C i t r i n i t a s
O amarelo foi uma surpresa para Wanda. Não subestimava a cor e até mesmo apreciava sua alegria, porém não era algo que escolhia vestir com facilidade - embora agora tenha sido um requisito temporário de sua mestra Agatha desde o dia que purificou o frasco e seus pensamentos. Dissera que a etapa de maturação de ideias e a prática do que é correto, onde o equilíbrio do branco começava a se tingir por algo mais do que apenas conhecimento, mais que até mesmo intuição. Era uma voz que se traduzia em todo o seu corpo e ela podia sentir tal luz, que estranhamente vinha de si. Viu que cada vez menos perguntava as coisas para sua mestra, mesmo quando as janelas da loja se tingiam de um novo cenário indicando que precisava atender um cliente sozinha. Não hesitava mais em feitiços, em desafios, nem mesmo na interpretação em métodos divinatórios. E também agora tinha tais etapas da Alquimia repassadas ao seu grimório, o que lhe deu meios para traçar paralelos com seu próprio desenvolvimento.
Ela sabia quem ela era, ou melhor, a pessoa que se tornava - ainda que não houvessem palavras exatas e não houvesse nem mesmo a necessidade de concreta definição. Talvez fosse, enfim, esse o espaço que permitia tudo florescer.
Tinha que admitir que ficou melhor do que imaginava com a blusa de tom mostarda e achou que era sinal auspicioso para aquela manhã, pois havia tirado O Julgamento no tarot, combinado com O Sol. A primeira carta simbolizava consequências e novos ciclos, mas a Feiticeira sentiu um tom mais positivo do que quando tirou A Torre, ainda mais porque O Sol lhe dava todo o brilho dourado de sucesso e proteção. Aquele era bom dia para qualquer que fosse sua tarefa, um dia ideal para enfrentar o labirinto. Agatha concordava. Estava já na fase amarela, agora necessitava de um marco para finalizá-la.
E por isso ela estava do lado de fora da casa, fazendo um belo alongamento antes de entrar no bosque. Ebony deitou-se ali perto, curioso. Depois se aproximou para mexer na bolsa que ela trouxera consigo, a mesma mochila surrada que lhe acompanhara em suas viagens.
— Você parece uma margarida. — Ele lhe disse. — Ou então uma abelha, tipo uma dessas do jardim.
— Lamento em quebrar seu momento de estilista, gatinho. — Wanda tirou um objeto da mochila com suas duas mãos, pegando-o com delicadeza. Era a tiara de metal feita por Erik Lensherr, seu pai, e ela encarou tal presente por um tempo antes de vesti-lo. — Não sei se o vermelho combina muito com o amarelo.
— Não me preocuparia muito com isso. — Agatha veio da varanda, seus braços cruzados. — Voltará a usar a cor rubra em breve.
— Isso é bom. — Ela deu um sorriso tímido à mestra. — Sinto falta.
Houve um instante de silêncio, ouviu somente vento carregando as folhas e flores. Ventava muito naquele dia ensolarado e abelhas zuniam ocasionalmente entre a vegetação, assim como Ebony havia dito. A Feiticeira gostava delas, assim como das libélulas, principalmente as azuis que brincavam nos campos de Sokovia.
— Wanda. — A bruxa a chamou. — Não será a mesma coisa do outro dia. Nunca. Não posso lhe dizer o que vai encontrar no labirinto agora, mas você terá que usar seus conhecimentos e sua intuição para sair dele. Não terá nenhum problema se tiver que voltar.
— Vou voltar, mas dessa vez trarei o artefato comigo. Não estou esperando que não doa, eu só... Bem, você sabe.
— Eu sei. Será maior que isso.
O gato deu um pulo, concordando:
— É, infinita!
— Você é uma boa feiticeira, Wanda. — Agatha sorriu. — E uma excelente pessoa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vazios
FanfictionHá um vazio latente em Wanda. Um vazio que cresce e devora, sussurra e rosna. Grande, feroz. Vermelho e sanguinário. Um vazio que era apenas uma pequena flama, mas que ao longo dos anos, incendiou-se feito uma tormenta de fogo. Wanda o sente. Sente...