Odin

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"Um"

Wanda mal podia acreditar no silêncio da noite. Talvez fosse sua mente aguçada, desperta, talvez fosse algo físico e palpável, mas o que quer que fosse a razão, a quietude imperava no breu com solidez e sobriedade. Já havia acendido e apagado o Menorah, chorado um pouco ao se lembrar de seu irmão; Já havia sido consolada por seus amigos e prometido que estava tudo bem. Eles comeram e riram, sofreram também por não falarem de coisas que ainda doíam por mais que o tempo passasse.

E então, o silêncio. A consciência de sua metade muda. Apenas ruídos da noite, a respiração pesada de Steve no quarto e um suspiro ocasional de Sam na sala.

Ela se perguntava do por quê não dormir, mesmo exausta. Quem sabe fossem questões não resolvidas, clamando seu nome para que permanecesse desperta. Ou somente algum distúrbio de sono, um reflexo comum para depressão. Fez o que era esperado dela: olhou as estrelas, caminhou nos corredores. Foi até um em específico, numa parte erma.

O som da porta automática rasgou a escuridão, bem como os fachos de luz branca. Wanda deu um passo a frente, quase se arrependendo de imediato. Retomou fôlego e coragem, deu outro passo. Bamba entre insegurança e atitude, ela gastou muito de si até estar frente a frente com ele.

— Oi, James. – Cruzou os braços, em seguida os descruzou. Não era como se ele fosse reparar que Wanda agia de maneira estranha, mas o desejo de camuflar seus gestos nervosos ainda lhe perturbava. – Desculpe. Não trouxe nada de Natal. Só soube que gostava de bengalas de açúcar hoje de manhã.

O riso dela foi fraco, depois se desfez.

— Por quê não disse nada antes? Digo, não "dizer"...Mas, você sabe. – Ela deu de ombros. – Steve veio aqui e nada aconteceu. Nenhuma memória, nenhum vislumbre. Eu não entendo... Não entendo se estou enlouquecendo ou se você me mostrou algo, James.

Apesar de não ser uma surpresa que ele nada falasse, Wanda não pode deixar de ficar desapontada. Ela ainda não entendia exatamente a razão de ter visto estilhaços de lembranças ou como isso exatamente acontecia, embora soubesse que tanto a visão de Natasha quanto de Steve vieram através de lascas de pensamentos.

O rosto dele ainda estava impassível, quase como esculpido em mármore. Havia uma mecha pequena de cabelo perto de seus olhos fechados e Wanda teve o impulso de afastá-la. Então recolheu a mão suspensa no ar, sabendo que aquilo era tolice e que havia uma câmara de vidro os separando.

Com um suspiro, ela se afastou e foi se sentar numa cadeira confortável ali perto, com costas altas e rodinhas silenciosas nos pés.

— Não o culpo se não quiser falar comigo. Nem eu sei se sou boa companhia.

Ela se lembrou do que dissera para Shuri, de como os olhos dela e de T'Challa se arregalaram naquele momento.

"Tempestade. Eu vejo tempestade."

Aquilo pareceu mais do que uma ameaça, pareceu uma promessa ou um mau presságio, e naquele mesmo instante Wanda sentiu-se a bruxa que todos falavam. Encolheu-se na cadeira, cruzando os braços outra vez.

— Eu não sei o porquê disse aquilo. Eu realmente não sei. – Segurou as têmporas com as mãos, embargando a voz. – Só saiu da minha boca e eu não sei a razão, assim como não sei se aquilo que você mostrou é real ou se... Ou se... Se estou ficando louca. Se sou louca.

O rugido das máquinas ressoava fraco como uma pulsação, enquanto névoa de nitrogênio acumulava-se perto da câmara criogênica. Junto à este som, vinham os bipes dos painéis de sílica com gráficos coloridos.

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