livre de Bucky então segurou seu queixo e a trouxe para si, selando um beijo ávido.

Eletricidade incendiou o interior da Feiticeira Escarlate à medida que os lábios do soldado se encaixavam nos seus e sua língua encontrava a dele. A adrenalina bombeada em seu coração percorria o corpo como se fizesse algo proibido e perigoso, mas a gentileza com qual James a acariciava lhe dava a segurança de que... Bem, ela não exatamente do quê. E talvez não importasse. Mas lhe dava segurança sólida. Seu tórax se derramava sobre o próprio sentimento, tão passional e rubro, e tal cor era absorvida com verdadeira sede pela aura de James Barnes. Ele desenlaçou sua mão da dela e tocou suas costas, trazendo-a mais para perto e de um jeito que ela quase se desequilibrou.

O beijo sofreu uma pausa, Wanda se apoiou com uma mão sobre o peitoral dele e quase bateram o nariz um no outro. Era reconfortante saber que ele sofria tantas palpitações quanto ela, reconfortante e terrível. Bucky segurou seu rosto e a encarou por mais um segundo, acariciando sua bochecha com a lateral do dedão.

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