LXXII

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Enquanto o bolo assava, James seguiu as instruções de Ebony para preparar coquetéis que soltavam fumaça sem gelo seco e, embora o gato jurasse pelas próprias orelhas que não se tratavam de poções, o soldado teve lá suas dúvidas. Não era nada forte ou puro como vodka, mas era saboroso e o suficiente para três pessoas. Wanda escolheu músicas de fundo para tocar - músicas que Bucky reconheceu como sendo dos anos 80, preferência de Pietro - e ela se enchia de doces e raspava um pouco da massa do bolo que sobrara na vasilha com uma colher, sujando o rosto. Eles contaram piadas uns para os outros, Remy por vezes incorporava o estereótipo de chef francês e dava dicas de furtos igual um profissional lecionava culinária num programa de televisão. Gambit, ao contrário do que James pensava, de fato cumpriu sua palavra e preparou uma sobremesa decente - um red velvet, admitindo que teve ajuda do gato para invocar os ingredientes necessários.

Já era escuro quando afinal puseram o bolo na bancada. Haviam consumido metade da bebida jogando cartas com o baralho de Remy, que curiosamente fez uma boa dupla com Bucky para vencer Ebony e Wanda. Bucky ainda não confiava nele, é claro que não, pois viu de primeira mão as jogadas duvidosas dele e suas cartas marcadas que confundiam até mesmo a telepata. De qualquer maneira, foi bom perceber também que suas trapaças - ao menos naquele momento - era inócuas.

A música agora era só um som muito distante, os balões começaram a estourar sozinhos e era o fim da festa.

— Droga, — Bucky revirou as gavetas. — Não tem fósforo. Nem isqueiro.

— Eu poderia acender.

Remy deu um passo à frente, mas a memória dele explodindo cartas e chaves fez o soldado erguer a mão num gesto de "pare".

— Não, não. Não confio nesses seus poderes. Vai detonar o apartamento.

Wanda estava de frente para o bolo e sacudiu o rosto brevemente. Sem um único movimento seu, as velas do bolo de repente acenderam-se sozinhas. Ela não quis vinte e três velas para assoprar, pois não era só ela que fazia aniversário naquele dia. James entendeu o que a Feiticeira quis dizer com aquilo, mas não tinha o dobro de velas guardadas nos armários para completar com a idade que Pietro faria nesta mesma data. A solução foi colocar duas velas, uma para ela e uma para ele. Ele só não soube exatamente o porquê ela tinha escolhido a vela vermelha e a outra azul, ou melhor, entendia apenas vagamente.

Eles cantaram "Parabéns" de forma desajeitada, acanhada. James Barnes amava aniversários e comemorações num geral quando era mais novo, no entanto sabia que aquela experiência era agridoce para Wanda. Um ano a mais para ela, um ano mais distante que seu irmão. Sorria e derramava lágrimas silenciosas, somente a luz das duas velas banhando seu rosto.

— Faça um pedido, Wanda! — O gato miou.

Ela segurou seus cabelos para inclinar-se pra frente e assoprou o fogo. Se fez escuridão de novo.

* * *

Bucky comia sua própria fatia de bolo muito a contragosto, sem confessar que o maldito francês era um bom confeiteiro. Deu mais uma garfada com raiva e pôs mais um naco na boca, quase fechando os olhos. Bufou com raiva e mastigou com mais força do que seria necessário, sentado no sofá. Wanda, ao seu lado, havia dito que comera demais para uma só noite e Remy tentava convencê-la a pegar mais um pedaço. Ela, no entanto, parecia estar com sono demais para cair na conversa dele. Ninguém além de e Bucky parecia notar que Ebony comia o resto no prato da Feiticeira.

Foi neste instante que ouviu-se um toque distante e insistente. Um toque quase como de telefone. Nenhum deles se moveu.

— Meu celular tá aqui. — Remy mostrou. — Vocês não vão atender?

VaziosOnde histórias criam vida. Descubra agora