IX

1.2K 126 41
                                    


1 8 / 1 2 / 2 0 1 6

— Chá?

A voz súbita de Steve quase a fez pular do assento, desmarcando a página onde estava repousada a sua mão. Ele riu e se desculpou com polidez, já segurando um bule para um par de xícaras de chá. Seu sorriso era tranquilo, daqueles seus despreocupados e de dentes perfeitos, enquanto seus olhos a encaravam de modo atento, meio de soslaio.

— Leitura pesada. – Steve inclinou a cabeça em direção a meia dúzia de livros espalhadas sobre a mesa de ébano, talvez tão grossos quanto a madeira em si. Capa dura, letras em baixo relevo... O bibliotecário afirmara que eram todos antigos, mas tanto pelo estado impecável quanto pela a informação científica ali escrita, era difícil dizer a idade dos exemplares. – Posso ver?

Wanda sorriu ao entregar um deles, silenciosa. Geralmente sabia quando alguém estava se aproximando, principalmente se estava tão perto como Steve, logo ali na outra cadeira. O fato de ter sido pega de surpresa era peculiar, embora não tão incomum. Ela andava confusa. Sabia, porém, que tal distração não era por seus poderes finalmente terem se aquietado...

Era porque a Feiticeira estava focada, seu poder cristalino. Passou as pontas dos dedos nas imagens ali impressas, ou quem sabe pintadas? Céus, cada figura do espaço estava tão perfeita. Tocou uma, duas, as três estrelas do Cinturão de Órion. Em Wakanda eles não chamavam a constelação assim e a história por detrás dela era diferente, mas igualmente interessante.

— Não sabia que gostava de Astronomia. – Ele levantou só uma das sobrancelhas, parando de passar as páginas do livro. – Ou que sabia wakandano.

— Mas o importante é que você sabe que eu gosto de chá. – Wanda riu da expressão dele, em seguida assoprando um pouco da fumaça que subia do líquido quente. – Hm, alecrim?

— Alecrim.

Steve estudou o rosto dela. O olho já perdia o tom arroxeado da pancada e o corte acima da sobrancelha esquerda estava quase que inteiro cicatrizado. Ao menos não estava mais inchado. E ela não estava com olheiras escuras hoje.

Ele sorriu.

— Não pude vê-la antes. – Desviou seu foco brevemente em direção à janela, tão alta quanto o pé direito da biblioteca real. – Vossa Alteza, digo... Majestade e eu fomos até o outro lado da cidade. Precisávamos ir até um laboratório do Estado, conferir um pouco do equipamento. Sairemos de novo no dia vinte.

— Para onde?

— Veneza. – Steve passou a mão na barba curta que deixara crescer nos últimos dias. Muito ocupado. Muito o quê fazer para simplesmente parar um segundo e passar a lâmina no rosto. E a visão de sua postura cansada lhe dava um ar ainda mais sério, mais velho. Wanda começou a estralar os dedos. – Querem montar uma força-tarefa especial para prender quem não concorda com a Lei do Registro. Mata-capas. Gente como nós. Haverá um comitê para decidir se esta organização seria legítima e se usaria o recurso da força bruta. E aqui estamos nós de novo, jogando uns contra os outros.

O coração dela deu um salto para fora do peito.

— Isso pode dar errado de tantas formas...

— Há pessoas que se voluntariam por condições de vida melhor, delas e dos outros. – Afirmou, da forma mais branda que poderia. Ele havia se voluntariado para experimentos. Ela também, em condiçoes completamente adversas e a ideia fora sua. Pietro somente a seguiu, como sempre seguiria. – Outras querem o anonimato para segurança da família. Todos os alunos do Instituto Xavier então podem ir à guerra? Aquelas crianças? E quem decidiria quando e como agiriam? Organizações internacionais corruptas? A SHIELD carregava a HIDRA nas costas e ninguém percebeu até quase ser tarde demais. Eu não consigo ver esse tipo de coisa, Wanda. Stark deu o endereço dele para um bioterrorista e veja o quê...

VaziosOnde histórias criam vida. Descubra agora