O humor leve de Wanda Maximoff não passou despercebido pela bruxa ou pelo gato, mas eles não a incomodaram com piadas jocosas ou questionamentos de sua tarde em Bucareste, afinal ela merecia certo descanso depois de tanto sofrimento e depois de tanto esforço na casa de Agatha Harkness. A Feiticeira, por sua vez, agradeceu mentalmente a discrição de seus amigos. Não tinha vergonha de expor seus sentimentos, no entanto ainda era algo novo para Wanda ter aquela sensação morna dentro do peito e ela precisava processar essas emoções sozinha antes de dividi-las com alguém. Na realidade, duvidava que os outros desejassem detalhes sobre seus beijos em James Barnes. Ela voltou para a loja da mestra sorrindo, mas não ficou muito tempo ociosa depois do pôr do sol. Sabia que certas coisas a bruxa preferia fazer a noite e naquela data a lua era particularmente propícia.
— Vamos, menina. — Agatha fechou o grimório da loja. Wanda esperava que depois abrisse as escadarias que levavam à casa, no entanto a mestra a direcionou à porta esquerda, a lua minguante. Nunca tinha ido até o cômodo onde Agatha atendia seus clientes, embora soubesse que era onde exatamente as portas esquerda e direita davam. — Ainda temos muito trabalho a fazer.
— Como o que?
— Você sabe que existe uma perturbação em Wundagore, e sabe que não será nada fácil tirar Natalya de lá. Eu proponho um exercício especial para você, antes que de irmos até a Travessia da Bruxa. Ebony, você fica.
A Feiticeira Escarlate pensou um pouco, acompanhando-a passo por passo pelo corredor escuro. Nem parou para pensar no silêncio do gato preto. Sua mente divagava em outros assuntos. Natalya Maximoff, irmã de Django Maximoff e portanto, tia adotiva de Wanda e Pietro, era uma feiticeira também e tentou ajudar Magda a sair da Montanha Wundagore. Só os gêmeos sobreviveram. Como Magda veio parar em Wundagore, como tantos anos de passaram sem que ela envelhecesse e o porquê o lugar se mostrava perigoso ainda eram questões no ar. Ela também gostaria de saber mais detalhes do motivo Natalya teria voltado até lá, presa agora entre um plano astral da Travessia da Bruxa e o mundo real. Soube pela Phuri Daj que encontrou em Varsóvia, Lucja, que Natalya quis aprisionar algum mal, algo que... Que desejava Wanda, de alguma forma.
Um exercício de magia seria bom para Wanda praticar e poder se defender adequadamente. Entendia que Agatha também queria ir até a Travessia da Bruxa por ser mais seguro. Se não fosse por Ebony, Ameena, Âmbar e James Barnes, ela não teria escapado da floresta ao sopé da Montanha. Existiam criaturas lá, ilusões e portais. Coisas além da razão. Wanda não cometeria o mesmo erro ingênuo de vagar por lá sem estar preparada. Só não esperava que Agatha a levasse até sua sala particular na loja e lá estavam as duas.
O lugar não era grande e a falta de objetos lá dentro era compensada pela decoração. O cômodo iluminava-se por apenas luz de velas, ancoradas em um par de candelabros de pé. Nas quatro paredes haviam espelhos circulares que ocupavam quase a superfície inteira, mais suas molduras de prata. A primeira coisa que a Feiticeira viu ao entrar na sala foi a si mesma pelos espelhos, tingida através dos reflexos das chamas pequenas. Parecia assistir uma sucessão infinita de Wandas, todas escarlates. Ao centro, somente mais duas grandes almofadas de cetim roxo.
Os passos das duas ecoaram pelo ambiente quando se aproximaram do meio. Agatha fez um gesto para que se sentasse e ela obedeceu. Ofereceu antes seu auxílio para ajudar a mestra se sentar também, mas Agatha negou com um gesto vago e despreocupado. Wanda olhou por de trás dos ombros e notou que a porta pela qual tinham vindo se fechou sozinha, do lado de dentro sendo um espelho. Isso a fez cogitar que o espelho da parede oposta era também uma porta, a saída. Agora se encaravam, uma de frente para a outra.
— Wanda, querida. — Sorriu, os vincos de sua face com muitos e muitos anos de idade. — Está muito próxima do estágio final, Rubedo. Um novo momento vem para você, Feiticeira Escarlate. Será bom e será frágil.
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Vazios
FanfictionHá um vazio latente em Wanda. Um vazio que cresce e devora, sussurra e rosna. Grande, feroz. Vermelho e sanguinário. Um vazio que era apenas uma pequena flama, mas que ao longo dos anos, incendiou-se feito uma tormenta de fogo. Wanda o sente. Sente...